Pré-candidatos a prefeito avaliam combate ao coronavírus em Goiânia
Goiânia tem 14 pré-candidatos ao cargo de prefeito da capital nas eleições de 2020. Enquanto…
Goiânia tem 14 pré-candidatos ao cargo de prefeito da capital nas eleições de 2020. Enquanto o prefeito Iris Rezende (MDB) ainda não se manifestou publicamente se participará ou não do pleito, nomes de diferentes partidos se apresentaram para integrar a disputa pelo Paço. Inevitavelmente, os aspirantes à vaga já começam a debater os temas mais cruciais da administração pública, passando, é claro, sobre a forma como a gestão atual desempenha o combate à pandemia do novo coronavírus.
O contexto atual é de retomada das atividades produtivas e, nesta seara, a capital tem basicamente aderido às sugestões do Governo Estadual na gestão da crise. O fato mais recente foi a adoção da quarentena intermitente, que consistiu em 14 dias de fechamento seguidos por outros 14 de abertura. Nesta segunda-feira (13), no entanto, Iris assinou decreto que promove a retomada e suspende a quarentena. Desse modo comércios só voltarão a fechar caso os índices de saúde indiquem a necessidade. O Ministério Público de Goiás cobra os critérios seguidos para essa tomada de decisão.
De forma geral, os pré-candidatos criticaram a administração no que tange à postura de Iris em seguir orientações estaduais sem, segundo eles, intensificar diálogos do poder público com o setor produtivo. Chamaram também atenção para os moldes da quarentena 14×14 e para questões relacionadas ao transporte coletivo, que gera aglomerações diárias. Confira:
Adriana Accorsi (PT)
Adriana Accorsi está no segundo mandato de deputada estadual e foi candidata pelo PT nas eleições municipais de 2016. Ela foi definida como pré-candidata pelo Partido dos Trabalhadores em pré-convenção realizada pela legenda. A parlamentar reforça que teria seguido orientações da comunidade científica desde o início da pandemia.
Para ela, um dos grandes problemas na gestão dessa crise partiu do governo federal, com a falta de coordenação nacional do enfrentamento da doença. Isso, segundo ela, trouxe consequências negativas a estados e municípios, que inclusive receberam do Supremo Tribunal Federal (STF) a autonomia para gerirem a crise em seus territórios. Nesse aspecto, ela critica a forma como a última quarentena foi imposta e reforça que a situação poderia ser de mais tranquilidade se ações mais duras tivessem sido adotadas em âmbito nacional.
“Eu teria adotado as orientações da comunidade científica desde o início. Talvez a gente não precisaria ter passado por isso agora. Eu sou a favor da ciência, acho que o país está às cegas e que o presidente [Bolsonaro] colocou o país numa rota da morte, com a sua incompetência e sua irresponsabilidade. Ele deveria ter reunido os governadores, os secretários de saúde, ter feito um plano de contenção. Se tudo isso tivesse sido feito realmente com o que a comunidade científica preconizava, talvez o cenário fosse outro”, argumentou.
Especificamente sobre o cenário goiano ela considerou que a gestão local não fez esforços suficientes. “Eu acredito que a ação do governo municipal foi extremamente equivocada desde o primeiro momento. Tivemos notícias da Covid-19 antes de chegar aqui, o prefeito poderia tomar várias providências que não tomou. Dentre elas, adquirir testes, respiradores, organizar leitos compatíveis com o tamanho da nossa cidade. Assim, talvez, não tivéssemos os comerciantes, empresários desesperados, setores penalizados como a Rua 44 que ficou fechada”.
Alysson Lima (Solidariedade)
Alysson Lima está no primeiro mandato de deputado estadual e havia sido eleito vereador nos dois primeiros anos da atual legislatura. O parlamentar avalia que nesse momento não teria adotado a quarentena 14 x14. Ele entende que a situação econômica já estava “estrangulada”.
O ex-vereador destaca que teria priorizado modelo semelhante ao que foi realizado em Aparecida de Goiânia, em que há fechamento das atividades em alguns dias da semana de acordo com avaliações periódicas de agentes de saúde. Nesse molde, segundo ele, a gestão procurou conciliar interesses econômicos e de Saúde. Alysson defende um trabalho regionalizado na cidade.
“Eu trabalharia muito no isolamento regional, com os rastreamento das regiões de maior contaminação, permitiria as atividades alguns dias da semana, intensificaria os protocolos de higiene, algo parecido com o que está sendo feito em Aparecida. Cada ponto da cidade uma situação diferente”, destacou Alysson Lima.
