Fux deu o toco em Bolsonaro: presidente que fale sozinho
Relação entre Judiciário e Governo Federal fica mais tensa e Bolsonaro sequer cogita pegar leve em prol da institucionalidade
Luiz Fux disse que não quer mais conversa com Jair Bolsonaro. Demorou. Mas antes tarde do que mais tarde ainda. Ou quiçá nunca. Impossível dialogar com quem só quer agredir e que tem a maloqueiragem institucional como método. Que o presidente arque agora com as consequências de todas indisposições que criou com os togados brasileiros.
Dentre todas as virtudes da espécie humana, a capacidade de produzir entendimentos por meio do diálogo é a maior de todas. Foi devido a essa nobre característica que passamos a nos matar menos.
Mas para que um diálogo seja estabelecido são necessários alguns pressupostos. A confiança no interlocutor é o primeiro deles. Você não abre diálogo com quem não confia. Como sentar para conversar com alguém que pode a qualquer momento, sei lá, levantar e lhe dar uma facada? Impossível. Sem confiança não há diálogo.
E a real precisa ser dita: Bolsonaro não é digno de confiança. O que ele diz na sua frente, diz o oposto no infame cercadinho. Parece biruta de aeroporto. Ele faz tratos que não cumpre. Trai aliados com a mesma naturalidade que troca de camisa. Distribui ofensas gratuitas. Ameaça a democracia com golpe diariamente.
O que o presidente até agora não entendeu é que brigar com togados nunca é boa ideia. Principalmente quando se está em uma situação de fragilidade como a que Bolsonaro se encontra. O capital anda insatisfeito com o cara que prometeu horrores e hoje quer dar calote em precatórios e furar o teto de gastos para garantir a reeleição. Sua rejeição bate recordes nas pesquisas de opinião. O Centrão chega na casa de Bolsonaro, tira a camiseta, abre a geladeira, pega cerveja e tira o controle remoto da mão do presidente que aceita tudo quietinho. Ele está nas mãos dos caras. Com apoio exclusivo dos ruminantes de sempre, treta com o Judiciário é tudo que ele não precisa.
Ele que aguarde as sentenças que incontornavelmente virão. A Justiça tem seu tempo. E Bolsonaro tem muito a perder.
@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Marcos Corrêa/PR