ELEIÇÕES | SÃO PAULO

Lula supera Doria como cabo eleitoral no 2º turno de SP, aponta Datafolha

Nesta campanha, Covas escondeu Doria o quanto pôde, ciente de sua alta rejeição na capital paulista

O ex-presidente Lula afirmou neste domingo (15) que a decisão do candidato Jilmar Tatto (PT) de se manter na disputa pela Prefeitura de São Paulo foi soberana. Na terça (10), o ex-deputado federal e ex-secretário de Transportes da capital paulista foi procurado pela presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, para discutir a possibilidade de indicar voto em Guilherme Boulos (PSOL), o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto. "Ninguém poderia dizer o que ele deveria fazer. Era uma coisa dele", afirmou Lula em entrevista coletiva à imprensa, na Escola Estadual José Firmino Correia de Araújo, em São Bernardo do Campo (Grande SP). Ele chegou ao local às 8h05 deste domingo para votar. "O candidato [Tatto] disse: 'Eu vou continuar candidato, eu vou continuar candidato'. Isso era somente ele que poderia falar. Eu acho que foi uma atitude correta dela [Gleisi Hoffmann], de procurar o partido para discutir isso, e eu acho que foi uma atitude soberana dele de dizer que não ia retirar a candidatura." O candidato a prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho (PT), que acompanhava o ex-presidente mantendo distanciamento, sinalizou que participou da reunião e que os fatos relatados por Lula eram verdadeiros. Com 17% da preferência do eleitorado, segundo o Datafolha, Boulos tem mais do que o dobro de votos de Tatto, que alcançou 6% -e, portanto, mais chance de chegar ao segundo turno representando o campo da esquerda. "Algumas pessoas fizeram o movimento sem depender da direção do partido. Você tem intelectuais do partido, você tem figuras importantes do partido que fizeram documento de adesão ao Boulos bem antes da campanha começar, e nós temos que respeitar, porque as pessoas são livres para escolher os seus candidatos", disse Lula. O ex-presidente ainda afirmou que Gleisi Hoffman apenas cumpriu seu papel enquanto presidente do PT ao tentar demover Tatto. "Ela foi demandada, foi procurada, ela fez o que ela deveria fazer como presidente. Ela procurou quem? O candidato. E, segundo as informações, ela disse pro candidato que dependia única e exclusivamente dele", seguiu. A Folha de S.Paulo mostrou no sábado (14) que o estresse criado pelos apoiadores de Guilherme Boulos com o PT, pressionando o partido a desistir da campanha de Jilmar Tatto para apoiá-lo, deixou arestas -mas elas não devem impedir declaração de apoio de petistas ao psolista caso ele chegue ao segundo turno contra Bruno Covas (PSDB-SP). De acordo com integrantes da bancada de deputados do partido, os rumores de que algo assim poderia acontecer prejudicam não apenas Jilmar Tatto, mas os candidatos a vereador.

Os principais padrinhos políticos em São Paulo são eficazes para afugentar o eleitorado da maior cidade do país. No segundo turno, contudo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é menos pior do que o governador João Doria (PSDB-SP) como apoiador.

O petista está com Guilherme Boulos (PSOL) e o tucano, com o prefeito Bruno Covas (PSDB). Segundo aferiu o Datafolha, ainda pior que eles como padrinho na cidade é o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que não tem candidato na disputa.

O instituto ouviu 1.260 eleitores nesta segunda (23), em pesquisa encomendada pela Folha de S.Paulo e registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o número SP-0985/2020. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança utilizado é de 95%.

O tema dos padrinhos permeia o pleito na cidade, que teve nesta pesquisa o prefeito Bruno Covas (PSDB) à frente com 55% dos votos válidos para o segundo turno, enquanto Guilherme Boulos (PSOL) reduziu sua distância do tucano e tem 45%.

O tucano era vice de Doria na chapa eleita à prefeitura em 2016, e assumiu quando o então chefe deixou o cargo para disputar e vencer o pleito estadual em 2018. Nesta campanha, Covas escondeu o quanto pôde o governador, ciente de sua alta rejeição na capital paulista.

Tem seus motivos: segundo o Datafolha, 61% dos eleitores da cidade não votariam num candidato apoiado por Doria, índice que repete a aferição feita no começo (21 e 22 de setembro) e no curso da campanha (5 e 6 de outubro).

Já apoiariam com certeza um candidato do governador 13%, ante 11% em outubro e 8% em setembro. Talvez votassem num nome do tucano 20%, uma queda ante 25% em outubro e 29%, em setembro.

Boulos tem insistido, na campanha, na associação de Doria a Covas, ainda que a relação entre governador e prefeito não seja exatamente harmônica. O tucano, por sua vez, aponta para o apoio de Lula a Boulos, tácito no primeiro turno e explícito agora.

O ex-presidente petista viu a rejeição a um nome apoiado por ele cair um pouco ao longo da campanha. Não votariam de forma alguma num indicado de Lula 57% em setembro, ante 54% em outubro e 52%, agora.

Na mão contrária, apoiariam um apadrinhado do petista 25% hoje, número que era de 20% em setembro e 21%, em outubro. Aqueles que talvez votassem foram de 21% para 23%, e agora está em 19%.

Bolsonaro, por sua vez, repete a alta rejeição já apontada pelo Datafolha na capital (50%) na sua condição de padrinho e se apresenta como o padrinho mais tóxico na cidade.

Ele teve um candidato no primeiro turno, o deputado Celso Russomanno (Republicanos), que começou a disputa como líder e acabou em quarto lugar, com 10,5% dos votos válidos.

Agora, 66% dos paulistanos não votariam num candidato do presidente na cidade -eram 63% em outubro e 64%, em setembro. Apoiariam um nome 16%, mesmo índice de um mês e meio atrás e algo acima dos 11% registrados há dois meses.

Talvez votassem 13%, uma curva descendente (23% em setembro, 18% em outubro).

Neste segundo turno, Russomanno apoia Covas, o que levou Boulos a tentar colar nele a pecha de candidato bolsonarista. O prefeito é um vocal crítico do presidente, assim como Doria, principal rival do Planalto entre os governadores.

A tática de Covas de tentar desvincular-se do Palácio dos Bandeirantes pode estar dando certo, ao analisar um dado: 41% dos eleitores do tucano dizem que não votariam num candidato indicado por Doria.

Já esse eleitorado é mais refratário a Lula, com 71% de pessoas que não votariam de jeito nenhum num nome do petista, do que a Bolsonaro –50% dos entrevistados do grupo descartam apoiar um nome do presidente.

Entre os eleitores de Boulos, a associação com Lula parece menos danosa. Votariam desse grupo com certeza num nome do petista 42% de quem apoia o psolista, enquanto 30% dizem que talvez o fizessem e 23%, que nunca fariam.

Já a rejeição a Bolsonaro como padrinho (83% de “não votaria de forma alguma”) e a Doria (79%) segue o previsto para um representante da esquerda no segundo turno.

No geral, a rejeição candidatos de Lula ou Bolsonaro é maior entre os mais ricos (64%) do que aquela acerca de Doria (54%).