País terá seis prefeitos negros nas 26 capitais, menos do que na eleição de 2020
Ao todo, 1.850 negros assumem prefeituras em 2025, 57 a mais do que no pleito passado. São dados do Tribunal Superior Eleitoral
(Folhapress) A partir do próximo ano, 6 das 26 capitais brasileiras terão prefeitos autodeclarados negros. Todos são homens e pardos no registro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O número é menor do que o da última eleição municipal, quando oito pessoas pardas assumiram cargos no Executivo municipal.
No primeiro turno, foram eleitos Tião Bocalom (PL), em Rio Branco, Arthur Henrique (MDB), em Boa Vista, e João Henrique Caldas (PL), em Maceió.
No segundo, Cícero Lucena (PP) venceu em João Pessoa, Sebastião Melo, em Porto Alegre, e David Almeida (Avante), em Manaus.
Ao todo, 1.850 negros assumem prefeituras em 2025, 57 a mais do que no pleito passado. Desse total, 127 se autodeclararam pretos, e 1.723, pardos. Os dados consideram candidatos com situação válida, que não tiveram o resultado anulado sub judice.
Os prefeitos negros representam 33,5% de todos os eleitos para os Executivos municipais. A maior parcela é representada por brancos, 65,8% do total. Amarelos e indígenas respondem por 0,2% cada grupo.
Os resultados finais não se aproximam da realidade racial brasileira. A população do país é composta por 55,5% de pessoas autodeclaradas pretas e pardas e 43,4%, brancas, segundo dados do Censo 2022 do IBGE. Indígenas e amarelos representam, respectivamente, 0,6% e 0,4%.
Segundo análise da Folha, os únicos estados em que a proporção de prefeitos negros se equipara ou supera a porcentagem de população negra são Amazonas (80,6% dos eleitos) e Acre (77,3%). No Amazonas, 73,7% dos residentes se autodeclaram pretos ou pardos, enquanto no Acre são 74,8%.
Na outra ponta do ranking, o estado com maior diferença entre a proporção de negros eleitos e na população é o Rio de Janeiro, onde 57,8% da população é negra e apenas 11,5% dos prefeitos assim se declaram.
A discrepância chama a atenção para a necessidade de uma representação política que priorize o pertencimento de grupos sistematicamente discriminados pelas estruturas políticas e econômicas da sociedade, diz Graziella Testa, professora na FGV (Fundação Getulio Vargas).
“Mesmo que os membros desses grupos estejam em partidos políticos diversos, o ponto que se assume é que a forma como eles olham para o mundo, as perspectivas, são semelhantes. Seria interessante se tivéssemos um mínimo de espelhamento desses membros na sociedade na representação política”, afirma.
Na perspectiva de gênero, os dados ainda mostram que, de todos os eleitos, os homens negros representam 29,1% dos que conquistaram uma vaga, enquanto as mulheres negras são 4,4%. Em números absolutos, são 1.609 homens e 241 mulheres.
A maioria dos prefeitos negros são de partidos do centro político, 49,3% dos eleitos. Direita e esquerda respondem, respectivamente, por 33,8% e 16,9%.
Para a definição ideológica, a reportagem usa o GPS partidário, modelo estatístico criado pela Folha para medir a proximidade entre as legendas a partir de quatro variáveis –coligações, votações na Câmara dos Deputados, trocas de legendas e composição de frentes parlamentares.
Em relação às candidaturas, as eleições deste ano foram a segunda consecutiva com mais autodeclarados pretos e pardos do que brancos. Segundo dados do TSE, 188 mil pardos e 51,7 mil pretos pleitearam uma vaga na disputa eleitoral de 2024. Juntos, somaram 239,7 mil, praticamente metade (52,7%) de todas as inscrições.