Política

Meirelles se filia ao MDB sem garantia de que será o candidato ao Planalto

Projeto eleitoral do ministro da Fazenda está sendo asfixiado pelo desejo de Temer de concorrer à reeleição, mesmo sendo alvo de dois inquéritos no STF e registrar baixíssima popularidade

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, filiou-se ao MDB nesta terça-feira (3) ainda sem a certeza de que será o candidato do partido ao Planalto nas eleições de outubro, mas fez questão de tentar se manter no jogo.

O projeto eleitoral do ministro está sendo asfixiado pelo desejo do presidente Michel Temer de concorrer à reeleição, mesmo sendo alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e registrar baixíssima popularidade.

Questionado diversas vezes por jornalistas sobre se seria o vice de Temer, Meirelles fez questão de dizer que tem projeto de candidatura a presidente e que ainda haverá discussão sobre a “melhor composição da chapa”.

Ele deixa a chefia da equipe econômica nesta sexta-feira (6) para tentar viabilizar sua candidatura, ao mesmo tempo em que Temer trabalha na mesma direção.

As imagens e o jingle que estampavam o evento de filiação na sede do partido, porém, traziam sempre Temer em primeiro plano. Tanto na foto, como na música pouco criativa: “M de Michel, M de Meirelles , M de MDB”.

Durante seu discurso de pouco menos de dez minutos, Meirelles cumpriu o acordo que firmou Temer nas últimas semanas para se filiar à legenda: defendeu o legado do governo e citou nominalmente o presidente.

“Esse legado não pode ser perdido nem esquecido, é preciso perseverar e insistir na direção certa”, disse o ministro. “Volto ao MDB para continuar servindo ao Brasil e aos brasileiros”, completou.

Meirelles ressaltou as melhoras nos índices econômicos, que usará de trunfo durante sua pré-candidatura, mas não citou a reforma da Previdência -que naufragou no início deste ano por falta de apoio do governo no Congresso- ou a reforma trabalhista, que deve caducar também por falta de respaldo parlamentar.

Já com pompas de candidato, disse que seu retorno ao partido era natural e tentou abrir caminho para a pauta social -o governo Temer tem a pecha de ter focado sua atuação apenas em medidas de ajuste fiscal. Meirelles disse que o MDB entendeu que a construção de uma “sociedade justa depende do crescimento da economia” e que o presidente inova no apoio a programas sociais.

“Só teremos um país justo quando um filho de operário tiver a mesma oportunidade que o filho de um médico”, disse o ministro, citando uma frase bastante conhecida da retórica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em seguida, vaticinou: “E essa não é uma bandeira da esquerda ou da direita”.

Afagos

Temer, em seu discurso, também fez acenos a Meirelles e disse que o ministro está habilitado a ocupar qualquer cargo do país. “Não tenho a menor dúvida disso”, disse.

Já o presidente do MDB, Romero Jucá (RR), afirmou que o partido estava ganhando “um filiado de grande expressão, um homem público que tem uma história irreconhecível, profissional do mais alto quilate internacional”.

O senador defendeu mais uma vez que a legenda tenha candidatura própria ao Planalto. Jucá avalia, nos bastidores, que uma candidatura de Temer poderia trazer ainda mais desgaste ao partido e Meirelles seria um nome politicamente mais neutro nesse cenário.