ELEIÇÕES

Novo aliado de Lula, Janones critica a esquerda por ‘viver em uma bolha’

Deputado, que abriu mão de candidatura à Presidência para apoiar o petista, cobrou saída 'das fiesps da vida, da USP e do Twitter'

Novo aliado de Lula, Janones critica a esquerda por 'viver em uma bolha' (Foto: Divulgação)

O deputado federal André Janones (Avante), que na semana passada desistiu de disputar a Presidência para apoiar o petista Luiz Inácio Lula da Silva, postou, nesta sexta-feira, uma longa série de mensagens no Twitter em que tece críticas a militantes de esquerda. A análise do parlamentar vem um dia depois de atos pró-democracia acontecerem em diversas instituições do Brasil, sobretudo universidades públicas, como a USP, onde foi lida a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito“.

“Enquanto a esquerda não trocar ‘renda mínima’ por ‘dinheiro pro povo’, ‘carta em defesa da democracia’ ‘ao invés de ‘carta em defesa do povo’, e ‘nossas diretrizes de programa’ por ‘nossas propostas para os brasileiros’, o bolsonarismo continuará nadando de braçadas”, alertou Janones no início da mensagem. “Não há nenhum problema em se viver em uma bolha, todos nós vivemos, até certa medida, em alguma. O problema acontece quando não percebemos isso, e tomamos a nossa realidade paralela, no caso a nossa bolha, como a realidade factual”, prosseguiu o deputado.

Na sequência, Janones lembra que “a internet permitiu a ascensão de todas as classes do ponto de vista de comunicação”. Na visão do parlamentar, “todos falam e, com a devida proporção, formam opinião”. O deputado faz, então, uma comparação entre artistas: “A arrogância de alguns setores da elite intelectual não lhes permite compreender que João Gomes, com o seu ‘piseiro’, forma mais opinião hoje do que Chico e Caetano com sua genialidade”.

“Essas eleições serão decididas nas cidades interioranas, cidade de 2, 3, 20 mil habitantes, totalmente fora do radar da esquerda, mas onde o bolsonarismo tem livre acesso”, acredita Janones. “Por lá, o Face e o WhatsApp, por exemplo, não são uma rede, mas sim um ‘jornal'”. Ele arrematata: “O que sai por lá, vira verdade absoluta, instantaneamente. E o bolsonarismo sabe bem disso”.

Janones também argumenta que essa parcela da população se sente “amparada por Bolsonaro”, que geraria nela uma “sensação de pertencimento”, em um “pensamento lógico e compreensível”. Para o deputado, essas pessoas acham “preferível alguém que faz piada comigo e fala besteira o tempo todo, do que alguém que nem sabe que eu existo”.

“Ou a gente sai das fiesps da vida, da USP e do Twitter e tomemos os grupos de Whats, as comunidades, as feiras populares e o interior do país, ou já era. Chega de esperar que o povo venha até nós, é hora de irmos ao povo!”, conclui o deputado federal, cuja parceria com Lula é vista como um potencial propulsor do petista justamente nas redes sociais.

Janones é considerado um fenômeno online, engajado principalmente com pessoas interessadas no Auxílio Brasil. De acordo com o levantamento, o deputado mineiro foi responsável por seis das dez principais publicações no Facebook sobre o Auxílio Brasil, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) possuí três. A expectativa é que a audiência cativa nas redes de Janones — suas 200 principais publicações no Facebook neste ano renderam mais de 15 milhões de interações — pode ser capitalizado pela campanha do petista nas redes.

O tom do discurso de Janones lembra outro momento de críticas públicas de um aliado do PT. Em 2018, na semana anterior ao segundo turno das eleições presidenciais, que acabariam vencidas por Jair Bolsonaro, o rapper Mano Brown subiu ao palco, na Lapa, Região Central do Rio, para participar de um evento do candidato petista, Fernando Haddad. Diante do ex-prefeito de São Paulo e da então aspirante a vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), o artista não hesitou em colocar o dedo na ferida:

— Se o pessoal daqui falhou, agora vai pagar o preço. Porque a comunicação é alma, e, se não está falando a língua do povo, vai perder mesmo, certo? — disparou Mano Brown, que não se incomodou com as vaias e continuou: — Falar bem do PT para a torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que não está aqui que precisa ser conquistada ou a gente vai cair no precipício.

Apesar do mal-estar gerado pela fala contundente do rapper no evento, o próprio Haddad concordou com o artista dias depois. “O Mano Brown tem toda razão. Precisamos voltar pra periferia de coração aberto porque a periferia não votou com a gente no primeiro turno. Vamos voltar para a base pra governar o Brasil com a base, como sempre fizemos”, escreveu o candidato petista no Twitter à época. Dias depois, Bolsonaro superaria Haddad por uma vantagem de mais de dez milhões de votos no segundo turno — 57,8 milhões (55,1%) contra 47 milhões (44,9%).