Pergunta ao autor, diz Bolsonaro após endossar texto sobre país ingovernável
O compartilhamento do texto elevou a tensão dentro do governo, entre aliados e representantes de outros Poderes, com interpretações divergentes sobre as intenções do presidente
Um dia após ter compartilhado texto sobre as dificuldades de seu mandato dizendo que o Brasil “é ingovernável” sem os “conchavos” que ele se recusa a fazer, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) não quis explicar o que quis dizer com a distribuição da mensagem em grupos de WhatsApp.
A mensagem, atribuída por ele a um autor desconhecido, diz que o mandatário estaria impedido de atuar por não concordar com os interesses das corporações. “O texto? Pergunta para o autor. Eu apenas passei para meia dúzia de pessoas”, disse, na manhã deste sábado (18), na porta do Palácio da Alvorada.
Bolsonaro está encurralado por uma relação desgastada com o Congresso, suspeitas que atingem um de seus filhos e manifestações populares contra seu governo.
O compartilhamento do texto elevou a tensão dentro do governo, entre aliados e representantes de outros Poderes, com interpretações divergentes sobre as intenções do presidente ao endossar a mensagem –publicada no sábado anterior (11) em rede social por um filiado ao Novo-RJ e replicada em outros grupos. ”
Neste sábado, o gesto do presidente provocou reações. Em Londres, onde participaram de congresso, o prefeito de Salvador e presidente nacional do DEM, ACM Neto, e o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), falaram sobre o tema.
“Não existe governo ingovernável”, disse ACM Neto. “O povo quer ver compromisso, seriedade e trabalho”, completou o presidente do DEM, partido que comanda Câmara, Senado e diferentes pastas do governo. “Quem impede o atual governo de governar é ele próprio, sua incompetência”, disse Dino.
Na manhã deste sábado, o presidente saiu caminhando da residência oficial até a porta, ao atender a gritos de crianças que o chamavam. As crianças, de 4 a 12 anos, são de escola do Distrito Federal.
O presidente saiu vestindo chinelos, shorts e uma camisa do Brasil em tons de cinza com seu nome nas costas e o número 17, mesmo de seu partido, o PSL. Ele abraçou as crianças, fez brincadeiras e tirou fotos. Também prometeu ir à escola para hastear a bandeira do Brasil e cantar o hino nacional com os alunos.
Ele foi questionado pela imprensa sobre o que quis dizer com o texto distribuído, mas não quis fazer mais comentários. Também não respondeu ao ser indagado sobre a possibilidade de o Congresso apresentar um novo texto para a reforma da Previdência, em substituição ao que foi entregue por sua equipe econômica em fevereiro.
Na sexta-feira (17), ao comentar o texto por meio de seu porta-voz, Bolsonaro afirmou que, “infelizmente, os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o País de volta ao trilho do futuro promissor”.
Parte dos auxiliares do presidente diz que ele se deixa levar por teorias da conspiração espalhadas pelo grupo que segue o escritor Olavo de Carvalho e por influência de seus filhos.
Integrantes do Judiciário e do Legislativo dizem que o presidente recorreu à estratégia do ataque ao Congresso e ao STF para tentar “sair das cordas” naquele que é considerado o pior momento de seu governo.