O dia em que Iris Rezende parou para me ouvir
Iris tinha o olhar interessado pelo que eu tinha a dizer, embora eu nunca tenha descoberto se eu realmente tinha sua concentração
Depois de lutar meses com as complicações de um AVC, Iris Rezende veio a óbito na madrugada de hoje (09/11). Perdemos um dos personagens mais interessantes da política brasileira. Um dos poucos ícones que Goiás emprestou ao Brasil.
Sim, raros goianos da política conseguiram atravessar o Paranaíba e se transformaram em voz respeitada país afora. Iris está nesse seleto rol.
Meu momento particular com ele se deu no ano de 2010.
Eu já havia o entrevistado várias vezes, estado com ele em situações públicas outras inúmeras, mas essa ocasião foi diferente.
Corria a campanha para o Governo de Goiás. A equipe pemedebista elaborou uma estratégia em que membros de diferentes setores da sociedade goiana teriam uma conversa particular com o candidato. Acharam que eu deveria conversar com Iris sobre a cultura jovem de Goiás.
Cheguei ao prédio da Stylus Propaganda e fui levado a uma sala onde estavam alguns deputados do PMDB, assessores e o publicitário Hamilton Carneiro, responsável pelo marketing da campanha. Conversamos amenidades, me serviram um cafezinho.
Até que Iris entra na sala. O magnetismo de sua figura era impressionante. Ele se sentou na cabeceira da mesa e falou por 40 minutos ininterruptos. Contou história de Campinas, lembrou de outras disputas eleitorais, citou encontros com figuras históricas.
Em certo momento, Hamilton conseguiu interromper o candidato e me apresentou a Iris. Todos saíram da sala e fiquei a sós com ele. Iris me chamou para o sofá que tinha num canto da sala, sentou-se ao meu lado e me ouviu.
Fui à forra.
Falei sem parar por 15 minutos. Ele me olhava nos olhos, anuía com a cabeça. Ouvia com atenção. Não tomava nota, não fazia perguntas. Só ouvia. Nunca imaginei que teria os ouvidos de Iris disponíveis para que eu jogasse ali minhas ideias tortas.
Não sei se ele prestou atenção no que eu disse. Não sei se aproveitou algo que falei. Sei que ele foi respeitoso com minha presença no curto período em que estivemos a sós.
Depois de 15 minutos, toda a trupe voltou à sala. Já era hora dele receber outra pessoa, de outro segmento, com outras demandas. Ele me agradeceu, apertou minha mão e pediu meu voto, é claro. Não poderia ser diferente.
@pablokossa/Mais Goiás | Foto: Reprodução – Instagram