Dra. Cristina (PL)
A vereadora Dra Cristina preferiu mudar de projeto político e não vai disputar à reeleição na Câmara Municipal. Recém filiada ao PL, após longo período no PSDB, ela participará pela primeira vez de uma disputa majoritária. Cristina é uma voz de oposição a Iris no parlamento goianiense e criticou as ações da prefeitura durante a pandemia.
Para a pré-candidata, o prefeito não deveria apenas acompanhar os decretos do governador Ronaldo Caiado (DEM). Ela argumenta que as medidas tomadas não resolveram o problema da saúde, pois o número de casos tem crescido bastante e ainda deixaram a economia numa situação delicada, após um longo período de fechamento das atividades.
“A prefeitura foi muito omissa nessa crise, está só acompanhando os decretos do governador, não se organizou para resolver o problema, com relação à fiscalização, a definição de protocolos, a gente cobra da secretaria de Saúde, mas a secretária não apresenta. O que está acontecendo é uma total falta de rumo. Não resolveu o problema da pandemia e nem da economia, o prefeito precisa vir a público, acho que essa questão de intermitência não foi a decisão correta”, afirmou.
Elias Vaz (PSB)
O deputado federal Elias Vaz foi vereador por vários mandatos na Câmara Municipal de Goiânia e agora se apresenta pela primeira vez como pré-candidato a prefeito da capital. Ele, que preside o PSB em Goiás, entende que a prefeitura deveria ter se preparado melhor antes mesmo da pandemia. Ele cita o caso do Ciams do Jardim América que está parado há alguns anos.
Elias argumentou que uma das justificativas para se adotar o isolamento social é para que se ganhasse tempo a fim de estruturar melhor a rede de saúde que atende pacientes com Covid-19. “Se eu fosse o prefeito eu teria preparado a prefeitura de forma eficiente para enfrentar essa situação. A taxa de ocupação de leitos de UTI está muito próxima de 100%. Nós temos situações crônicas, como o Cais do Jardim América que está parado há três anos. A prefeitura não fez o dever de casa, há muito dinheiro na conta e a prefeitura não se preparou, esperou a coisa evoluir bastante para tomar ações”, destacou.
Eduardo Prado (DC)
Eduardo Prado é pré-candidato a prefeito pelo Democracia Cristã (DC). Ele foi eleito vereador na atual legislatura e em seguida eleito deputado estadual. O parlamentar criticou bastante a questão do transporte coletivo, sendo na avaliação dele um grande foco de contaminação de pessoas. Ele afirma que deveria haver mais responsabilidade dos gestores municipal e estadual quanto a questão.
“Como fazer isolamento 14 x 14, sendo que os ônibus são o maior foco de contaminação? Fui nos terminais de Goiânia e vi muita coisa errada. Você isola o comércio, mas as pessoas que estão nas atividades essenciais estão aglomeradas no transporte público, é uma omissão total”, destacou.
Prado ainda completa destacando que não há um rastreamento das áreas da cidade com maior índice de contaminação. Para ele, o isolamento não é a única medida, ele defende uma melhor estruturação da rede de Saúde e ainda a realização de testes em massa para a população.
Felizberto Tavares (Podemos)
O vereador Felizberto Tavares é pré-candidato pelo Podemos. Ele está na Câmara pelo segundo mandato consecutivo e preferiu não tentar reeleição no Poder Legislativo da capital. Tavares discorda das medidas tomadas pelo Município e argumenta que a última quarentena, por exemplo, não aumentou o isolamento social. Ele defende a aplicação do modelo de Aparecida de Goiânia.
“Não aumentou o isolamento social, não estou questionando o dado técnico, mas a interpretação. Foi tomado de afogadilho. Se eu fosse o prefeito jamais faria isso, seguiria o modelo de Aparecida e o prefeito de Goiânia hoje não conseguiu aplicar o recurso federal. Se eu fosse o prefeito jamais baixaria o decreto, dialogaria mais e trataria da logística do combate”, avaliou.
Francisco Júnior (PSD)
O deputado federal Francisco Júnior recentemente foi escolhido pelo PSD como pré-candidato pelo partido na capital. Ele já foi secretário de Planejamento da Prefeitura de Goiânia, deputado estadual por dois mandatos e vereador – sendo presidente da Câmara Municipal. O parlamentar avalia que faltou diálogo e transparência do Paço no tratamento da crise.
