“Guedes confirmou que o Bolsonaro é mentiroso”, diz Maia sobre Bolsa Família
Deputado afirmou ainda que informação inverídica está sendo veiculada por extremistas, os quais chamou de "bolsomínions". Décimo terceiro pagamento era promessa de campanha de Bolsonaro
Em mais um episódio de atrito entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente Jair Bolsonaro, o deputado rebateu em plenário a afirmação do presidente e o chamou de mentiroso. Em uma transmissão em suas redes sociais na quinta-feira (17), Bolsonaro jogou em Maia a culpa por não haver um 13º pagamento para beneficiários do Bolsa Família no final do ano. O pagamento extra era uma promessa de campanha de Bolsonaro.
Maia citou uma entrevista do ministro da Economia, Paulo Guedes, na manhã de sexta-feira (18) para afirmar que o próprio governo desmente Bolsonaro e que a narrativa de que ele é o responsável por deixar medidas do governo perderem a validade são utilizadas por apoiadores do presidente nas redes, aos quais se referiu como “bolsominions”.
— Peguem as redes sociais dos extremistas, dos bolsominions, que você vai ver que está lá: “Rodrigo Maia derruba e caduca medida provisória do 13º do Bolsa Família e do BPC”. Então, é uma articulação conjunta para desqualificar e desmoralizar a imagem dos adversários do presidente da República. Mas hoje, o próprio ministro Paulo Guedes confirmou que o presidente é mentiroso, quando disse que de fato não há recursos para o 13º do Bolsa Família — disse Maia da tribuna da Câmara.
Na manhã de hoje, Guedes afirmou, em entrevista à imprensa, que não é possível conceder o 13º para o Bolsa Família porque precisa haver uma compensação e não há espaço para isso.
— Se eu, por dois anos, der o 13º, eu configuro uma despesa permanente, e tem que haver uma compensação com redução de outra despesa. Como isso não foi possível, pelo pandemônio da pandemia, eu sou obrigado, contra a minha vontade, a recomendar que não pode ser dado o esse 13º — disse.
Apesar da fala de Bolsonaro em suas redes ontem, a medida provisória (MP) a qual o presidente se referia foi assinada por ele prevendo o pagamento extra apenas em 2019. Durante a tramitação no Congresso, uma comissão mista alterou a MP para tornar o benefício permanente. Na época, o governo foi contra e pediu para que a MP não fosse a voto e perdesse a validade.
Após a declaração de Bolsonaro, Maia decidiu colocar na pauta de votações da Câmara de hoje a MP 1000, que até o fim do ano o auxílio-emergencial. Como a oposição tentava estender para 2021 a duração do auxílio-emergencial por meio da votação dessa MP, mas o governo é contra, o governo tentou convencer o presidente da Câmara a não votar o texto.
— O presidente não pediu pra criar o 13º permanente ontem? Está é a melhor MP pra resolver isso — disse Maia ao GLOBO na manhã de hoje, antes da sessão.
Apesar de incluir o texto na pauta de hoje, a chance de que ele seja votado é pequena. Além da obstrução apresentada pela base e falta de acordo em torno do texto, há ainda a MP que permite o ingresso do país na aliança internacional por vacinas contra Covid-19, a Covax Facility e outros mais de 20 texto na pauta, e não há consenso para todos os temas.
“Leal adversário”
Maia deixou a cadeira da presidência da Câmara para fazer o discurso rebatendo Bolsonaro. Além de chamar o presidente da República de mentiroso, Maia fez questão de destacar o trabalho do Congresso ao longo do ano e afirmou que precisava defender a Câmara e sua presidência.
Ele voltou a defender a aprovação das reformas tributária e administrativa e a urgência de analisar a PEC Emergencial. Maia também afirmou que manterá sua posição ao lado da democracia e que será um “leal adversário” do presidente na agenda de costumes.
— Eu fiz questão de fazer esse registro. Não é a primeira vez e tenho certeza que não será a última, porque continuarei no mesmo lugar que sempre estive. Do lado da democracia, contra a agenda de costumes que divide o Brasil, que radicaliza o Brasil, que gera ódio entre as pessoas. E como essa é a agenda do presidente, eu continuarei sendo um leal adversário do presidente da República naquilo que é ruim para o Brasil — disse Maia.
Ele completou seu discurso afirmando que será a favor das pautas que considera modernizadoras do estado brasileiro, desde que estejam dentro do limite do teto de gastos e da responsabilidade econômica.
— E serei um aliado do governo, e não do presidente, do governo, nas pautas que modernizam o Estado brasileiro. Respeitando o limite de gastos, já que nossa carga tributária é muito alta e a população não merece, mais uma vez, pagar a conta da incompetência e da falta de coragem do governo de enfrentar aquilo que prometeu, que é a reestruturação das despesas públicas, começando pela PEC Emergencial — completou Maia.