‘Homofobia de Bolsonaro é da boca para fora’, diz Regina Duarte
Tão logo postou uma foto ao lado do candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), a…
A situação é diferente da vivida por ela em 2002, quando foi muito criticada ao revelar seu temor pela primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. “Eu estava completamente alienada, pois o Lula já havia ganhado”, afirma. “Não me arrependo, mas, se pudesse voltar no tempo, teria me informado melhor sobre o que estava acontecendo naquele momento. O País queria o Lula e fui dar a cara a tapa à toa.”
Veja os principais trechos da entrevista, concedida no apartamento da atriz, na região dos Jardins, em São Paulo.
Quando você se sentiu à vontade para falar de Bolsonaro?
Foi há uns dois ou três meses. Eu estava “no armário”, e meu filho mais novo começou a me contestar: já que sempre fui uma pessoa democrática, aberta, justa, como eu podia me fechar no conceito de que Bolsonaro é bruto, tosco, ignorante, violento. “Você já chegou perto dele?” Respondi: “Não preciso me aproximar, sinto que é o candidato da raiva, da impotência, do ódio, contra a corrupção e não quero votar no emissário da raiva”. Mas, quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha. Eu tinha algumas opções de voto, como o (Geraldo) Alckmin e o (João) Amoêdo, mas, nesse momento, me caíram fichas inacreditáveis, como as omissões do PSDB. Foi tudo ficando muito feio. Quantos equívocos, quantos enganos! Foi quando notei o tamanho da adesão desse país ao Bolsonaro e pensei: eu sou esse país, eu sou a namoradinha desse país.
Bolsonaro passa a imagem de ser truculento quando o assunto é homossexualidade, feminismo, quando fala sobre índios e nega efeitos negativos da ditadura.
São imagens montadas, pois mostram a reação dele, mas não a de quem provocou a reação. É unilateral. Quando souberam que ele ia se candidatar, começaram a editar todas as gravações e também a provocá-lo para que reagisse a seu estilo, que é brincalhão, machão. Daí fica a imagem de um homem tosco, bruto. Acredito que 80% dessas reações eram brincadeiras dele: você manda uma porrada e ele devolve outra. O homem com quem conversei durante 65 minutos quer chegar lá democraticamente, seguindo todas as regras das nossas instituições. Ele não estudou filosofia, mas o importante é seu preparo para nos proteger da roubalheira descarada. Bolsonaro é fruto do País, é resultado dos erros monstruosos do PT e da falta de mea-culpa.
Você abriu uma porta para outros artistas ao defender abertamente o Bolsonaro?
Alguém me falou que eu estou fazendo muito artista sair do armário, o voto envergonhado. Hoje, se tivesse de dizer alguma coisa para a juventude, usaria minha experiência do depoimento de 2002, quando disse ter medo do Lula. Eu estava completamente alienada, pois o Lula já havia ganhado a eleição. Aí fui botar a cara na TV, feito uma tonta, para falar de um sentimento, de uma intuição tão particular. Não me arrependo, mas, se pudesse voltar no tempo, teria me informado melhor sobre o que estava acontecendo naquele momento. O País queria o Lula e fui dar a cara a tapa à toa.
Qual deveria ser o primeiro passo do novo governante?
Resolver a impunidade, que é inadmissível, pois não se acaba com a violência em um país de impunidade. Meu filho perguntou por que eu estava novamente me envolvendo com política. Respondi que era por ele, pelos filhos dele e por todos nós. Não quero angariar votos para o Bolsonaro, até porque ele não precisa. Mas porque quero ficar com a consciência em paz, ao gritar em nome dos sem voz, dos milhões de brasileiros humilhados por não poderem dar um berro de dor e indignação. É como assinar um cheque em branco. Mas prefiro um cheque em branco da esperança.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.