Cash Delivery

Justiça Federal converte prisões de Jayme Rincon e motorista em preventivas

Demais investigados detidos pela pela PF durante operação na última sexta (28) tiveram prorrogadas suas reclusões temporárias. Decisão revela que Jayme teria sido “único” indicado por Marconi para receber propinas em seu nome

O juiz da 11° Vara da Justiça Federal em Goiás Rafael Ângelo Slomp converteu em preventiva a prisão temporária do ex-presidente da Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) e ex-coordenador da campanha de reeleição do governador José Eliton (PSDB) Jayme Rincon e de seu motorista, o policial militar Márcio Garcia de Moura. Eles foram detidos na última sexta-feira (28), quando a Operação Cash Delivery foi deflagrada pela Polícia Federal (PF).

A decisão atende a pedido do Ministério Público Federal (MPF), o qual, assim como o magistrado, considerou necessária a reclusão por entender que há “indícios razoáveis de autoria” de crime. Ambos se tornaram investigados desde que foram apontados como envolvidos no esquema de propina conduzido pelo Setor de Operações Estruturadas, departamento de escuso, da Odebrecht, voltado à compra de influência nos estados de atuação da companhia.

Para as autoridades, a apreensão de mais de R$ 1 milhão em espécie nos endereços de Jayme e Márcio é “indício suficiente de que a organização criminosa encontra-se ainda em atividade, utilizando do mesmo mecanismo delineado na representação policial, coletando valores de propina e promovendo lavagem de capitais”.

Delações

De acordo com a decisão, Jayme foi citado por executivos da empreiteira como “única pessoa indicada por Marconi Perillo para operacionalizar o recebimento de valores em seu nome”. O dinheiro – entregue como doação para campanhas de Perillo entre 2010 e 2014 –, segundos as investigações, serviria na verdade para garantir a defesa de interesses da empresa nas então futuras atuações do tucano.

À PF, o depoente Alexandre Barradas, afirmou que Jayme foi apresentado pelo próprio Marconi e que agendou encontro em Goiânia, no ano de 2010, onde repassaria R$ 2 milhões e também a senha e locais para estabelecimento de futuras transferências de propina.

O delator ainda disse à polícia, ter informado à Jayme, em Goiânia, no ano de 2014, que teria sido autorizado a operacionalizar doações na ordem de R$ 8 milhões. “Ocasião em que ele [Jayme] expressou que tinha expectativa de um valor maior”. Na época, Rincon era presidente da Agetop.

O motorista Márcio Moura é apontado como um dos “buscadores” dos recursos. De acordo com a sentença, ele foi identificado e seu envolvimento, comprovado por meio de escutas telefônicas. O mesmo papel é atribuído ao filho de Jayme, Rodrigo Godoi Rincon, identificado com a alcunha de Master, também detido na mencionada operação. Em uma das situações, a polícia verificou que Godoi teria recebido a quantia de R$ 300 mil em um endereço em São Paulo, onde vive e está recluso.

O empresário Carlos Alberto Pacheco Júnior, segundo o documento, também era um “buscador”, que, com a senha “Bisnaga” recolheu, em São Paulo, R$ 300 mil da empreiteira, com a mesma finalidade.  O advogado e ex-PM Pablo Rogério de Oliveira, de acordo com a decisão, também teve atuação comprovada na organização criminosa. Ele esteve na capital paulista em 2014 para receber R$ 600 mil “que teriam sido destinados à Marconi por meio da senha Picanha”.

À pedido da Polícia Federal, Rodrigo, Carlos e Pablo tiveram suas prisões temporárias prorrogadas pelo prazo de cinco dias.

Expectativas frustradas

Na terça-feira (2/10), o advogado de Rincon, Romero Ferraz, afirmou ao Mais Goiás que esperava a soltura do cliente. Segundo ele, os cinco dias decorridos, prazo finalizado naquela data, foram suficientes satisfazer os anseios das autoridades policiais com a colheita de provas. Porém, a Justiça, além de ter entendimento contrário, determinou a conversão da prisão de Jayme em preventiva, sem encerramento programado para soltura. A redação não conseguiu novo contato com o defensor nesta quarta-feira (3).

A alegação de Jayme, em prol de sua soltura, também foi o argumento utilizado pelos outros investigados, com exceção de Rodrigo, que apelou para um diagnóstico de doenças psicológicas e cardíacas. Porém, laudo expedido por cardiologista da Polícia Federal (PF), no dia de sua prisão, alertou o Judiciário sobre a possibilidade dele em enfrentar o encarceramento durante o cumprimento da medida temporária.

Depoimento marcado

O Mais Goiás não conseguiu contato com os advogados de Rodrigo, Carlos, Pablo e Márcio, mas reforça aqui a abertura de espaço para que defesas incluam nesta matéria manifestações de seus clientes, caso haja interesses.

Por telefone, o advogado do candidato ao Senado Federal e ex-governado Marconi Perillo (PSDB), Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, revelou que o político irá se manifestar sobre os apontamentos apenas depois do pleito. “O Marconi tinha oitiva agendada para a última segunda-feira (1°/10), mas requeremos que ele se manifeste apenas após as eleições, haja vista que o conteúdo pode ser utilizado de forma eleitoreira. O pedido foi deferido e assim que terminar o período eleitoral, ele irá se apresentar no dia que for determinado pela delegada”.