Ministro diz que quem apoia candidatos anti-Temer deve deixar governo
Com o governo sem força, o recado não passa de demonstrações de contrariedade
O Palácio do Planalto passou a emitir a aliados sinais de sua insatisfação com eventuais apoios a candidaturas críticas ao governo Michel Temer, mais especificamente às de Ciro Gomes (PDT-CE) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Sinceramente, espero que os partidos que apoiam Ciro Gomes deixem o governo”, afirmou o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), que tem levado a insatisfação a lideranças de partidos da base, principalmente aos que formam o chamado centrão -DEM, PP, SD, PRB e PSC.
No entanto, com o governo sem força, o recado não passa de demonstrações de contrariedade. Questionado se as ameaças se tornariam uma ação concreta, com a demissão de quadros desses partidos, o ministro tergiversou. “Não sei. Cada dia, uma agonia”, afirmou.
Representantes dos partidos que discutem a possibilidade de apoiar Ciro Gomes afirmam reservadamente que Temer não tem condições de pressioná-los, pois ficaria sem base para aprovar projetos até o final de seu governo.
Marun focou suas críticas a Ciro Gomes, pré-candidato que se refere a Temer com termos como “quadrilheiro”. “Quero destacar outras coisas, a completa hipocrisia do candidato Ciro Gomes ao buscar apoio de partidos que estão no governo para sua candidatura naquela ideia do ganhar de qualquer jeito para depois ver o que vai fazer”, afirmou Marun.
“O simples fato do candidato Ciro Gomes estar procurando os partidos que estão no governo é uma demonstração da sua completa inaptidão para o exercício da função”, disse o ministro.
Questionado se a ameaça valia também para o PR, partido que cogita apoiar Jair Bolsonaro (PSL-RJ), Marun disse que o militar reformado foi “desastrado” na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff ao homenagear o coronel reformado Carlos Brilhante Ustra, reconhecido como torturador no período da ditadura militar, mas ao menos não fez crítica ao governo Temer.
“O Bolsonaro também é um candidato que eu torço para não vencer a eleição. A única coisa que tem é que ele votou a favor do impeachment, um voto até desastrado nas suas palavras. Mas pelo menos ele não começa nos chamando de golpista”, afirmou Marun.
O ministro negou que esteja exigindo que os aliados votem no ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, candidato do MDB, partido de Temer, à Presidência da República. Disse que a recomendação é que as legendas se aglutinem em torno de candidatos que pelo menos não subam no palanque para dizer que é errado o que fizeram e citou Geraldo Alckmin (PSDB) como alternativa.
“O Alckmin, mesmo que não tenha tido posições claras em algum momento, é um outro tipo de candidato. Não estou dizendo que ou apoia o Meirelles ou sai do governo. Já que nosso governo é de coalizão, entendo que aqueles que apoiarem quem tem propostas reformistas, mesmo que não seja o da minha preferência, acredito que aí não existe contrassenso, não vejo incoerência”, afirmou.
Sobre a candidatura de Henrique Meirelles, Marun reconheceu que ela foi prejudicada pela greve dos caminhoneiros, que agravou a crise econômica, mas disse esperar que o ex-ministro da Fazenda saia da “turma do 1%”, uma menção ao máximo de intenções de voto que o pré-candidato atingiu em pesquisas.
Questionado sobre o papel de Michel Temer na campanha, Carlos Marun disse que ele iria governar e que, se fosse candidato, gostaria de ter o presidente em seu palanque, apesar da rejeição de 82% do emedebista. “Existe desaprovação, mas não repúdio”, relativizou o ministro.