Investigado, Pazuello volta a negar omissão por falta de oxigênio no Amazonas
O ministro afirmou ter nomeado um grupo para cuidar do estado e antecipar um possível colapso
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, voltou a negar, nesta segunda-feira (1), que tenha sido omisso em relação à falta de oxigênio para pacientes com covid-19 no estado do Amazonas. Investigado pela Polícia Federal, o ministro afirmou que a pasta foi “ativa” e que a “apreensão” sobre o crescimento exponencial de casos no estado aumentou ainda no final de dezembro.
Para avaliar a situação, o ministério nomeou, em 28 de dezembro, um grupo para cuidar do Amazonas, e ordenou que fosse montada uma estrutura para avaliar o estado, e antecipar um possível colapso após as autoridades locais perceberem uma tendência de aumento no número de casos de covid.
“A partir da ideia de que as coisas poderiam estar lotando estruturas, nós resolvemos nos antecipar. É ao contrário, nós nos antecipamos para evitar que ficasse ruim.”, explicou o ministro em entrevista ao programa “Direto Ao Ponto”, da rádio Jovem Pan.
Pazuello disse ainda que, no dia 6 de janeiro, a força-tarefa montada para avaliar a situação no estado do norte retornou a Brasília e ainda não havia informação alguma sobre falta de oxigênio.
Na última semana, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar possível omissão de Pazuello na falta de em Manaus. O pedido partiu da Procuradoria-Geral da República, que afirma que o ministério já sabia do problema dias antes do início do colapso, quando a White Martins, empresa que atua na fabricação de diversos tipos de gás, informou à pasta sobre escassez de cilindros.
Pazuello diz que Saúde não foi informada da falta de oxigênio pela White Martins
Contrariando o que alega a PGR, o ministro Pazuello afirmou que a White Martins nunca avisou a ele diretamente sobre o colapso no Amazonas.
“O ministério da Saúde nunca foi oficiado sobre falta de oxigênio por White Martins. Isso é uma informação errada. A White Martins informou ao estado e essa informação nem teria por que vir pro ministério, o ministério da Saúde não tem competência sobre a infraestrutura de oxigênio”, explicou Pazuello.
“Nós tomamos conhecimento sobre a falta de oxigênio a partir do dia 8, quando o estado nos trouxe. Foi oficiado pela White Martins no próprio dia 8, ao estado, não ao ministério”, acrescentou.
Outra divergência entre o que foi apontado pela PGR no pedido de abertura de inquérito e a versão de Pazuello é a da data em que o primeiro avião com cilindros foi enviado para o Amazonas a pedido do ministério da Saúde.
De acordo com a Procuradoria-Geral, o primeiro envio foi feito no dia 12 de janeiro, enquanto o ministro afirma que o primeiro avião saiu de Belém com destino a Manaus ainda no dia 8 de janeiro, data em que ele diz ter tomado conhecimento sobre o início da falta de oxigênio no estado.
“No mesmo dia 8 eu acionei o ministério da Defesa e um Hércules [avião das Forças Armadas] transportando cilindros de Belém para Manaus. Antes de qualquer informação sobre a, digamos, falta calamitosa de oxigênio”, afirmou o ministro.
Ministro volta a mentir sobre indicação tratamento precoce
Pazuello mais uma vez afirmou que o Ministério da Saúde nunca indicou remédios contra a covid-19. De acordo com ele, o que foi feito foi uma orientação para caso os médicos optassem em utilizar medicamentos para tratamento precoce do coronavírus, algo que deveria ser de escolha exclusiva do profissional de saúde.
“Eu determinei que o ministério não fizesse protocolos, nem recomendações de uso. […] O ministério orienta e não determina, e ele coloca que, quando o médico assim prescrever, que ele fique atento às doses ideais. O Ministério da Saúde é completamente a favor do atendimento precoce. É diferente atendimento de tratamento”, disse Pazuello ao ser questionado sobre as recomendações do ministério.
Um protocolo divulgado em maio do ano passado, porém, orienta o uso de cloroquina, hidroxicloroquina e outros medicamentos, bem como a dosagem recomendada (abaixo rasuradas) para cada um deles.
Pazuello já defendeu o uso de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da covid-19. Em 21 de julho, por exemplo, o ministro citou o antimalárico e a ivermectina, que também não tem eficácia comprovada contra a doença.
O ministro voltou a falar que o ministério nunca falou em tratamento precoce, e sim em atendimento precoce. Para Pazuello, o tratamento deve ser indicado pelo médico, se assim ele desejar, depois de o paciente ser atendido.
“No site oficial do ministério da saúde, a minha determinação sempre foi clara: atendimento precoce. E o médico tem todo direito de prescrever o medicamento que ele achar melhor para aquela pessoa.”, concluiu Pazuello.