Brasília

‘Meu partido me botou lá dentro’, diz jovem de 19 anos com cargo no Ministério do Trabalho

Mikael Tavares Medeiros, o jovem de 19 anos nomeado pelo ministro interino do Trabalho, Helton…

Mikael Tavares Medeiros, o jovem de 19 anos nomeado pelo ministro interino do Trabalho, Helton Yomura, para autorizar pagamentos da pasta de quase meio bilhão de reais por ano, chegou ao cargo por indicação de seu partido, segundo afirmou o rapaz por telefone ao GLOBO no início da tarde desta sexta-feira  (9). Mikael é oficialmente filiado ao Partido da Mulher Brasileira (PMB), conforme os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas o apadrinhamento para entrar no Ministério do Trabalho partiu do PTB.

O pai do jovem, o delegado da Polícia Civil Cristiomario de Sousa Medeiros, é presidente do PTB em Planaltina de Goiás, no entorno do Distrito Federal, onde busca votos numa pré-candidatura a deputado estadual. Cristiomario afirmou que a indicação do filho pode ter partido do deputado Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara, de quem é aliado de primeira ordem. Mikael foi levado por Cristiomario para as reuniões e a vida política do partido, com a sugestão de que buscasse emprego a partir de indicações políticas dos caciques da sigla.

Questionado sobre quem o indicou ao Ministério do Trabalho, controlado pelo PTB, Mikael respondeu:

— O meu partido.

— Qual é o seu partido?

— O que me botou lá dentro, você já disse qual é o meu partido.

— Mas quem dentro do seu partido? Roberto Jefferson, Jovair Arantes, seu pai?

— O meu partido. Estou apressado, vou dirigir agora.

Reportagem publicada pelo GLOBO na quinta-feira revelou que Mikael foi nomeado ao cargo comissionado de coordenador de documentação e informação do Ministério do Trabalho em outubro de 2017. Em 28 de dezembro, o atual ministro o colocou na função de gestor financeiro dos pagamentos da Coordenação Geral de Recursos Logísticos – em 2017, foram R$ 473 milhões em pagamentos.

No dia seguinte, 29 de dezembro, Mikael liberou um pagamento de R$ 22,49 milhões à empresa B2T, que presta serviços antifraude ao ministério. Uma auditoria do Ministério da Transparência e Controladoria Geral da União (CGU) apontou superfaturamento nos contratos com a B2T e recomendou a paralisação de pagamentos à empresa.

Servidores de carreira se recusavam a fazer esses pagamentos. Mikael, então, foi colocado na função de gestor financeiro dos pagamentos. O jovem precisou fazer uma prova de recuperação para concluir o ensino médio; trabalhou como vendedor de óculos numa loja em Planaltina de Goiás por indicação do pai; e estava desempregado meses antes de ganhar o cargo no ministério.

Segundo Mikael, na conversa por telefone, “o que está dito já está de bom tamanho”. Primeiro, ele afirmou que mora num barraco de madeirite com a mãe “há vários anos”, na região do Varjão, periferia de Brasília. A mãe, Luciana Tavares Dias, tem outros três filhos e é beneficiária do Bolsa Família. Recebe R$ 163 por mês. Mikael ainda não foi excluído do cadastro do programa, segundo ela.

Luciana disse que tenta excluí-lo do cadastro e que o filho já não vive mais com ela, nem colabora com a renda que recebe no Ministério do Trabalho — o salário bruto do jovem é de R$ 5,1 mil, o que seria suficiente para invalidar o pagamento do Bolsa Família. Diante dessa informação, Mikael mudou a versão:

– Eu mudei de casa. Irmão, agora eu estou ocupado, tenho de buscar minha mulher na faculdade.

A reportagem ligou para o deputado Jovair Arantes. Um assessor atendeu à ligação. Segundo a assessoria do parlamentar, o fato de o pai de Mikael ser presidente do PTB em Planaltina de Goiás, ser aliado do deputado e ter dito que a indicação pode ter partido do líder na Câmara, não significa que a indicação de fato partiu dele. A assessoria afirmou não saber dizer se Jovair conhece Mikael. “O esclarecimento tem de partir do próprio ministério”, disse.

O GLOBO tentou falar nesta sexta-feira com o ministro Helton Yomura. A reportagem questionou o ministro, apadrinhado pelo presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, de quem partiu a indicação de Mikael e se ele continuará no cargo. Ele não quis responder e encaminhou à assessoria de imprensa. A assessoria ainda não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a indicação do jovem e sobre a continuidade dele no cargo.

Na primeira resposta à reportagem, o ministério sustentou que Mikael “tem alto grau de responsabilidade”. “Não levamos em conta sua idade, mas sim sua capacidade. Sua nomeação seguiu critérios de conduta ilibada e comprometimento”, disse a pasta, por meio da assessoria de imprensa.