Francisco entende que há outras alternativas, para além do fechamento do comércio, e que o decreto que instituiu a quarentena intermitente poderia ter sido implantado de uma forma diferente.
“Eu acho que o decreto poderia ter sido feito de forma diferente. Eu acho que existem outras alternativas. Na minha opinião até poderia adotá-lo, mas não temos a segurança de que seria a melhor alternativa porque na minha opinião faltou diálogo, transparência. Essa decisão foi fundamentada num estudo, mas há outros estudos. Se tivesse tido mais diálogo, poderíamos ter talvez outro caminho. Eu penso que mais diálogo e mais transparência ajudariam nas decisões a serem tomadas a partir de agora”, relatou.
Hemanuelle Jacob (PSOL)
Hemanuelle Jacob entra pela primeira vez em uma disputa eleitoral. Ela é pré-candidata pelo PSOL. Para ela, a última medida de isolamento social precisou ser adotada porque faltaram medidas mais eficazes no início da pandemia. Hemanuelle avalia que políticas de conscientização poderiam ter surtido efeito logo no início da crise.
“Goiânia está neste cenário devido a negligências anteriores. Por exemplo, se a quarentena tivesse sido levada a sério, os governos tivessem estruturado melhor as políticas de conscientização, a gente não teria chegado neste cenário que estamos vivendo hoje. O escalonamento vai ajudar, mas não vai resolver”, disse.
A pré-candidata do PSOL acredita que a partir da reabertura das atividades não haverá “força” suficiente para fechá-las novamente no ciclo 14×14 que estava previsto. Ela se preocupa com a reabertura em um momento que há uma alta ocupação de leitos hospitalares na cidade.
Major Araújo (PSL)
Major Araújo está no terceiro mandato de deputado estadual e foi suplente de vereador na capital, assumindo o mandato por quatro meses. Ele foi vice na chapa de Iris Rezende nas eleições de 2016, mas preferiu não assumir o cargo. Major Araújo faz duras críticas quanto à condução de Iris Rezende e Ronaldo Caiado no enfrentamento da pandemia da Covid-19.
O parlamentar avalia que houve uma quarentena implantada no início da pandemia e que o tempo seria para estruturar melhor a rede de saúde. Major Araújo reclama que pessoas que tiveram contato com contaminados pela Covid-19 estão procurando as unidades de Saúde, mas estão sendo orientados ir embora para casa.
“O que era preciso fazer era a investigação dos primeiros casos do coronavírus, fazer o isolamento, a testagem. Eu recebo denúncias de pessoas que buscam o Sistema Único de Saúde, pessoas que tiveram contato com infectados e são orientadas a ir para casa. É gente que possivelmente contraiu a doença”, disse.
Major Araújo destaca que é contrário a qualquer medida que seja impeça a flexibilização das atividades. Ele destaca que as pessoas “não aguentam ficar mais em casa”.
Maria Ester (Rede)
Maria Ester disputa uma eleição pela primeira vez. Ela é integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e há anos enfrenta duros debates sobre questões de ordenamento da cidade. A pré-candidata do partido Rede Sustentabilidade também discorda das medidas tomadas pelo Município desde o início da pandemia do novo coronavírus. Para ela, essas ações de permitir a abertura e o fechamento de atividades, como foi o caso da quarentena 14×14, não funcionaram
Para ela medidas mais contundentes poderiam ter sido tomadas, primeiro ouvindo a comunidade científica desde o início da pandemia. Ela entende que deveria ter sido adotada medidas de maior organização, por exemplo, no transporte público e que o prefeito poderia ter liderado um processo de articulação.
“No mês de abril poderíamos ter tomado uma medida mais assertiva, de organização, inclusive no transporte coletivo. Mas não é do repertório aqui da nossa região fazer pesquisa, fazer diagnóstico, planejamento. Em abril, numa atitude firme e integrada, a situação poderia ser outra. Se o prefeito de Goiânia liderasse um projeto em conjunto, talvez hoje o cenário seria outro. Não podemos apenas culpar as pessoas por não fazerem o que deveria ter sido feito, mas também tem que haver daqui pra frente uma postura de humildade e chamar quem sabe do assunto”, disse.
