Grupo que intermediou vacinas procurou Bolsonaro, mostram mensagens
Diálogos estavam no celular de Luiz Paulo Dominghetti, que se mostrou como representante da empresa
A Davati Medical Supply, empresa que se apresentava como representante da AstraZeneca no Brasil e tentou negociar 400 milhões de doses da vacina contra Covid-19 com o governo federal, procurou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para tratar do negócio diretamente com ele. A informação consta em mensagens do policial Luiz Paulo Dominghetti, que denunciou o suposto pedido de propina na negociação, às quais o Jornal Nacional, da TV Globo teve acesso.
Segundo a reportagem, Dominghetti enviou no dia 13 de março deste ano uma mensagem para Cristiano Alberto Carvalho, representante da Davati no Brasil, na qual afirma que um encontro entre Carvalho e o presidente está sendo viabilizado.
Cristiano teria respondido em áudio dizendo: “Dominghetti, por favor, verifica para mim se o presidente vai atender hoje ou amanhã ou até na terça, porque aí eu preciso mudar o voo e preciso reservar o hotel, ‘tá’ bom? Obrigado.”
Frente a uma resposta inconclusiva de Dominghetti, Cristiano Carvelho cobrou novamente e Dominghetti teria então explicado que seus contatos estavam tentando agendar o encontro de forma extraoficial.
O que eles me falaram é assim, que estão atuando fortemente lá, e agora depende é do presidente. Ele não marca agenda, ele fala assim: ‘Vem aqui agora’, né? Então, assim, de uma forma mais urgente. Agora, para falar com ele em agenda, eles conseguem marcar segunda, terça, quarta, que aí entra na agenda oficial. O que eles estão tentando é que o presidente te receba de forma extraoficial, entendeu? Devido à urgência, é o que eles estão tentando. Agora, a agenda oficial eles conseguem marcar, isso aí… O que eles estão tentando correndo é uma agenda extraoficial.”
Em meio à troca de mensagens que tinha como objetivo marcar o encontro com Bolsonaro, Cristiano Carvalho menciona o reverendo Amilton Gomes de Paula. Ele é da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários), que apesar do nome, é uma organização privada, e seria o elo entre a Davati e o governo federal.
“Dominghetti, agora nós precisamos aí… O reverendo está falando que está marcando um café da manhã com o presidente amanhã, às 10h, 9h, sei lá, que vai ter um café com os líderes religiosos e a gente vai entrar no vácuo, ‘tá’? Agora tem que fazê-lo confirmar isso aí para a gente colocar uma pulguinha atrás da orelha do presidente, ‘tá’?”, diz o representante da Davati.
No fim daquele mesmo dia, Carvalho voltou a falar com Dominghetti, desta vez reclamando por não ter conseguido encontrar com Bolsonaro. “Reverendo me fez ficar aqui e até agora não confirmou o café da manhã com o presidente”.
A reportagem do Jornal Nacional apurou que segundo a agenda do presidente, ele se encontrou com o reverendo Amilton dois dias depois, no dia 15 de março. No dia 16, Dominghetti teria conversado com outro contato registrado como “Renato compra vacinas Chapecó” e informado: “Ontem o Amilton falou com o Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo.”
À Globo, o reverendo Amilton negou que tenha conversado sobre vacinas com o presidente Jair Bolsonaro.
O UOL procurou o governo federal e aguarda um posicionamento.