Médica Nise Yamaguchi é ouvida na CPI sobre mudança na bula da cloroquina
Medicamento não tem eficácia científica comprovada e sempre foi defendido pelo governo Bolsonaro
A médica imunologista e pesquisadora Nise Yamaguchi presta depoimento terça-feira (1), a partir da 9h, à CPI da Covid, no Senado, sobre a sua atuação junto ao governo federal em defesa da cloroquina e da hidroxicloroquina. O assunto deve dominar a pauta da audiência.
Nise, que chegou a ser cotada para assumir o Ministério da Saúde no ano passado, se tornou figura pública depois de colaborar com o Palácio do Planalto em estudos e movimentos técnicos relacionados ao possível protocolo do uso desses medicamentos no tratamento do coronavírus.
A médica foi fonte de informações dentro do que tem sido chamado na Comissão Parlamentar de Inquérito de “assessoramento paralelo” do governo Jair Bolsonaro na condução da crise sanitária, que matou mais de 460 mil pessoas no país.
O “ministério paralelo” teria sido montado a mando do presidente e seria comandado por seu ex-assessor Arthur Weintraub com o objetivo de balizar o incentivo à prescrição dos remédios — que são ineficazes para tratar a covid.
O tema é um dos principais pontos de interesse da CPI, que apura se o governo federal errou no enfrentamento da pandemia.
Para os parlamentares da oposição, a existência do “assessoramento paralelo” e ações desse grupo podem atribuir ao governo Bolsonaro responsabilidades pelo agravamento da crise sanitária. Já os aliados de Bolsonaro defendem que não há fatos que denotem crimes ou irregularidades.
Mudança na bula
Segundo integrantes da CPI, Nise será confrontada sobre uma reunião na qual teria sido discutida a alteração da bula da cloroquina para que o remédio pudesse ser usado no tratamento da covid — o que contraria estudos científicos e a orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Segundo o diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, Nise participou da reunião, apoiou a mudança e parecia “mobilizada” com a possibilidade de alterar a bula. A médica diz que ele não falou verdade.
Em depoimento na CPI, Barra Torres afirma ter alertado sobre a ilegalidade da proposta —decretos presidenciais não podem ser usados para tal finalidade. Em seguida, chefe da Anvisa disse ter se retirado da sala. O encontro também foi narrado pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta à comissão.
Amanhã, a CPI deve promover um debate com médicos sobre o uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada na resposta ao coronavírus.
A previsão é que falem na comissão:
- Clovis Arns da Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia;
- Zeliete Zambon, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade;
- Francisco Eduardo Cardoso Alves, especialista em Infectologia pelo Hospital Emílio Ribas;
- Paulo Porto de Melo, neurocirurgião.
Instalada há um mês, a CPI tem um prazo de 90 dias, que pode ser prorrogado.
Na semana passada, a comissão aprovou a reconvocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga e de seu antecessor, o general Eduardo Pazuello. Também foi decidida a convocação de nove governadores em exercício do mandato e do ex-governador do Rio Wilson Witzel.
Na última sexta, porém, um grupo de governadores de 17 estados e do Distrito Federal entrou com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a convocação para depor na CPI.
Veja a previsão dos demais depoimentos de junho (o cronograma pode sofrer alterações):
- Terça (8): Nísia Trindade, presidente da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz);
- Quarta (9): Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde sob comando de Pazuello;
- Quinta (10): Markinhos Show, ex-assessor de Pazuello;
- Sexta (11): Cláudio Maierovitch, sanitarista, e Nathália Pasternak, microbiologista e pesquisadora da USP;
- Terça (15): Marcellus Campêlo, secretário de Saúde do Amazonas;
- Quarta (16): Wilson Witzel, ex-governador do Rio de Janeiro;
- Quinta (17): Carlos Wizard, empresário;
- Terça (22): Filipe Martins, assessor para assuntos internacionais da Presidência da República;
- Quarta (23): Presidente do Instituto Gamaleya (responsável pelo desenvolvimento da vacina russa Sputnik V);
- Quinta (24): Jurema Werneck, representante do Movimento Alerta;
- Terça (29): Wilson Lima, governador do Amazonas;
- Quarta (30): Helder Barbalho, governador do Pará.
Quem já depôs na CPI:
- Antonio Barra Torrres, da Anvisa;
- Luiz Henrique Mandetta,
- Nelson Teich
- Eduardo Pazuello, ex-ministros da Saúde;
- Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde;
- Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do governo;
- Carlos Murillo, gerente-geral da Pfizer na América Latina;
- Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores;
- Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde;
- Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.