PL oficializa Bolsonaro como candidato à reeleição em evento com discurso de Michelle
Ex-ministro Braga Netto é anunciado vice; convenção nacional ocorre no Macaranãzinho
A convenção nacional do PL oficializou, neste domingo (24), o presidente Jair Bolsonaro como candidato à reeleição e o ex-ministro da Defesa Braga Netto, vice.
O evento ocorre no Maracanãzinho, que estava tomado pelas cores verde e amarelo. Bolsonaro chegou ao local acompanhado da primeira-dama, Michelle, de Braga Netto e sua esposa.
A cerimônia começou com uma oração do deputado federal e pastor Marco Feliciano (PL-SP). Depois, Michelle discursou.
A primeira-dama atendeu a um apelo da campanha, que vem a meses pedindo para ela intensificar a participação nos atos como forma de melhorar a imagem do presidente juntos às mulheres —fatia do eleitorado que mais rejeita o presidente (61%).
Em um raro discurso, Michelle fez uma fala repleta de referências religiosas e mencionou, mais de uma vez, o atentado a Bolsonaro em 2018, em Juiz de Fora.
“A reeleição não é por um projeto de poder, como muitos pensam, não é por status, porque é muito difícil estar desse lado, é por um propósito de libertação, é um propósito de cura para o nosso Brasil. Declaramos que o Brasil é do senhor”, disse Michelle.
Ela também buscou destacar feitos do governo para as mulheres, como a sanção de leis para proteção de mulheres.
“Esse é o presidente que falam que não gosta de mulheres. A diferença é que ele faz, ele não quer se promover. Nós não queremos nos promover, nós queremos fazer, entregar, e esse é nosso compromisso desde o dia 1 de janeiro de 2019”, completou.
Bolsonaro passou a discursar logo após a primeira-dama.
Atrás do palco, imagem da bandeira do Brasil e foto do presidente apoiadores e o slogan “Pelo bem do Brasil”, antecipado pela Folha.
A frase é da coligação da chapa de Bolsonaro, e tem como mote a tese de “luta do bem contra o mal”, que o mandatário tenta imprimir à eleição deste ano na disputa contra o petista.
O estádio tem capacidade para 11,8 mil pessoas. Marcaram presença no palco candidatos, parlamentares e aliados, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) —que foi ovacionado por bolsonaristas.
O evento do PL ocorre a menos de três meses da eleição. O chefe do Executivo está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Lula (PT).
Levantamento do Datafolha do final de junho mostra o petista 19 pontos à frente de Bolsonaro, marcando 47% contra 28%, no primeiro turno.
Entre os aliados que subiram ao palco estavam o presidente da Câmara, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), candidato de Bolsonaro no estado; o ministro Marcelo Queiroga, da Saúde; Ciro Nogueira, da Casa Civil; Fábio Faria, das Comunicações; Anderson Torres, da Justiça e Segurança Pública; e Victor Godoy, da Educação.
Quando as autoridades subiam ao palco, tocava o barulhinho da urna eletrônica.
Também estiveram por lá o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, que disputará o governo de São Paulo; o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello; a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina; o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef; e os deputados federais Hélio Lopes, Bia Kicis e Carla Zambelli.
Um dos políticos mais aplaudidos pelos presentes foi o deputado federal Daniel Silveira, condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a 8 anos e 9 meses de prisão, em regime inicial fechado, por ataques aos ministros da corte. Um dia depois, no entanto, recebeu um indulto de Bolsonaro.
Todos os convidados foram instruídos a levarem seus cônjuges, suas famílias. A campanha quer dar destaque especial às mulheres no palco.
O PL queria que a convenção deste domingo destacasse o papel da família e, principalmente, das mulheres. Esta fatia do eleitorado é a que o presidente encontra maior dificuldade: segundo o último Datafolha, a rejeição neste segmento é de 61%.
A campanha já vinha insistindo há meses para que a primeira-dama participasse mais das agendas ao lado do presidente. A avaliação é de que ela tem potencial de ser um importante cabo eleitorado junto às mulheres.
Michelle, contudo, vinha resistindo. Por isso, nos últimos dias, integrantes da campanha temiam que a primeira-dama discursaria, ainda que fosse esperada. Coube à ela uma breve fala em agradecimento às mulheres e uma oração –ela é evangélica.
