Governo Bolsonaro corta 94% do investimento em atletas militares
Esse é o menor aporte previsto desde o lançamento do Programa Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR), em 2008
O investimento do governo federal em verbas de infraestrutura e viagens destinada aos atletas militares despencou de R$ 10 milhões, em 2019, para R$ 600 mil em 2020, um decréscimo de 94% no primeiro orçamento sob a presidência de Jair Bolsonaro.
Esse é o menor aporte previsto desde o lançamento do Programa Atletas de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR), em 2008. A informação foi obtida pela reportagem via Lei de Acesso à Informação.
“Se me dessem mais, eu teria. Não fui eu quem pediu R$ 600 mil”, afirmou o general Jorge Antonio Smicelato, diretor do departamento de Desporto Militar do Ministério da Defesa. “Temos que atender a várias frentes, como a de formação e os programas sociais. Então, eu manobro com o orçamento de R$ 600 mil.”
É recorrente que haja uma redução de verba para o programa nos anos de Jogos Olímpicos, como será em 2020 com a Olimpíada de Tóquio. Isso porque não sai das Forças Armadas o investimento direto para a participação do país nesses eventos, mas sim do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Ainda assim, a queda nessa proporção é inédita.
“Não precisamos de investimentos nos atletas que vão para Tóquio. O COB tem todo o seu planejamento, é até ruim para nós descolarmos atletas para competições antes da Olimpíada”, diz Smicelato. A reportagem também teve acesso aos investimentos do programa desde a sua criação. Ele começou com R$ 1,6 milhão (em valores atualizados), em 2008, e chegou a R$ 6,2 milhões três anos depois.
Para o ano dos Jogos de Londres, 2012, houve redução de 40% em relação ao ano anterior, mas ainda assim o PAAR contou com aporte de R$ 3,7 milhões. De 2015 para 2016, ano dos Jogos do Rio de Janeiro, a queda foi de 65% (de R$ 9,5 milhões para R$ 3,3 milhões).
Esse valor não engloba os gastos com a remuneração dos atletas militares. Via assessoria de imprensa, o Ministério da Defesa informou que estima gastar R$ 28 milhões com a folha salarial (soldo, férias e 13º) em 2020.
O programa também passa por uma redução no seu quadro de atletas. Caiu de 630 participantes, em 2018, para 534 em 2019.
“São militares contratados temporariamente, alguns pedem desligamento, outros não se enquadram no programa e são afastados até por indisciplina”, disse o general, sem citar casos específicos.
Smicelato creditou a queda de orçamento em 2020 a diferentes fatores, como a necessidade de conter gastos com o efetivo das Forças Armadas. “Estamos passando por uma reestruturação do nosso plano de Seguro Social [Reforma da Previdência de militares], com necessidade de reduzir gradualmente o efetivo, e seria incoerente aumentar o número de beneficiados do programa.”
Além disso, apesar de o ciclo olímpico chegar ao seu encerramento em 2020, o ápice dos gastos da Defesa foi em 2019, com a 7ª edição dos Jogos Mundiais Militares, em Wuhan, na China.
Para participar desse evento, foi necessário comprar uniformes, material de treinamento e passagens áreas para uma delegação bem mais numerosa em comparação à que o país terá na Olimpíada de Tóquio (são estimados cerca de 250 atletas no Japão).
A equipe verde e amarela contou com 491 integrantes, entre atletas e comissão técnica, nos Jogos Militares, e conquistou 88 medalhas: 21 ouros, 31 pratas e 36 bronzes. O Brasil terminou em terceiro lugar no quadro geral, atrás de China e Rússia.
O alistamento de atletas para o PAAR é feito de forma voluntária, e o processo de seleção leva em conta os resultados em competições nacionais e internacionais. Os integrantes do programa têm à disposição, além dos benefícios trabalhistas da carreira militar, acesso às instalações esportivas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Apesar do vínculo empregatício, eles não precisam dar expediente e seguem a rotina de treinamentos em seus respectivos clubes -o maior compromisso é representar o país nos Jogos Militares. O salário alcança R$ 3.825, referente ao soldo de terceiro sargento.
A meta do Ministério da Defesa para Tóquio-2020 é repetir o desempenho obtido na Rio-2016. Na última edição da Olimpíada, os militares representaram 31% da delegação brasileira, com 145 atletas classificados, e conquistaram 13 das 19 medalhas (68%) do país.
A boxeadora Bia Ferreira, contratada pela Marinha, e o ginasta Arthur Nory, pela Aeronáutica, receberam o prêmio de melhores atletas de 2019 em cerimônia realizada pelo COB em dezembro.
Neste mês, a Forças Armadas lançaram edital para preencher vagas nos seguintes esportes: atletismo, boxe, judô, natação, pentatlo militar, tiro, vôlei e vôlei de praia.