Paulinho Graus (PDT)
Paulinho Graus pela primeira vez participa de uma disputa majoritária. Ele é pré-candidato a prefeito pelo PDT, está há vários mandados como vereador em Goiânia e não pretende entrar numa nova disputa para o Legislativo. Paulinho Graus reclama que a administração demorou a aumentar o número de vagas de UTI na cidade e que medidas deveriam ter sido tomadas no transporte, para evitar aglomerações nos terminais de ônibus.
“A realidade da Saúde nunca foi clara. Até maio a prefeitura não aumentou uma vaga de UTI. Agora aumentou o número de vagas, chegou recursos do governo federal. Isso é irresponsabilidade. Eu vejo que lockdown somente depois do papel de casa e isso inclui não deixar os ônibus cheios como estão aí. A lei vai para o povo, mas não para as empresas? Os ônibus são uns dos maiores agentes transmissores. Quebramos as dificuldades de licitação, com a calamidade pública, porque não colocar um transporte complementar, com as vans escolares, para ajudar?”, indagou o pré-candidato.
Talles Barreto (PSDB)
O deputado estadual Talles Barreto está em seu terceiro mandato na Assembleia Legislativa (Alego), onde atua na liderança do PSDB. Ele é o nome do partido para a disputa eleitoral na capital. Talles discorda das medidas tomadas pelo prefeito Iris Rezende. Para ele, o modelo adotado em Aparecida de Goiânia é melhor do que o da capital, que apenas seguiu o decreto estadual.
Ele entende que as empresas estavam funcionando sem protocolo e não foram buscadas alternativas. O pré-candidato critica o alinhamento político-adminsitrativo de Iris Rezende e o governador Ronaldo Caiado. Talles reclama que faltou avaliação mais eficaz.
“É inadmissível o prefeito de Goiânia não ver alternativas. Em Aparecida, por exemplo, o modelo adotado é melhor. E olha que é do mesmo partido, acho que deveria ter feito uma avaliação mais minuciosa e uma ação conjunta. O que não pode é fingir que está fechando e empresas funcionando sem protocolo, sem nenhum tipo de cuidado. Pra que então baixar decreto? Não apenas seguir um lockdown desejado pelo governo estadual. Não foram buscadas alternativas, houve esse alinhamento, por isso somos o oposto dessas administrações” disse.
Virmondes Cruvinel (Cidadania)
Virmondes Cruvinel está no segundo mandato como deputado estadual, mas já havia sido eleito vereador, inclusive com maior número de votos, em 2012. Ele é o pré-candidato do Cidadania, partido comandado no estado pelo vice-governador Lincoln Tejota. Ele é outro que entende que faltou diálogo entre o setor produtivo e poder público. Virmondes também avalia que deveria ocorre uma testagem em massa da população para acompanhar a evolução da Covid-19.
“O que vimos em Goiânia é que houve um distanciamento, não houve diálogo. Barreiras aconteceram para que o setor produtivo e toda a sociedade pudessem dialogar com a prefeitura. Isso deve mudar: primeiro em manter um diálogo semanal seguido por e acompanhamento semanal das ações. Talvez caiba uma sugestão de divisão da cidade em regiões para ver esse acontecimento, essa evolução, principalmente se tivesse feito uma testagem em massa das pessoas. Se isso tivesse sido feito talvez não estaríamos chegando ao caos como estamos hoje em Goiânia”, destacou.
Wilder Morais (PSC)
Wilder Morais já foi senador da República entre 2012 e 2018 e não conseguiu se reeleger. Hoje ele está filiado ao PSC e é pré-candidato a prefeito pelo partido. Mesmo sendo aliado do governador Ronaldo Caiado, ele entende que se fosse prefeito não teria adotado a quarentena intermitente 14×14. Wilder destaca que não faria nada de forma genérica, pois há segmentos que têm um impacto menor e não necessitariam ficar fechados.
“Eu não faria 14×14, não faria nada que fosse genérico. Há alguns setores que conseguem funcionar perfeitamente, por exemplo, os supermercados, e vendem tudo o que puder, as feiras, as igrejas, eu faria o controle de cada segmento, que é o que está sendo feito agora. Abriu e vamos acompanhar a cada dois, três dias, como está o combate do coronavírus e vamos avaliar juntos. Por exemplo, uma concessionária, tem aglomeração? Não tem”, argumentou.
Ele argumentou ainda que não se pode distanciar a Saúde da Economia e que a crise é grande. Wilder Morais argumenta que poderia fechar alguns dias na semana, mas não 14 dias de forma consecutiva.
Observação: A distribuição dos nomes dos candidatos na reportagem ocorreu seguindo a ordem alfabética.