Planalto

Para evitar desgaste com Maia, Temer criará ministério por medida provisória

Criação da pasta de Segurança Pública faz parte de estratégia do presidente de se viabilizar eleitoralmente para uma reeleição neste ano

Para evitar maior desgaste na relação com o Congresso Nacional, o presidente Michel Temer decidiu criar o novo Ministério da Segurança Pública por meio de medida provisória, que deve ser publicada na terça-feira (27).

Em reunião na noite deste domingo (25), no Palácio do Jaburu, o emedebista avaliou que um decreto, apesar de evitar uma derrota na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, poderia piorar a relação com o Poder Legislativo, que seria alijado do processo.

No encontro, o presidente ressaltou que o texto da medida provisória irá vincular à nova pasta o comando da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária, Força Nacional e do Departamento Penitenciário.

Segundo relatos de presentes, ele disse ainda que o nome do novo ministro será anunciado depois da criação da pasta, provavelmente na próxima quinta-feira (1º). Ao todo, além do posto de ministro, serão instituídos mais dez cargos: um secretário-executivo e nove assessores ministeriais. O restante será transferido do Ministério da Justiça.

Com dificuldades de encontrar um nome de peso que aceite assumir a estrutura, o presidente voltou a cogitar uma solução caseira: a nomeação do ministro Raul Jungmann (Defesa) ou do ministro Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), que já têm assumido protagonismo nas discussões sobre o tema.

Como os dois têm apoio junto ao Congresso Nacional, facilitaria a aprovação da pasta. Temer chegou a avaliar os nomes do ex-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro José Beltrame e do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, mas o Palácio do Planalto avalia que eles teriam resistência em assumir a nova pasta.

“O presidente busca um nome com repercussão nacional, que tenha fácil interlocução com o Congresso Nacional e que seja reconhecido pelos governadores do país”, disse o ministro Torquato Jardim (Justiça), que participou do encontro.

A ideia de fazer um decreto para criar o cargo de ministro tem previsão em um decreto presidencial de 1967 e chegou a ser avaliada pelo presidente para não correr o risco do Congresso Nacional não votar uma medida provisória no prazo de 120 dias, fazendo com ela perdesse a validade e que a nova pasta fosse extinta.

A opção, contudo, irritou a base aliada, que a avaliou como uma medida polêmica, que poderia ser questionada judicialmente. O próprio Palácio do Planalto ficou apreensivo sobre o risco de questionamentos junto ao Poder Judiciário.

Nos últimos dias, iniciativas presidenciais têm sido questionadas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado Federal, Eunício Oliveira (MDB-CE), ambos críticos da edição de medidas provisórias.

Maia chegou a criticar a criação de uma nova pasta e Eunício defendeu que o ministério fosse instituído por meio de projeto de lei em regime de urgência. As declarações preocuparam o presidente, que vislumbrou a possibilidade de sofrer uma retaliação junto ao Congresso Nacional.

A criação da pasta faz parte de estratégia do presidente de se viabilizar eleitoralmente para uma reeleição neste ano. Uma pesquisa interna feita pelo MDB mostrou que a segurança pública é um dos temas que mais preocupam os brasileiros na disputa presidencial.

Com esse objetivo, a equipe de marketing do presidente pretende reforçar um perfil linha-dura, aproximando-o mais do campo da direita. A ideia é que ele apareça mais em fotos ao lado de soldados e generais e que adote um discurso mais enérgico.