Ipec: Lula lidera corrida eleitoral em 14 estados; Bolsonaro tem vantagem em cinco e no DF
Presidenciáveis estão empatados em seis estados, incluindo o Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país
Divulgados nas últimas três semanas, os resultados das pesquisas do Ipec, contratadas pela TV Globo e afiliadas, em 25 estados e no Distrito Federal revelam um primeiro desenho do mapa da disputa presidencial, após o início da campanha. Os números indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por enquanto, conseguiu avançar na conquista de eleitores, na comparação com Fernando Haddad (PT), em regiões que deram vitória ao presidente Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição de 2018, mas também mostram que os dois candidatos ao Palácio do Planalto estão tecnicamente empatados, considerando a margem de erro, em seis estados, incluindo o populoso Rio de Janeiro.
O levantamento feito pelo GLOBO, que compilou todas as pesquisas disponíveis — a sondagem sobre a disputa no Pará só será divulgado hoje pelo Ipec —, aponta que Lula, à frente na corrida a nível nacional com 12 pontos de vantagem, lidera até o momento em 14 estados. São eles todos os do Nordeste, tradicional reduto de seu partido nas últimas eleições, mas também São Paulo e Minas Gerais —maiores colégios eleitorais do país—, Amazonas, Rio Grande do Sul e Tocantins. Nas quatro primeiras unidades da federação, Bolsonaro conquistou maioria há quatro anos.
Ranking
Bolsonaro, por outro lado, está à frente na corrida presidencial em cinco estados e no Distrito Federal, locais onde também venceu no pleito passado. O grupo inclui Santa Catarina, onde marca 50% das intenções de voto. No Distrito Federal, o presidente está sete pontos à frente de Lula, com 38%. Em Roraima e Rondônia, chega a marcar, respectivamente, 66% e 54%, seus melhores desempenhos. Bolsonaro também tem vantagem sobre Lula no Acre (23 pontos) e no Mato Grosso (18 pontos).
Lula tem seus melhores resultados no Piauí e no Maranhão, onde chega às marcas de 69% e 66% das intenções de voto, respectivamente. Sua vantagem sobre Bolsonaro é menor no Tocantins (7 pontos), no Rio Grande do Sul (8 pontos) e em São Paulo, em que aparece com 40% dos votos, contra 31% do atual presidente. Nesses estados, a vantagem do petista fica abaixo da média nacional.
Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), por sua vez, se destacam nos seus respectivos estados. Ciro chega a 14% e empata em segundo lugar com Bolsonaro no Ceará, enquanto Tebet marca 8% dos votos no Mato Grosso do Sul, onde fica na terceira posição, à frente do pedetista.
Professora de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (PPGCS), Mayra Goulart destaca que um fator relevante para entender a mudança no desempenho de Bolsonaro em estados em que venceu na eleição de 2018 é sua avaliação de governo, que sofreu desgaste na pandemia e com o desembarque de apoiadores identificados com a bandeira do combate à corrupção. Um exemplo é São Paulo, que tem um histórico de antipetismo, mas no qual Lula aparece neste momento à frente.
— Na eleição presidencial, o PT não fica à frente em São Paulo há muitos anos, porque lá o antipetismo é muito forte. Em estados onde se tem uma concentração relevante de camadas com renda alta e média, o desgaste de Bolsonaro com lideranças da direita acaba fazendo diferença. Há ainda um desembarque do lavajatismo da base de apoio de Bolsonaro após a pandemia.
As pesquisas do Ipec apontam que as intenções de voto em Bolsonaro e Lula costumam acompanhar a avaliação do governo federal. Quanto pior é avaliada a gestão de Bolsonaro, mais votos tende a ter o petista, e vice-versa. Em ao menos 14 estados, o índice dos que consideram o governo ruim ou péssimo supera o daqueles que o avaliam como ótimo ou bom. Em cinco deles, todos na Região Nordeste, a avaliação negativa alcança metade ou mais dos entrevistados. O contrário — o governo é ótimo ou bom para maioria — é observado em Rondônia e Roraima.
Nos estados em que ambos estão tecnicamente empatados, o índice de voto ruim ou péssimo é maior que o ótimo ou bom no Rio. No Paraná, em Goiás e no Mato Grosso do Sul, a avaliação positiva supera a negativa. Em todos esses estados, onde agora empata com Lula, Bolsonaro teve mais de 60% dos votos válidos no segundo turno de 2018.
O Amapá, por sua vez, registra o cenário mais dividido do país. Não apenas Lula e Bolsonaro têm exatamente o mesmo percentual de votos, 39%, como o índice de quem avalia o atual governo como ruim e péssimo é o mesmo de quem o considera ótimo ou bom, 35%. No estado, PT e PL apoiam o mesmo candidato a governador, Clécio Luís (Solidariedade), que lidera a disputa, segundo o Ipec.
Estratégias
No caso de Lula, será justamente o Sudeste o foco das últimas semanas da campanha, com concentração de atos em Minas Gerais. No Rio, onde a disputa é mais equilibrada com Bolsonaro, o petista fará de forma mais efetiva ações de panfletagem mirando eleitores evangélicos em locais de grande circulação. A ideia é distribuir conteúdos que misturam versículos bíblicos com mensagem político. Outra região que deve receber atenção é o Sul. A campanha também avalia a possibilidade de uma passagem pelo Centro-Oeste. A estratégia é buscar o chamado “voto útil” de eleitores indecisos ou que declaram voto em Ciro e Tebet.
Já a equipe de Bolsonaro vai insistir no discurso sobre corrupção, para aumentar a rejeição ao ex-presidente. A ideia é seguir explorando o tema nas falas do presidente e nas redes sociais, como fez no debate da Band, no domingo passado, quando Bolsonaro abriu sua participação questionando o petista a respeito do assunto. A campanha também vai focar em recentes índices positivos da economia, como o crescimento de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto), acima da expectativa, e o recuo do número de desempregados para 9,1% em julho.
A expectativa dos aliados do presidente era o que o Auxílio Brasil, que aumentou para R$ 600 e começou a ser pago em agosto, já fosse sentido nas pesquisas, mas o resultado ainda não apareceu. A avaliação de alguns integrantes do comitê de campanha de Bolsonaro é que apontar os números favoráveis da economia pode ter um impacto melhor para o eleitorado. (Colaboraram Jeniffer Gularte, Jussara Soares, Bruno Góes e Fernanda Trisotto).