Eleições 2018

Pela primeira vez, Goiás terá um policial federal gay em disputa pelo Governo Estadual

Policial há mais de 18 anos, Fabrício Rosa também é professor de ética e Direitos Humanos e pretende ser uma alternativa à esquerda nas eleições deste ano. Movimento causa disputa interna no Psol

Agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), professor de Direitos Humanos e Ética, gay assumido e de perfil político progressista, Fabrício Rosa (38) lança sua pré-candidatura ao Governo do Estado pelo Psol. Primeiro na história de Goiás a reunir essas características diante de um pleito, travará disputa pelo menos três nomes fortes alinhados à direita, como José Eliton (PSDB), Ronaldo Caiado (DEM) e Daniel Vilela (MDB). Apesar do anúncio antecipado, a pré-candidatura será oficializada no próximo 22/4, para quando está agendada uma convenção do partido.

O nome de Fabrício, que já foi candidato a vereador em 2014, foi cotado por fazer contraposição às demais candidaturas anunciadas para Goiás, de acordo com o presidente municipal da legenda Flávio Marcos. “Tem um perfil diferente, é da PRF, tem um trabalho bastante interessante em uma polícia antifascista, mais voltada aos interesses da população. É assumidamente gay e nossa intenção é ampliar as plataformas do partido, como a luta do antiproibicionismo, legalização das drogas, pautas LGBT, em favor dos trabalhadores e da juventude”.

Para o presidente, a candidatura de Fabrício representa uma alternativa à política conservadora do que chamou de “marconismo” e demais bandeiras conservadoras. “O marconismo está aí há 20 anos, e o José Eliton representa a continuidade desse projeto. Outra opção é Caiado, que também é bastante conservador. Precisamos de opções que vão além desses nomes e aqui o PT também tem suas debilidades, com alianças históricas com Íris Rezende”, analisa.

Para viabilizar a campanha, Flávio sinaliza aproximação com partidos como PCB e PSTU, além de organizações políticas como Polo Comunista e Unidade Popular. “Vamos tentar diálogo com os partidos e com essas entidades, que também possuem militância bem relevante”.

Flávio revela, entretanto, que há uma disputa interna no partido, o que é confirmado por Fabrício. “O partido tem tentado trazer pautas progressistas para o Brasil. Somos dois candidatos, o outro é o Professor Weslei Garcia de Paulo, que concorreu a uma vaga na Câmara em 2016. Ele tem maioria no Entorno do Distrito Federal e em cidades do interior, eu tenho maioria na Capital. Seremos dois candidatos ao Governo Estadual”, revela Fabrício.

Ciente do desafio de concorrer com nomes sólidos em Goiás, o pré-candidato afirma estar consciente e confiante. “Entro no pleito sabendo que nossa candidatura é pequena, mas estou confiante, no sentido de levar pautas que não seriam discutidas pelos candidatos conservadores. Quem sabe não podemos modificar o pensamento dessas pessoas par que seus mandatos possam inserir a pobreza no orçamento e no plano de governo deles, que geralmente deixam esse assunto de fora”.

Pretensões

Fabrício adianta que sua campanha e eventual governo terão quatro frentes principais: segurança pública, Direitos Humanos, Saúde e Educação. Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e mestre em Direitos Humanos, Fabrício afirma que pretende usar a experiência de mais de 18 anos como policial, federal e militar, em favor de comunidades marginalizadas. “Apesar de ser policial, acredito que a grande massa de investimento, nessa área, tem que ser nas periferias. Minha origem é pobre, sou filho de uma merendeira e de pai pedreiro, e a gente percebe que as periferias estão abandonadas”.

Nessas realidades, sem acessos, educação, cultura e esporte, jovens são conduzidos à informalidade e também à criminalidade. “Somos a favor da formalização do trabalho, desenvolvimento de projetos para incluir socialmente jovens que foram abandonados pelo atual governo estadual. Muitas vezes a criminalidade é uma resposta geradora de recursos para as necessidades básicas e de consumismo que essas pessoas, que apesar de pobres, também possuem. Então, em médio e longo prazos, podemos resolver problemas se segurança pública agindo na raiz do problema. A resposta, não está na militarização, como ocorre no Rio de Janeiro”, observa.

Na saúde, a ideia de Fabrício é atuar no que chama de Controle Social, em que – explica ele – organizações formadas por integrantes da sociedade civil atuam na fiscalização do acesso à saúde. “Isso já é feito em outros países, sobretudo, embora timidamente, no Brasil. Temos que fortalecer comitês municipais e estaduais de saúde para que possam fiscalizar como as pessoas tem acesso á saúde. Umas morrem nas filas, enquanto outras com problemas menos urgentes são atendidas. Esse é um sintoma do alastramento da corrupção no País. Queremos transparência, além de combater as Organizações Sociais (OSs). São gastos desnecessários e a escolha delas não é de qualidade, priorizando amigos do atual governo”.

Na educação, o plano também é combater OSs e a militarização. Segundo ele, policiais que estão nas salas de aula deveriam estar fazendo a segurança das ruas. “É lá que devem estar, não nas escolas. Isso não acontece em outros países do mundo ocidental. A educação deve ser civil, não militar. Nasceu aqui para atender filhos e parentes de policiais, não para atender toda a população. A formação militarizada serve para controla o filho do pobre, que deve ser disciplinado, enquanto o rico coloca seus filhos em colégios particulares civis. Isso impede a criatividade, a liberdade. Age para a uniformização do pensamento, padronização das pessoas. Achamos que esse não é o caminho”.

Fabrício revela preferir incluir a atuação em prol da comunidade LGBT na discussão de Direitos Humanos, em que, para ele, estão inclusos projetos sociais voltados para pessoas em situação de vulnerabilidade social e minorias, como os próprios LGBTs, idosos,  mulheres e negros.

“Atuo há mais de 20 anos com projetos sociais, desempenhando ações em comunidades, ocupações, que vão desde levar cesta básica à acesso à informações. Por ser gay, claro, a gente tem uma sensibilidade para lidar com ações com diversos grupos. Quanto à realidade LGBT, precisamos de políticas públicas, por exemplo, de combate à homofobia nas escolas. Não queremos privilégios. Queremos respeito, igualdade. Sofri, apanhei na escola por ser gay. Pregamos o direito de que as pessoas possam ser quem são sem serem expulsos de casa, como eu fui. Isso ainda acontece muito, então precisamos combater isso”.