Governo Lula não aceitará contagens paralelas para respaldar eleição na Venezuela
Brasil espera a divulgação das atas eleitorais para que não haja dúvidas sobre quem venceu
BRASÍLIA (AGÊNCIA O GLOBO) – O Brasil não aceitará uma apuração paralela para reconhecer como presidente da Venezuela o atual líder, Nicolás Maduro, ou o diplomata Edmundo González. O governo brasileiro quer a divulgação dos boletins de urna, com a contagem detalhada dos votos na eleição que ocorreu no país vizinho, no último domingo.
Segundo pessoas próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o relato feito pelo assessor para assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Celso Amorim, sobre a situação no país, é preocupante: a repressão da polícia de Maduro a opositores aumentou, mais pessoas estão morrendo em manifestações e as prisões explodiram.
Na madrugada de segunda-feira, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declarou que Nicolás Maduro foi o vencedor da eleição. A oposição não aceitou o resultado e vários países, incluindo o Brasil, instam Maduro a apresentar as atas eleitorais.
O CNE anunciou que, com 80% das urnas apuradas, Maduro havia sido reeleito com mais de 5,1 milhões de votos (51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos por González. A oposição rebateu, afirmando que seu candidato teria recebido 6 milhões contra apenas 2,7 milhões de votos de Maduro.
No mesmo dia, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro divulgou uma nota em que saudava o “caráter pacífico da jornada eleitoral” e acompanhava com atenção o processo de apuração. O texto defendia a verificação imparcial dos resultados.
“[O governo brasileiro] aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”, dizia a nota.
Nesta quarta-feira, Maduro disse que pediu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) do país, controlado pelo chavismo, para realizar uma auditoria da eleição presidencial de domingo. Foi uma reação aos apelos da oposição à comunidade internacional, que apresentou apurações extraoficiais dando a vitória a González.
Em uma avaliação interna, o governo brasileiro continua com a mesma posição, de que só será possível se pronunciar sobre a eleição depois de detalhado o processo com transparência. Se for chamado, tentará contribuir de alguma forma pela pacificação do país.
Nas palavras de um interlocutor, “já vimos esse filme” em outras eleições na Venezuela. A informação que chegou ao governo Lula é que as atas teriam de ser abertas até um mês depois da eleição.
O Brasil gostaria de se coordenar com México e Colômbia, para seja adota uma posição conjunta que torne mais forte a pressão sobre Maduro. Os três países participaram das negociações para o Acordo de Barbados, fechado no ano passado entre governo e oposição venezuelanos, para assegurar eleições transparentes, livres, justas e aceitas por todos.