Embate

Prefeito de Catalão ataca Policia Civil e ameaça delegados em evento na Secretaria de Saúde

Comentários gravados em vídeo foram recebidos como agressão e ofensa pela PC. Secretário afirma que discurso não foi ofensivo, mas admite que fala de Adib Elias foi um “erro”, que teve origem política

Vídeo que circula nas redes sociais mostra o prefeito de Catalão, Adib Elias (MDB), fazendo ataques à direção e delegados da Polícia Civil (PC).  Na ocasião, marcada pela entrega de computadores na Secretaria de Saúde da cidade, na quinta-feira (1°), o líder do executivo afirma que a atuação da corporação é “vergonhosa, nojenta e asquerosa”. Entidades representativas da PC consideraram a declaração agressiva e ofensiva, mas lembram que o “comentário” foi feito dois dias após a prisão de dois servidores da prefeitura suspeitos de participação em atentado à bomba que vitimou o radialista Ricardo Nogueira. Em sua fala, Elias trata os presos como “companheiros”.

No vídeo, o prefeito afirma que a polícia civil da cidade não “descobre nem quem matou cachorro”, em referência ao caso da morte criminosa de cerca de 40 cães, em um dia, na cidade. As investigações estão em andamento. Adib continua, afirmando que o delegado Jean Carlos Arruda, titular da 9º Delegacia Regional do município, “é funcionário de patrão e não da população”.

Na sequência, o prefeito afirma esperar ter condições de, em janeiro, “dar a eles [delegados] o destino que eles merecem em Goiás”, ameaça. Ainda em sua fala, o prefeito se equivoca, ao conferir à PC a atribuição de atuação preventiva é papel da Polícia Militar. “Polícia é pra prevenir o crime, o que que esse cidadão [Jean] tem na cabeça pra dar conta de prevenir alguma coisa? Eles não dão conta de nada, mas quando é para prender dois companheiros… Isso é uma vergonha pra ele”, afirmou Adib Elias. Veja o vídeo:

Resposta

Em nota o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de Goiás (Sindepol) e a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Goiás (ADPEGO) se manifestaram contra o ato do político. “Repudiamos veementemente as declarações difamatórias e baixas que tentam intimidar o titular da 9ª Delegacia Regional de Polícia (DRP) em Catalão e os demais Delegados da região. Claramente o intuito é tentar retaliar a prisão de dois servidores da prefeitura por suspeita de autoria no crime de atentado a bomba contra o radialista Ricardo Nogueira”.

De acordo com a presidente do Sindepol Silvana Nunes Ferreira, o caso é entendido como um “ato absurdo do prefeito”. Cada ponto atacado por ele pode ser rebatido e rechaçado. Primeiro, a PC é polícia de Estado e não de governo. Não se submete à patrão, mas às leis; ao mencionar que irá colocar delegados no lugar que merecem, entendemos como uma ameaça de transferência, o que não depende dele, de acordo com as lei federal 12.830/13 e lei estadual 16.910/10. Nem governador delibera sobre isso”.

Ela continua. “O índice de elucidação de crimes de Catalão é um dos melhores do estado. Além disso, a PC não previne, exceto indiretamente quando, na prisão de um suspeito, colabora para a não reincidência de um suposto crime. A atribuição de prevenção é da Polícia Militar. Ele como prefeito deveria saber disso”.

Presidente do Sindepol critica atitude do líder do Executivo (Foto: reprodução/internet)

Também em nota, a Polícia Civil emitiu nota em apoio ao delegado Jean Carlos Arruda. “A Polícia Civil de Goiás vem, por meio da presente nota, manifestar sua solidariedade e irrestrito apoio,  após ataques proferidos contra o trabalho desempenhado naquela circunscrição. Responsável que é pela formação profissional e aperfeiçoamento das autoridades policiais que compõem seus quadros, a Polícia Civil de Goiás reitera seu compromisso, não somente junto aos cidadãos catalanos, mas a todos os goianos, de que seus servidores se pautam por uma tradição de rigoroso preparo técnico e metodológico, de forma a cumprir, com êxito, sua tarefa de polícia judiciária”, pontua o documento.

Conforme explica uma agente da corporação lotada na cidade, os comentários ofenderam toda a corporação. “Ofendeu a todos, toda a Polícia Civil, porque somos uma equipe”, afirmou ela, que não quis ter a identidade revelada.

Justificativa

A fala foi considerada inflamada até pelo secretário de comunicação da cidade, Cairo Batista. No entanto, ele classifica o ocorrido como um “desabafo político com críticas duras”, mas que não foram ofensivas. Conforme explica Cairo, que também é assessor de imprensa de Adib, as “críticas” foram geradas no embate político existente no município entre ele e o grupo político do ex-prefeito Jardel Sebba e do filho e atual deputado estadual Gustavo Sebba.

De fato, na quarta-feira (28/2), Gustavo usou a tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás para sugerir que Adib Elias tenha envolvimento no atendado contra o radialista. “Os dois meliantes são servidores junto com o prefeito cometeram um atentado justamente contra um radialista que critica o prefeito. Ficou muito claro pra gente a elucidação disso. Será que é assim que o prefeito de catalão quer calar quem faz oposição a ele?”, ataca Gustavo. Confira o vídeo:

Segundo Cairo, a declaração de Gustavo sugere que ele tenha informações privilegiadas, que só podem ter sido conseguidas na Polícia Civil, que teria laços políticos com a família do deputado. “Então o prefeito entende que houve uma ingerência. Eles tem mais informações que a polícia divulgou oficialmente. Isso motivou o desabafo”, explica.

Na terça-feira (27) Vitor concedeu coletiva de imprensa e Catalão. Na oportunidade afirmou que a investigação é sigilosa e apura todas as possibilidades, inclusive a de ser crime político. Os indivíduos presos, Sérgio Fornalla e Argélia Teixeira, foram presos preventivamente suspeitos de praticar o atentado.

Quanto à crítica direcionada ao delegado Jean Carlos, Cairo revela Adib citou o nome dele porque ele é o “chefe”. “Se a investigação é sigilosa, como revelou o delegado responsável pelas prisões Vitor Magalhães, como que eles afirmam saber de coisas da investigação quem nem foram divulgadas?”.

Ainda de acordo com o secretário, o Adib considerou no contexto, das declarações do delegado e do deputado, que a corporação e o político tentaram desconstruir a imagem dele, que é cotado para ser vice da chapa do senador Ronaldo Caiado ao Governo, a nível de estado.

“Os comentários não tem nada a ver com a administração. O prefeito faz parte de um grupo dentro do MDB que deseja que o partido apoie o senador Ronaldo Caiado nas eleições para o Governo em 2018. Ele tem sido inclusive cotado para ser vice na chapa. O prefeito acha, nesse momento, que foi uma tentativa de desconstruir a imagem dele a nível de estado”, revela.

Cairo afirma que a intensão do prefeito era proteger e resguardar sua imagem política. No entanto, questionado se o ato atraiu mais atenção negativa para o político, admite que o discurso foi um “erro”. Infelizmente as pessoas, às vezes, num discurso inflamado, erram no contextualizar”, conclui.

O Mais Goiás tentou contato com o delegado Jean Carlos e com o deputado Gustavo Sebba, mas as ligações não foram atendidas.