MAIS 30 DIAS

PF pede prorrogação de inquérito sobre interferência de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro ainda não foi ouvido pela Polícia Federal (PF) no inquérito que…

O presidente Jair Bolsonaro ainda não foi ouvido pela Polícia Federal (PF) no inquérito que apura suposta interferência na corporação. Segundo apontado pelo portal O Antonista, a PF disse ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o depoimento do presidente é imprescindível. Os investigadores pediram, então, nesta quarta-feira (2), que a investigação seja prorrogada por mais 30 dias. Já foram cem e o presidente ainda não foi ouvido. Já tiveram outras duas prorrogações do prazo.

Vale lembrar que o inquérito apura denúncias feitas pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro, durante coletiva, em 24 de abril, ocasião em que anunciou sua saída do cargo. À época, o ex-juiz condenou a interferência política do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal e disse que, nos governos Lula e Dilma, a PF tinha autonomia.

Ele afirmou que a liberdade que a polícia tinha para investigar permitiu que a operação Lava-Jato avançasse. “É certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos. Aqueles crimes gigantescos de corrupção, mas foi fundamental a autonomia da PF para que fosse realizado esse trabalho. Seja de bom grado, seja pela pressão da sociedade”, disse.

Inquérito

Três dias depois da denúncia de Moro, em 27 de abril, o ministro do STF Celso de Mello autorizou a abertura do inquérito. Aberto a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR), o intuito é verificar se o presidente cometeu os crimes de prevaricação e obstrução de Justiça.

No caso de Moro, a verificação fica por suposta denunciação caluniosa e crime contra a honra. O ex-ministro foi ouvido pela PF em 2 de maio.

A necessidade do depoimento de Bolsonaro foi colocada, pela primeira vez, em 25 de maio. Naquele momento, ocorreu o primeiro pedido de prorrogação do inquérito.

Mensagens

Ainda no dia que pediu demissão (24 de abril), Moro disponibilizou à imprensa uma troca de mensagens com o presidente. Na imagem, Bolsonaro compartilha um link do site “O Antagonista”. No texto, é informado que o primeiro inquérito “já tem uma relação de 10 a 12 deputados bolsonaristas, mais empresários, que tiveram o sigilo quebrado, e a Polícia Federal estava a ponto de fazer busca e apreensão em seus endereços quando veio a quarentena”.

Em seguida o presidente diz: “Mais um motivo para a troca”, se referindo a substituição do comando da PF (à época, com Maurício Valeixo). Moro, então, responde que o “inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre no STF, diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas. Conversamos em seguida às 9h”.

A deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) tentou convencer Moro a aceitar a troca. E ele também divulgou a conversa. “Por favor ministro, aceite o Ramagen, e vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a ajudar a fazer JB (Jair Bolsonaro) prometer”, escreveu ela. Moro rebateu: “Prezada, não estou à venda”.

Reunião ministerial

Sergio Moro indicou, ainda, que uma reunião ministerial de 22 de abril deste ano evidenciaria provas da interferência de Bolsonaro na PF. Em 22 de maio, com autorização do ministro Celso de Mello, um vídeo do encontro foi exibido.

Em um dos trechos, Bolsonaro diz que estão tentando lhe atingir mexendo com familiares. “Já tentei trocar gente da segurança do Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui. Isso acabou! Eu não vou esperar f…. minha família toda, ou amigos meus, de sacanagem, porque eu não posso trocar alguém na ponta da estrutura. Vai mudar! Se não puder trocar, troca o chefe dele, se não puder trocar, troco o ministro”, pontua.

Entre os diversos comentários, a ex-aliada de Bolsonaro, deputada federal Joice Halsselmann (PSL) publicou que “o gado chucro vibra com os palavrões, a falta de decoro e a estupidez acachapante do PR da República @jairbolsonaro. Gado é gado. Mas há um fato incontestável até mesmo p/ a bovilândia: juridicamente comprova-se a ingerência do presidente na PF, exatamente como @SF_Moro disse.”

Já o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, alegou que “a divulgação do vídeo da reunião mostra claramente um governo comandado por um homem que se preocupa em servir ao povo brasileiro. O Brasil não estava acostumado a isso, e sim com governos que se serviam do trabalho do povo brasileiro”.

Confusão

Segundo O Globo, na avaliação de investigadores que viram o vídeo, apesar de usar a palavra “segurança”, o presidente se referiu ao seu desejo de trocar o superintendente da PF do Rio. Ele tentou a troca no ano passado para emplacar um nome escolhido por ele, mas recuou após sofrer resistência interna da PF. A versão da defesa do presidente é que, nessa frase, ele não teria expressado intenção de interferir na PF, mas sim uma insatisfação com sua segurança pessoal.

Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse à Polícia Federal que Bolsonaro jamais teve dificuldade para trocar a segurança pessoal. A afirmação contradiz a justificativa da defesa sobre obstáculos em trocar a segurança pessoal.

Ainda não há data para o depoimento de Bolsonaro.