PF vê indícios de atuação de auxiliar de Bolsonaro em falso elo entre Aids e vacina da Covid
A Polícia Federal encontrou, durante a investigação do vazamento do inquérito sobre ataque hacker ao TSE (Tribunal…
A Polícia Federal encontrou, durante a investigação do vazamento do inquérito sobre ataque hacker ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), indícios da atuação de Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, em outros episódios de disseminação de desinformação.
O Coronel Cid foi um dos indiciados pela delegada Denisse Ribeiro do vazamento da apuração utilizada por Bolsonaro em uma transmissão de 4 de agosto de 2021, em que ele contestou a segurança do sistema eleitoral e levantou suspeita de fraude nas eleições de 2018.
A PF afirma que informações coletadas na quebra de sigilo telemático do ajudante de ordens de Bolsonaro também indicam sua participação na live de 21 de outubro em que Bolsonaro fez uma falsa associação entre a vacinação contra a Covid e o desenvolvimento da Aids.
Médicos, no entanto, afirmam que a associação entre o imunizante contra o coronavírus e a transmissão do HIV, o vírus da Aids, é falsa e inexistente.
“Dados armazenados em serviço de nuvem apontam a participação de Mauro Cid em outros eventos (vide relatório de análise nº 001/2022) também destinados à difusão de notícias promotoras de desinformação da população”, diz trecho do relatório da delegada.
Bolsonaro leu durante a live semanal uma notícia falsa que dizia que “vacinados [contra a Covid] estão desenvolvendo a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids]”.
A veiculação da desinformação resultou na intervenção do Facebook e Instagram, que derrubaram o vídeo do presidente da República.
À época, a Procuradoria-Geral da República chegou a abrir uma investigação preliminar, mas com a demora de Augusto Aras em dar seguimento ao caso, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, atendeu pedido da CPI da Covid e instaurou um inquérito.
A falsa notícia à qual o presidente se refere foi publicada em pelo menos dois sites, Stylo Urbano e Coletividade Evolutiva.
Os textos afirmam erroneamente que pessoas estão perdendo a capacidade do sistema imunológico ao longo das semanas após completarem a vacinação e, por isso, terão “efetivamente a síndrome da imunodeficiência adquirida [Aids] desenvolvida”.
As páginas dizem se apoiar em dados disponibilizados pelo governo britânico. O relatório do portal oficial do Departamento de Saúde Pública do Reino Unido ao qual os portais se referem, porém, não cita a síndrome da imunodeficiência adquirida em nenhum momento.
Além disso, os portais Stylo Urbano e Coletividade Evolutiva fraudaram a tabela do departamento britânico que analisa os casos de Covid-19 entre vacinados e não vacinados. Ambos inseriram uma coluna que não consta no documento oficial, chamada “reforço ou degradação do sistema imunológico”.
Como mostrou a Folha, um dos pedidos feitos pela delegada Denisse Ribeiro ao concluir o caso do vazamento do inquérito do hacker do TSE foi o de compartilhamento da quebra de sigilo telemático de Cid com essa apuração também relatada por Moraes.
“Autorização para compartilhamento do relatório de análise nº 001/2022 e RE 2021.0077841-SR/PF/DF (quebra de sigilo telemático), ambos relacionados a esta investigação, com o INQ 4888-STF, como subsídio para análise conjunta”, pede a delegada.