General demitido reúne Alto Comando e não deixa claro motivo da decisão de Lula
Arruda ainda afirmou que, na sexta, não chegou a ser questionado pelo presidente sobre os motivos que poderia ter levado à sua demissão
(Por Cézar Feitosa, Victoria Azevedo, Catia Seabra e Idiana Tomazelli, da Folhapress) O comandante do Exército, Júlio César de Arruda, convocou reunião neste sábado (21) com o Alto Comando da Força para confirmar ao generalato a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de demiti-lo menos de um mês após assumir o cargo.
Três generais que participaram da reunião virtual afirmaram à Folha de S.Paulo que Arruda não deixou claro qual teria sido a principal motivação para sua demissão.
Ele disse, segundo os relatos, que, na sexta-feira (20), passou horas junto com Lula em reunião que foi considerada produtiva sobre investimentos em projetos estratégicos na área da defesa.
Arruda ainda afirmou que, na sexta, não chegou a ser questionado pelo presidente sobre os motivos que poderia ter levado à sua demissão. Ele atribuiu a decisão às críticas que o Exército tem recebido por uma suposta leniência com atos golpistas, que culminaram com o ataque às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.
A Folha de S.Paulo apurou, no entanto, que o principal desconforto de Lula se deu com a notícia de que o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seria investigado por movimentações suspeitas feitas a pedido do mandatário.
O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo em setembro. A Polícia Federal encontrou no telefone do principal ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) mensagens que levantaram suspeitas de investigadores sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República.
Conversas por escrito, fotos e áudios trocados por Cid com outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro.
Segundo pessoas próximas a Lula, o presidente teria ficado irritado com o fato de Cid ter sido escolhido para comandar um batalhão do Exército em Goiânia, como mostrou a Folha de S.Paulo.
Arruda, segundo fontes do Palácio, havia se recusado a exonerar Cid do cargo para o qual foi colocado ainda no fim de 2022, quando o general Freire Gomes comandava a Força.
Na noite de sexta-feira, após a reportagem do Metrópoles, Lula teria pedido que o tenente-coronel fosse exonerado. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, chegou a se reunir com Arruda para discutir a situação.
Diante da resistência, Arruda acabou demitido. O general Tomás Paiva, escolhido para assumir o comando do Exército, embarcou rumo a Brasília na tarde deste sábado para se reunir com Múcio.
Generais ouvidos pela Folha de S.Paulo afirmaram que a demissão foi uma surpresa para o Alto Comando do Exército, já que, apesar das insatisfações verbalizadas por Lula após o 8 de janeiro, havia uma impressão de que a crise havia sido revertida por Múcio e os comandantes militares.
Na quarta-feira (18), Arruda havia promovido uma reunião com o Alto Comando da Força para discutir a atual situação do Exército. Foi o primeiro encontro entre todos os generais quatro estrelas após os ataques de 8 de janeiro.
Na conversa, o comandante falou sobre a importância de manter a hierarquia, a disciplina e o controle das tropas. Ele disse que há cobranças para que as Forças Armadas sejam despolitizadas.
Na reunião, a maioria dos generais afirmou que não há politização do Exército, que as tropas seguem controladas e que militares da reserva mancharam a imagem da Força com declarações públicas em tom golpista e contra Lula.
Segundo relatos de generais que participaram da reunião, foi repassada também a ordem para que militares que tivessem participado dos atos de 8 de janeiro fossem identificados e punidos.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, tratava-se de um esforço dos comandos das Forças Armadas para mostrar ao Palácio do Planalto que não haveria complacência com o golpismo entre os militares, no que foi chamado de fim do “precedente Pazuello”.