Pacheco pede respeito a resultado de eleições, e Lira fala em interesses políticos só em outubro
Aliado de Bolsonaro, Lira ainda manda recado velado a Lula ao dizer que 'retrocessos discricionários' não serão permitidos
Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arhur Lira (PP-AL), divergiram nesta quarta-feira (2) em seus discursos sobre preocupações e riscos das eleições gerais deste ano, durante cerimônia de reabertura dos trabalhos legislativos, no Congresso. Enquanto Pacheco afirmou que um dos desafios do ano será a “defesa da democracia”, o deputado afirmou que os interesses políticos dos envolvidos devem ficar para outubro.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), Lira ainda mandou um recado velado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao dizer que, independente da conjuntura futura, retrocessos discricionários “e quiçá imperiais” não serão permitidos.
“Nunca é demais reiterar a soberania do Parlamento. Aqui, nos últimos anos, muitas conquistas foram construídas e alcançadas com discussão, debate e, principalmente, pelo voto de cada um de nós”, disse.
“Quero ressaltar que, independentemente da conjuntura futura, o que o Brasil conseguiu aqui é definitivo. E como Poder mais transparente e democrático da República não permitiremos retrocessos discricionários e quiçá imperiais.”
O ex-presidente Lula tem sinalizado interesse em reverter a reforma trabalhista, afirmando que não gerou empregos. Ele também contestou a prioridade dada ao teto de gastos, mecanismo que corrige as despesas pela inflação acumulada em 12 meses.
Lira, que falou antes de Pacheco, pediu que todos deixem as eleições para outubro. “Deixemos os interesses políticos para outubro e agora trabalhemos com ainda mais afinco e unidos para aprovar as medidas que são tão necessárias para o país e para os brasileiros.”
“As disputas e tensionamentos devem ficar para o momento de campanha. Agora o momento é união e diálogo porque o País tem pressa”, disse.
As críticas de Pacheco foram feitas quando estava ao lado de Bolsonaro, que já questionou a lisura das eleições, afirmou sem provas que venceu no primeiro turno o pleito de 2018 e levantou dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de urnas eletrônicas.
“Sabemos que este ano é um ano especialmente árduo do ponto de vista político, tendo em vista a proximidade das eleições. Num ano de eleições gerais, caberá ao povo bem escolher seus representantes no momento certo; aos vencedores, façam um mandato eficiente, prestem um bom serviço; e aos perdedores, respeitem o resultado das urnas”, afirmou o presidente do Senado.
Pacheco também afirmou que um dos desafios desse ano será a “defesa da democracia”. E também disse ser fundamental que o processo eleitoral não seja prejudicado pelo disparo de informações falsas.
“É fundamental garantir que o processo eleitoral não seja afetado por manipulação, não afetado por disparos que gerem desinformação. Dos candidatos, acreditemos no debate de ideias, concretude de propostas e respeito às divergências; das instituições da República, esperemos a fiscalização e punição daqueles que atentem contra o processo eleitoral; do eleitor, roguemos senso crítico e responsabilidade para distinguir dentro da sua liberdade fatos verdadeiros das inaceitáveis fake news”, completou.
Pacheco criticou o negacionismo no enfrentamento da pandemia da Covid-19 e a disseminação de informações falsas, em um momento de crise sanitária. Ainda ao lado de Bolsonaro, citou que os brasileiros passaram a usar máscara para evitar a infecção —o presidente já foi multado por não usar o item de segurança— e defendeu a vacinação em massa.
“Paradoxalmente, o avançado estágio da ciência, o amplo acesso à informação, a rápida velocidade dos meios de comunicação, que tão bem poderiam servir ao combate eficaz da doença, também serviram a propósitos invertidos que, com o desvirtuamento dos mesmos instrumentos modernos, atentaram contra a saúde pública através da difusão impressionante de desinformação”, afirmou.
“Foi necessário muito sacrifício até aqui. Se hoje podemos chegar à condição de endemia, o que nos permitirá retomar um pouco da normalidade, foi porque adotamos medidas de proteção dos mais vulneráveis e nos vacinamos em grande escala”, completou.
Em algumas partes do discurso, Lira alfinetou o Senado, onde estão travados alguns projetos já aprovados pela Câmara.
Em um dos trechos, ele lembrou que os deputados aprovaram proposta que muda as regras do Imposto de Renda, que, afirmou, tem vários méritos, “inclusive o de buscar a justiça tributária ao revogar isenções, instituir o imposto sobre dividendos, reduzir o imposto da pessoa jurídica, e atualizar a tabela da pessoa física, reduzindo ou eliminando a exação para a população mais pobre.”
O presidente da Câmara lembrou ainda do projeto, também aprovado pelos deputados, que muda o cálculo do ICMS para tentar conter a alta nos preços dos combustíveis.
“Esta Casa entende que a solução mitigaria, em parte, as variações dos preços do petróleo. Sabemos que existe quem defenda solução diversa. Não há problema nisso.”
“Podemos discutir e evoluir para a construção de uma solução conjunta. O que não se pode fazer, em nossa visão, é protelar indefinidamente o assunto e ignorar os efeitos de seus impactos perversos sobre a economia nacional e a sociedade brasileira.”