O impeachment da presidente Dilma Rousseff nesta quarta-feira no Senado coloca fim a um processo que consumiu o Brasil por meses. A saída da primeira mulher a comandar o país foi muito mais do que um julgamento sobre a culpa de qualquer crime, mas um veredito sobre a liderança de Dilma e o “destino escorregadio” da maior economia da América Latina. Avaliação é do The New York Times em texto publicado logo após a votação.
“O Senado votou por 61 votos a 20 para condenar Dilma Rousseff pelo crime de manipular o orçamento federal em um esforço para resolver os crescentes problemas econômicos do país”, afirma o Times na tarde desta quarta-feira. “O impeachment dividiu a nação e agitou as paixões dos dois lados.”
“O impedimento põe um fim definitivo a 13 anos de governo do PT”, afirma o Times. A era petista, ressalta o maior jornal dos EUA, foi marcada por prosperidade econômica, melhora da renda da população e uma presença maior do Brasil no cenário externo. Mas um amplo escândalo de corrupção, a pior crise econômica em décadas e a falta de resposta do governo para a continuada piora do humor no país abriu espaço para a perda de popularidade de Dilma, deixando a presidente com pouco apoio para enfrentar seus rivais.
“Para muitos de seus críticos, o impeachment foi uma queda apropriada para uma líder arrogante no comando de um movimento político que perdeu seu rumo”, afirma o Times. “Mas Dilma Rousseff e seus apoiadores classificaram sua saída como um golpe que mina a jovem democracia do Brasil.”
O Times menciona que o impedimento de Dilma pode não restaurar a credibilidade na política brasileira, na medida em que o partido que a substitui, o PMDB, também é acusado de irregularidades, transferindo o poder de um “partido flagelado por escândalos para outro”. O texto lembra que ministros de Temer caíram por conta de acusações de corrupção.
O Times destaca ainda que alguns empresários e investidores brasileiros, além de figurões da política, acreditam que Temer terá a “capacidade política” necessária para conseguir apoio no fragmentado Congresso e implementar “medidas ambiciosas” que têm como objetivo melhorar as contas públicas e retomar os investimentos na combalida economia brasileira.
Outros líderes, incluindo Dilma, destaca a reportagem, acreditam que o impeachment vai aumentar a divisão no Brasil e a turbulência política em Brasília. (Altamiro Silva Junior, correspondente, altamiro.junior@estadao.com)