“Monopólio dos protestos de rua acabou”, diz cientista político
Analistas afirmam que movimento tende a crescer
Pelo menos 20 capitais do País realizaram atos pela democracia no último domingo (7). Em Goiânia, a mobilização teve início na Praça Cívica, às 15h, e teve cerca de 500 pessoas, segundo a organização – a Polícia Militar não fez a contagem. O professor e consultor de marketing político Marcos Marinho, que é mestre em comunicação e doutorando nessa área, afirma que os atos deixaram claro que o monopólio das ruas acabou.
Para ele, se antes só se via um “arremedo” de apoio popular ao presidente Bolsonaro, agora o jogo virou. “No último domingo, as ruas foram tomadas por muitas pessoas em grandes cidades, em movimento constante, ainda que bastante difuso, porém que tem como pilar central a rejeição a Bolsonaro.”
De acordo com o cientista político, quanto mais o governo reforçar a agressividade contra esses grupos e tentar forçar uma criminalização, mais isso irá alimentar a repulsa em relação a ele. “O movimento é difuso, com várias pautas (inclusive conflitantes), mas é suficiente para um momento inicial de mobilização social. Dá para perceber que tende a crescer e não está maior por causa da pandemia. As pessoas têm medo de se arriscar, e com razão.”
Cenário
Para Marinho, se antes podia ser visto apenas notas de repúdio e manifestações de forma online, agora isso se rompeu. “O povo está bastante consciente de seu desejo. As pautas são pesadas: antirracismo, antifascismo, luta democrática… Elementos que há muitas semanas o governo vinha reforçando.” O professor lembra que Bolsonaro, em diversas ocasiões, esteve em atos com pedidos de fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Então, a manifestação rompeu um silêncio que precisava ser rompido. E quanto mais gente o Bolsonaro se colocar contra, mais irá arregimentar pessoas”, diz Marinho. Na avaliação do professor Luiz Signates, doutor em Ciências da Comunicação e Especialista em Políticas Públicas, trata-se de “um episódio normal da democracia”.
Para ele, a “direita bolsonarista vai acusar de terrorismo (mesmo o movimento Antifas não é terrorista, nem nunca foi) e parte da esquerda vai achar temerário, por consciência da própria pandemia – mas penso que terminará aderindo, caso o movimento ganhe força”.
Erros de Bolsonaro
De acordo Signates, o povo nas ruas com grau de concentração superior aos que ainda apoiam Bolsonaro é consequência direta dos erros do governo, tanto no campo da saúde, quanto no da economia. “E, evidentemente, do esfarinhamento do prestígio de Jair Bolsonaro, que, hoje, só consegue apoio explícito de um segmento pequeno da população e dos políticos que consegue comprar com o loteamento de cargos”, avalia.
O prognóstico do doutor em Ciências da Comunicação e Especialista em Políticas Públicas é semelhante ao de Marinho: o movimento tende a crescer. “E, se não houver resposta das instituições, pode recrudescer com a violência policial e as ações dos mais radicais. Não creio, contudo, em guerra civil ou coisa parecida, mas, sim, em conflitos abertos de rua, que repercutirão internacionalmente em mais desgaste para o Planalto”, prevê.