Eleições em Goiânia

Posturas impopulares da atual legislatura favoreceram renovação da Câmara, diz pesquisador

O professor Luiz Carlos do Carmo Fernandes também aponta que o impeachment da presidente Dilma Rousseff pode ter trazido um novo olhar sobre o Legislativo

A Câmara de vereadores de Goiânia vai passar pela maior renovação de sua história no próximo dia 1º de janeiro, quando tomam posse os vereadores eleitos no último domingo (2). Dos 35 legisladores que assumem uma cadeira na Casa, apenas 13 já atuam lá.

Para o professor especialista em Marketing Político Luiz Carlos do Carmo Fernandes, há uma série de fatores que podem explicar esse quadro, sendo o primeiro deles a insatisfação com os vereadores atuais. “A legislatura da Câmara Municipal teve algumas propostas impopulares, como o aumento do IPTU e do número de vereadores para 37, por exemplo. São posturas que a sociedade rejeita de forma geral”, avalia.

O especialista também destaca que até mesmo o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) pode ter impactado as eleições em Goiânia. “Com esse processo o eleitor brasileiro passou a entender a importância do Poder Legislativo. Antigamente não havia uma preocupação muito grande em escolher e acompanhar os mandatos de vereadores, deputados e senadores, mas agora a população percebeu que eles têm um peso expressivo, que podem ajudar ou atrapalhar uma administração”, analisa.

Luiz Carlos acredita que o poder Legislativo ganhou um “novo status” a partir do processo que culminou com a saída de Dilma do Executivo nacional e que, com isso, o eleitor se tornou mais crítico e buscou mais informações na hora de escolher seus candidatos. Essa dinâmica pode ter resultado na não reeleição de candidatos reprovados pela população.

Há ainda, na avaliação do pesquisador, há um terceiro fator que propiciou a renovação na Câmara. “Há um desgaste natural entre os vereadores. Alguns estavam no quinto ou sexto mandato, enquanto outros deixaram de ser vereadores para virarem deputados ou candidatos a prefeito, como o Djalma Araújo [Rede], com isso abriram vagas para novos entrantes”, explica.

Quadro de insatisfação

Há ainda outro fenômeno que revela a insatisfação dos eleitores com o quadro atual de vereadores em Goiânia: a quantidade de votos anulados e abstenções. No total, foram 19.253 votos em branco (2,54%), 53.844 votos nulos (7,11%) e 199.407 eleitores não compareceram às urnas (20.83%).

“Goiânia sempre teve uma abstenção maior que a média nacional. Em 2012, por exemplo, foi de 12,4%, enquanto que no Brasil era de 5,5%”, diz Luiz Carlos. Ele acredita que há fatores próprios do nosso cenário político que propiciam esse aparente desinteresse na escolha de candidatos. “Aqui a gente pôde notar uma polarização de duas oligarquias, se pudermos ver dessa forma, que eram o PMDB e o PSDB”, afirma.

O pesquisador aponta que as pesquisas eleitorais já indicavam que o processo se resumiria a uma disputa entre Vanderlan Cardoso (PSB), apoiado pelo governador Marconi Perillo (PSDB), e Iris Rezende (PMDB). “Quem não queria nenhum dos dois, não quis votar ou anulou seu voto”, analisa.

Esse tipo de pensamento, inclusive, pode ter ajudado Jorge Kajuru (PRP) a se alçar ao posto de vereador mais bem votado nessas eleições. “Ele é polêmico e carismático, no sentido de que propõe coisas que vão remexer com a estrutura estabelecida na Câmara Municipal. Para o eleitor que está aborrecido, talvez seja uma espécie de voto de protesto para balançar a estrutura da Casa”, pondera o especialista, ressaltando que o fato de o radialista ser ligado ao ramo da comunicação pode ter facilitado também sua lembrança pelo eleitorado.

Mulheres sem representatividade

Luiz Carlos comentou também sobre a baixa representatividade das mulheres nas Câmaras municipais de todo o País, e mais especificamente em Goiânia. Na capital do Estado, apenas cinco candidatas foram eleitas.

“Essa é uma questão preocupante. O número de eleitoras mulheres aumentou, mas elas ainda não têm seu espaço político no voto por gênero”, explica. “O sexo não é uma clivagem que se percebe no processo eleitoral.”

Mais uma vez, o cenário nacional pode ter pesado sobre as eleições em Goiânia. “Eu não tenho nenhum dado concreto nesse sentido, mas arriscaria dizer que talvez o desempenho da Dilma tenha prejudicado as mulheres na política de uma forma geral”, pontua Luiz Carlos.