Moro diz que não desistiu de nada um dia após abrir mão de eleição à Presidência
Um dia após se filiar à União Brasil e anunciar que abria mão de sua…
Um dia após se filiar à União Brasil e anunciar que abria mão de sua candidatura ao Palácio do Planalto, Sergio Moro voltou a flertar com a disputa presidencial ao dizer que não desistiu de nada.
O ex-juiz anunciou nesta sexta-feira (1º) que não será candidato a deputado federal, fez acenos para agrupar a terceira via e afirmou que saiu do Podemos e entrou na União Brasil visando a unificação do centro democrático.
“Eu não desisti de nada, muito pelo contrário, muito menos do meu sonho de mudar o Brasil”, disse.
O movimento de Moro provocou reação imediata de uma ala da União Brasil que é contrária à candidatura dele ao Planalto e que só aceitou a filiação do ex-juiz condicionada ao compromisso de desistência dele da disputa presidencial.
O secretário-geral da União Brasil, ACM Neto, e outros oito dirigentes do partido anunciaram um pedido para invalidar a filiação de Moro.
ACM Neto afirmou que esse requerimento de impugnação da filiação seria assinado por oito membros com direito a voto no partido, correspondendo a 49% do colegiado.
O estatuto da sigla determina que toda decisão deve ser colegiada e precisa de pelo menos 60% da executiva nacional para ser referendada. Com isso, a ala ligada a ACM Neto avalia que não seria possível ao grupo pró-Moro conseguir apoio suficiente para manter a filiação.
A reação foi anunciada após pronunciamento de Moro em São Paulo durante a tarde.
O ex-juiz afirmou que a terceira via não pode ser um projeto individual e que se filiou à União Brasil, como um “movimento político” que “exigiu desprendimento e humildade”, para ajudar nesse processo. Fez ainda um apelo para a reunião de “todos”, inclusive do Podemos, um dia após ter deixado a legenda.
“Não colocarei meus interesses pessoais à frente dos interesses do país. Precisamos de outros atos de desprendimento, de Luiz Felipe D’Ávilla, João Doria, Eduardo Leite, Simone Tebet, André Janones, e de lideranças partidárias, para fazer prosperar essa articulação democrática”, disse.
Moro voltou a criticar os dois líderes das pesquisas na corrida eleitoral para a Presidência, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).
“Para livrar o Brasil desses extremos, coloquei o meu nome à disposição do país. Não tenho ambição por cargos. Se tivesse, teria permanecido juiz federal ou ministro da Justiça. Também não tenho necessidade de foro privilegiado ou outros privilégios que sempre repudiei e defendo a extinção”, afirmou.
Na quinta-feira (31), Moro disse abrir mão, “nesse momento”, de sua pré-candidatura à Presidência após sair do Podemos e assinar a ficha de filiação à União Brasil em São Paulo.
“Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor”, afirmou.
O gesto ocorreu como forma de driblar a resistência à sua entrada na União Brasil. Mas, como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, aliados de Moro admitiam sob reserva que ele não havia desistido do plano de concorrer ao Palácio do Planalto.
O ex-juiz chegou a redigir uma primeira nota informando a respeito da filiação no partido, mas que não mencionava a desistência na corrida presidencial.
Esse primeiro documento chegou às mãos de integrantes da ala do partido que resiste ao ex-ministro, capitaneada pelo secretário-geral do partido, ACM Neto. Insatisfeito com o teor do texto, o grupo decidiu divulgar posicionamento com veto à candidatura presidencial do ex-ministro.
No documento, eles dizem respeitar a trajetória de Moro e que ele pode “contribuir para o cenário político nacional”, mas não na disputa pelo Palácio do Planalto.
Nesta sexta, o deputado Alexandre Leite (União Brasil), tesoureiro da União Brasil em São Paulo, afirmou em nota que a filiação de Moro ocorreu com a “concordância” de que ele faria um projeto para o estado, que incluiria a disputa ao Senado, a deputado federal ou estadual.
“Em caso de insistência em um projeto nacional, o partido vai impugnar a ficha de filiação de Moro”, disse o parlamentar.
A investida da ala composta por integrantes da União Brasil oriunda do DEM é atacada por outro grupo que é entusiasta da candidatura presidencial de Moro.
“Um partido não pode tratar um filiado desta forma. Um filiado entra sem nenhuma segurança ou certeza [de qual cargo vai disputar]. Ele é um ativo, um trunfo eleitoral, que vai gerar dividendos para o partido. Não pode criar relação que não seja dentro de uma harmonia e maturidade”, diz o deputado Júnior Bozella (União Brasil-SP).
“O partido que nasce defendendo as liberdades não vai praticar a democracia interna? Não se pode tratar o partido com coronelismo. Vamos criar uma ala bolsonarista novamente dentro da União Brasil? Repetir os erros do passado? Nada tem que ser goela a baixo, sobre um filiado que vai se submeter ao crivo do partido”, continuou o deputado.
Em meio ao racha em seu partido, ACM Neto recebeu convite do PSDB nesta sexta para se filiar à sigla. O convite foi anunciado horas após a União Brasil chamar o governador paulista, Rodrigo Garcia (PSDB), para também mudar de partido, um dia após vaivém de João Doria (PSDB) que irritou aliados.
Doria ensaiou se manter no cargo de governador de São Paulo e abandonar a pretensão de concorrer ao Planalto, mas recuou horas depois e manteve a candidatura -vista com desconfiança após a oscilação.
Na avaliação de aliados de Lula e Bolsonaro, as mudanças fortalecem a polarização entre os dois primeiros colocados nas pesquisas. Apesar disso, na terceira via, alguns setores consideram haver a oportunidade de unificação em torno de algum nome mais competitivo.
A mais recente pesquisa Datafolha mostrou Lula com 43% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro, 8% de Moro, 6% de Ciro Gomes (PDT), 2% de Doria e 1% de Simone Tebet (MDB).