Na entrevista coletiva em que anunciou a decisão de se demitir do cargo de ministro da Justiça, na manhã do dia 24 de março, Sergio Moro condenou a interferência política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Polícia Federal e disse que, nos governos Lula e Dilma, a PF tinha autonomia.
Moro afirmou que a liberdade que a polícia tinha para investigar permitiu que a operação Lava-Jato avançasse. “É certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos. Aqueles crimes gigantescos de corrupção, mas foi fundamental a autonomia da PF para que fosse realizado esse trabalho. Seja de bom grado, seja pela pressão da sociedade”, disse.
Maurício Valeixo
O agora ex-ministro diz que o presidente não apresentou argumentos técnicos que justificassem a exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, publicada no Diário Oficial naquele dia – este seria um dos principais motivos do pedido de demissão.
“Falei com presidente que seria interferência política, e ele disse que seria mesmo. Presidente me disse mais de uma vez expressamente que queria ter uma pessoa do contato dele, que ele pudesse ligar, ter informações, colher relatórios de inteligência. Seja diretor, seja superintendente, não é papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação. Imagina se durante a própria Lava-Jato, ministro ou diretor-geral, ou a presidente Dilma ou o ex-presidente Luiz (Lula) ficassem ligando para o superintendente…. Autonomia da PF é valor fundamental. Grande problema não é quem entra, mas por que alguém entrar. Eu fico na dúvida se vai conseguir dizer não (a Bolsonaro) em relação a outros temas”, disse Moro.