Pré-candidato do PCdoB em Goiânia elogia Caiado e defende diálogo
Pré-candidato do PCdoB fala em projeto que possa evitar nova ascenção da extrema-direita
Pré-candidato do PCdoB ao Paço Municipal em 2024, o ex-vereador de Goiânia e ex-deputado estadual Fábio Tokarski é pragmático ao falar sobre o projeto de seu partido para as próximas eleições e diante de uma extrema-direita ainda viva no processo eleitoral defende diálogo com todos os setores políticos e sociais que “defendam a democracia”.
Por isso, estabelece um limite a um projeto que deverá “repactuar a nação”. Qual é? “Aqueles que defendem a democracia de um lado e os que defendem o 8 de janeiro do outro”, salienta. Nesse sentido, elogia os esforços do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) em seus posicionamentos firmes em favor do regime democrático de direito seja com sua postura pró-ciência durante a pandemia ou mesmo na condenação dos atos antidemocráticos que macularam o começo de 2023.
Não significa, porém, que o PCdoB irá se aliançar a Caiado num projeto para 2024. O governador tanto fala que sempre combateu as esquerdas, mas na nova configuração da política brasileira, Fábio defende que o tempo se encarregue de estabelecer os novos acordos. As convenções acontecem apenas durante o primeiro semestre do ano que vem e muita coisa irá acontecer até lá.
Dentro do próprio campo progressista o cenário não está definido. Na Federação Brasil da Esperança composta pelo PCdoB, PV e PT há outras pré-candidaturas em curso e daqui para abril as definições deverão ficar mais claras. Nesse sentido, Tokarski elogia a deputada federal Adriana Accorsi, o deputado estadual Mauro Rubem e o ex-reitor da Universidade Federal de Goiás, Edward Madureira. “Antes de definirmos um nome, é essencial estabelecermos um projeto, um plano de ideias para Goiânia”, salienta.
Leia a entrevista com o pré-candidato ao Paço Municipal em 2024, pelo PCdoB, Fábio Tokarski
Domingos Ketelbey: Qual o fator motivador para o lançamento da sua pré-candidatura ao Paço Municipal?
Fábio Tokarski: Nós estamos lançando a pré-candidatura que tem propostas para Goiânia. Consideramos que para a cidade avançar é preciso unir forças e em frente ampla. Cultivamos na minha trajetória de sempre se relacionar com as diferentes forças políticas. A vontade de apresentar essa candidatura parte dessa premissa de entender a cidade e compreender que Goiânia é uma cidade rica e não é razoável que camadas vivam com uma renda tão inferior. As desigualdades são muito grandes e temos de repensar os caminhos da cidade.
O senhor fala de entender a cidade. Qual seria a plataforma de campanha do seu projeto?
Fábio Tokarski: Ainda não há uma plataforma de campanha formada. É uma pré-candidatura que foi formada há poucos dias. Quem conhece outras cidades e conhece Goiânia sabe que não podemos alargar as ruas. Na capital, várias praças estão sendo destruídas para se transformarem em estacionamentos. É uma solução preocupante e não é esse o caminho. É preciso repensar e dar soluções a problemas que não são resolvidos de uma semana para outra. Praticamente todas as cidades com mais de um milhão de habitantes tem metrô. Precisamos falar de medidas que vão dar segurança, conforto e rapidez no trânsito e transporte público. Goiânia é uma das cidades que mais tem veículos de transporte individual no Brasil.
Você pontuou que é necessário um debate em frente ampla. O presidente Lula tem conversado com Republicanos e Progressistas, que hoje estão mais à centro-direita do espectro político. É interesse do PCdoB o diálogo com essas forças?
Fábio Tokarski: O Brasil hoje está cindido e entendo que temos que repactuar a nação, não só Goiânia. Para repactuar a nação há um limite. Qual é? Aqueles que defendem a democracia de um lado e os que defenderam o 8 de janeiro. O golpe, a ditadura. Esse é o limite do diálogo. Vejo com nitidez no oito de janeiro, o primeiro governador a se colocar a disposição a fazer a resistência foi o governador Ronaldo Caiado, o que é elogiável e deve ser objeto de reconhecimento. A postura durante a pandemia também é um divisor de água. Os negacionistas e os que negam a ciência estão contra vida. Proponho uma linha de diálogo nesse sentido. O PCdoB foi o proponente dessa frente ampla em torno do Lula. Quando todo mundo, por exemplo, criticava o Geraldo Alckmin como vice do Lula, nosso partido nacionalmente defendeu essa conjuntura. Entendemos que devemos repactuar a nação. É no sentido de uma amplitude maior do processo.
