‘Infiltrado’: Bolsonaristas tentam associar ao PT militante preso por planejar atentado no DF
Diante da repercussão do caso, seguidores do presidente elaboram narrativa conspiratória sobre confissão de George Sousa à Polícia Civil
Seguidores de Jair Bolsonaro que apoiam os manifestantes concentrados nos portões dos quartéis pedindo golpe militar passaram a disseminar neste final de semana a narrativa falsa de que o empresário bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, preso por planejar um atentado com explosivos em Brasília, seria na realidade um infiltrado do PT para deslegitimar o movimento intervencionista.
Mensagens e memes com esse teor começaram a circular em grupos e listas bolsonaristas nesta segunda-feira, após a divulgação do depoimento de Sousa à Polícia Civil do Distrito Federal.
No depoimento, o empresário diz espontaneamente que planejou o atentado junto com um grupo de manifestantes que está acampado em frente ao QG do Exército em Brasília. Afirmou também que o discurso armamentista de Bolsonaro o incentivou a compra dos armamentos apreendidos, além de admitir que pretendia “dar início ao caos” para forjar um estado de sítio e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva no próximo domingo.
Essa versão já reflete uma segunda onda de reações à notícia da prisão. De início, houve quem avaliasse o plano do atentado como a ação de um “patriota desorientado”. Em pouco tempo, porém, disseminou-se a narrativa de que o militante se infiltrara para responsabilizar bolsonaristas pelo ataque.
“Aproximando-se o dia 01/01/2023, e diante da continuação dos protestos, aparece um indivíduo que estava planejando cometer um crime que se encaixa, perfeitamente, com a narrativa que a esquerda estava procurando. E o criminoso, para o delírio dos socialistas, culpa o PR [Presidente da República]. É muita coincidência”, escreveu o deputado estadual do Rio de Janeiro Márcio Gualberto (PL).
Um bolsonarista identificado como Julio Rocha sugeriu no Twitter que poderia até mesmo haver um conluio entre o PT e a Polícia Civil do DF, que descobriu o plano e prendeu George Sousa no sábado.
“O delegado-geral da CPDF, Robson Candido da Silva, é um fenômeno: encontrou duas bombas antes de explodirem, prendeu o suspeito antes de atingir qualquer pessoa, apreendeu “arsenal” e extraiu confissão espontânea. Só eu que estou achando tudo isso muito estranho?”, dizia a mensagem compartilhada quase 4 mil vezes na rede social.
Para sugerir a existência de uma conspiração, o perfil reproduziu fotos do governador distrital, Ibaneis Rocha (MDB), com o delegado-geral da PCDF, Robson Candido, e com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) em ocasiões diferentes.
Outra mensagem muito replicada nos meios bolsonaristas sugere que a Polícia Civil do DF não possui competência para desarmar a bomba, o que teria sido feito pelo próprio preso. Nada disso é verdade. O explosivo foi desarmado pelo esquadrão antibombas da Polícia Militar distrital.
As mensagens tentam ainda associar Sousa a um inexistente “Sindicato da Petrobras” – o mentor do atentado, na verdade, é dono de postos de gasolina no Pará.
“FARSANTE!!! O sujeito que deixou a bomba em Brasília é funcionário da Petrobras e é SINDICALISTA. Logo vi que era armação. Crime arquitetado para chamar patriotas de terroristas. Flávio Dino criou esta narrativa para chamar quem está na porta dos quartéis de terrorista”, escreveu um bolsonarista no Telegram. “É sobre esse tipo de armadilha que estou alertando há dias. Os inimigos tentarão de tudo para macular o movimento da resistência civil”, acusou outro.
Ironicamente, em seu depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, George Sousa fez uso do mesmo expediente.
Em meio a outras teorias conspiratórias, como a de que o comunismo está prestes a ser instaurado no país, Santos disse ter identificado petistas disfarçados como ambulantes com o objetivo de envenenar apoiadores de Bolsonaro diante do quartel-general do Exército em Brasília.
“Durante o período em que frequentei o acampamento montado em frente ao QG do Exército, eu percebi que havia vários petistas infiltrados entre os ambulantes, [e] que passaram a envenenar os alimentos vendidos aos bolsonaristas com a intenção de desmobilizar os manifestantes, além de provocar tumultos e desordem entre as pessoas”, relatou o empresário bolsonarista à polícia, a despeito da inexistência de relatos de intoxicação em massa na capital federal.