Mesmo fora do segundo turno, PT ‘recebe’ 1.568 votos em Goiânia
Legendas que não disputaram a segunda etapa somaram 30 mil eleitores
Voto de protesto ou lealdade partidária? Mais de 30 mil eleitores optaram por votar no segundo turno em legendas que não estavam na disputa, optando por anular o voto em Goiânia, nas eleições que se encerraram no último dia 27 de outubro, revela levantamento feito pelo Mais Goiás. Por exemplo, 1.568 eleitores optaram por digitar o número “13”, número representado pelo Partido dos Trabalhadores, nas urnas.
No primeiro turno, a legenda disputou a eleição com a candidatura da deputada federal Adriana Accorsi, que ficou em terceiro lugar na disputa. O partido optou pela neutralidade no segundo turno da eleição, mas viu lideranças dentro da própria sigla declararem ‘voto crítico’ na candidatura do ex-deputado federal Sandro Mabel (União Brasil), eleito no dia 27.
O fenômeno também se repetiu em outras legendas: o PSDB, representado no primeiro turno pelo jornalista Matheus Ribeiro, recebeu 1.035 votos no segundo turno. O MDB, que tradicionalmente disputa eleições em Goiás e optou pelo apoio a Sandro Mabel, registrou 626 votos em seu número “15” nas urnas.
Outros partidos, como o PSD e o PSOL, também foram lembrados pelos eleitores. Foram 376 e 145 votos, respectivamente. O Solidariedade, que no primeiro turno lançou o prefeito Rogério Cruz, terminou em sexto lugar, mas ainda assim foi lembrado nas urnas com 284 votos no número “77”.
O cientista político e professor Guilherme Carvalho analisa ao Mais Goiás que esses votos nulos indicam mais do que um simples erro: são uma demonstração de insatisfação ou protesto. “O voto no 45, por exemplo, é um voto de protesto; o voto no 13 pode até ter erro, mas com certeza é protesto. No segundo turno, o eleitor é forçado a escolher entre dois candidatos, e quando ambos pertencem ao mesmo campo ideológico, parte do eleitorado se sente órfão”, explica Carvalho. “No caso de Goiânia, as duas opções estavam à direita, deixando muitos eleitores à esquerda sem opção, e eles acabam marcando sua posição mesmo sem candidato.”
Carvalho destaca que a decisão de votar em um número sem representação oficial nas urnas, mesmo com o custo de sair de casa para votar, mostra um grande apego ideológico. “Esse fenômeno precisa ser estudado não só pela ciência política, mas talvez até pela psicanálise, para entender as motivações ideológicas e a forte rejeição aos nomes postos na disputa. Esse tipo de voto, embora sem impacto prático, representa a tentativa do eleitor de expressar seu posicionamento político e suas insatisfações”, afirma o professor.