Bolsonaro foi aconselhado a destacar o que seu governo fez pelas mulheres e evitar atacar urnas eletrônicas, como o fez nesta semana a embaixadores.
Mas como ele atua de improviso, era impossível prever o que dirá no dia, de acordo com aliados.
Uma parte do seu entorno fica apreensiva quando o presidente atua no improviso, outra atribuía sua popularidade à sua espontaneidade.
Outro eleitorado em que Bolsonaro precisa melhorar são os jovens, hoje mais propensos a votar no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A rejeição do mandatário entre esses eleitores é de 60%. Entre estudantes, 60%.
Assim, a campanha organizou cabines de TikTok pelo estádio do Maracanãzinho. Apoiadores puderam gravar vídeos curtos para a rede social com intuito de impulsionar o evento.
A Folha mostrou, no final de abril, que vídeos vinculados a Bolsonaro tinham audiência no TikTok 13 vezes superior aos conteúdos relacionados ao petista, segundo uma pesquisa de doutorado.
A rede social é ocupada, predominantemente, pelo público jovem.
O levantamento mostrava que, somando as dez principais hashtags ligadas aos adversários eleitorais, os vídeos de Bolsonaro representaram 92% das visualizações contra 8% de Lula —em números totais, é o equivalente a 10,06 bilhões versus 778 milhões.
No início da semana, opositores se mobilizaram para resgatar ingressos e esvaziar o evento de Bolsonaro. A movimentação levou a campanha a fazer um pente fino e cancelar inscrições. Segundo interlocutores, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) será acionado para apurar o episódio.
A cerimônia contou com a apresentação da dupla sertaneja Mateus e Cristiano, que cantou o hino nacional e o jingle da campanha, “capitão do povo”.
“É o capitão do povo que vai vencer de novo/ Ele é de Deus, e pode confiar/ Defende a família e não vai te enganar”, diz estrofe da canção. Bolsonaro tem forte identificação com o público sertanejo.
Ficou responsável pela apresentação do evento deste domingo um locutor de rodeio, o mesmo que atuou no encontro nacional do partido, em março, Carlos Rudiney.
Centenas de apoiadores vestindo camisas do Brasil e carregando a bandeira nacional aguardavam em filas para entrar no local do evento. Um grande grupo assobiou e aplaudiu para a passagem de uma equipe de policiais militares.
Ambulantes vendiam uma camisa com referência ao artigo 142 da Constituição Federal, que disciplina o papel dos militares e é usado por bolsonaristas como argumento para defender que existe previsão legal para intervenção militar no país.
A tese é repudiada por instituições como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a Câmara dos Deputados.
Em reunião ministerial em abril de 2020, Bolsonaro fez menção ao artigo para defender a hipótese. “Todo mundo quer cumprir o artigo 142. E, havendo necessidade, qualquer dos Poderes pode, né? Pedir às Forças Armadas que intervenham para reestabelecer a ordem no Brasil”, disse.
Na camisa vendida neste domingo também foram grafados os dizeres: “Voto impresso auditável: eu apoio!”. A pauta é utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro para mobilizar apoiadores em torno de discursos de tom golpista contra as eleições.
Dentro do estádio, um cartaz levado por apoiador do presidente fazia menção à cantora Anitta, que declarou voto em Lula (PT). A campanha de Bolsonaro tem tentado minimizar a relevância do apoio da artista ao seu maior adversário.
“Obrigado Anitta por ser a melhor cabo eleitoral do Bolsonaro de todos os tempos”, dizia o cartaz.
A campanha começa, oficialmente, na segunda metade de agosto. No início do ano, a filiação do presidente já teve clima de comício, ainda que não tenha mencionado sua candidatura, por orientação jurídica.
Na ocasião, além de trazer a ideia de luta do bem contra o mal, em uma referência ao PT, também falou sobre liberdade e “jogar nas quatro linhas [da Constituição]”.
O ato teve de ser reformulado para se adequar à legislação eleitoral, como mostrou a Folha. Inicialmente, o convite era para o lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro, mas não há previsão legal para isso, então fizeram um evento de filiação.