A polarização nacional então pode pautar o debate municipal?
Fábio Tokarski: Essa eleição terá o condão da nacionalização do processo. A depender do processo das eleições, a extrema-direita será fortalecida ou será isolada de vez. A vejo ainda muito forte, mas ela tem sido isolada com tudo que veio a tona: o golpismo em curso, privatização irresponsável, negação da pandemia. O Brasil ainda se encontra num momento de tensão. Há nove meses ocorria uma tentativa de golpe de estado no 8 de janeiro. Isso tá tudo recente. Sequer foram elucidados os financiamentos dos atos. O STF tem cumprido um papel legítimo e esclarecedor da sociedade. Daqui até o processo eleitoral, muita coisa virá a tona e vai esclarecer o posicionamento de diversas forças políticas. Creio que aquelas que querem o desenvolvimento da democracia devem se juntar.
Há duas respostas atrás, o senhor elogiou o governador Ronaldo Caiado. Isso significa que um diálogo para discutir projetos pode ser estabelecido no futuro?
Fábio Tokarski: Eu estive na Assembleia Legislativa no lançamento do PAC e vi um conjunto de investimentos que o Governo Lula vai promover no próximo período em Goiás e o governador lá estava. O Brasil precisa entrar numa etapa superior de gestão. Eleição é uma coisa, gestão é outra. As pessoas foram eleitas para governar. O presidente Lula tem dado exemplo e o governador Ronaldo Caiado também tem cumprido seu rito institucional e republicano que merece respeito. Daí a isso se tornar uma relação política e de projetos em conjunto, o tempo vai dizer. Nós vamos apresentar nosso projeto e eu pretendo fazer o diagnóstico dessa realidade mais aprofundada, botar uma lupa na realidade de Goiânia. Temos um contexto em movimento. A realidade muda rapidamente. Entendo que o Brasil está retomando o desenvolvimento. Os atores que hoje apoiam a retomada do desenvolvimento e da democracia como vão se comportar ao longo desse final de ano e do inicio do ano que vem? Essa cena vai ser determinada por volta de maio e junho do ano que vem. Do ponto de vista da sucessão das cidades as convenções vão acontecer apenas no dia 20 de julho.
A própria Federação tem outros nomes. Como vê essa ‘disputa interna’?
Fábio Tokarski: São excelentes nomes. Eu tenho reconhecimento por todos. O professor Edward foi reitor por três mandatos na UFG. Eu sou professor aposentado da UFG e toda a comunidade universitária reconhece nele um homem de diálogo e progressista. Da mesma forma, o deputado Mauro Rubem. Tem uma trajetória de luta e combativa. Também, a delegada e deputada Adriana Accorsi. Ela inclusive, já recebeu nosso apoio do PCdoB por duas vezes. Não só de forma institucional mas com militância. Os três petistas tem diferenças entre eles em relação a perfil político e de atividade, mas há o reconhecimento que todos lutam pelo desenvolvimento do país.
E como fica esses projetos que podem aparecer dentro desses partidos que fazem parte da base de apoio a Lula?
Fábio Tokarski: Buscamos no PCdoB atuar mais em frente ampla. Entendemos que para ganhar da extrema-direita em Goiânia, temos de ter a mais ampla união possível e esse diálogo dentro da Federação que é uma grande conquista. O PT governa o país, o PCdoB tem um ministério na gestão federal e o PV tem uma larga história e é uma força legítima nesse projeto. Temos de dialogar de forma mais ampla. Não só com setores partidários, como outras classes institucionais: sindicatos de trabalhadores, patronais, movimentos sindicais. A política foi muito demonizada ao longo dos últimos anos. Precisamos unir em torno de um projeto e a nossa pretensão é apresentar para a Federação e outras forças políticas um diagnóstico de Goiânia.
Há algum cronograma para a Federação bater o martelo em relação aos projetos?
Fábio Tokarski: Essa questão não tá dada. Participo da Federação Nacional da Federação. Temos tratado e afirmado que é preciso ter um projeto equânime e igualitário que represente o conjunto das forças políticas. Até aqui já se avançou em algumas decisões: por exemplo, em São Paulo a Federação já declarou apoio ao candidato de outra federação que é o deputado federal Guilherme Boulos. Há 26 cidades que a Federação tem interesse em participar. O PT tem candidatos em 16. O PCdoB tem 2. É uma solução nacional que vai além da realidade local. Mas eu costumo dizer que antes de definir um nome, precisamos dar resposta a um programa que a cidade pede. O nome será uma consequência deste processo.