CADEIA ALIMENTAR

Prefeito de Leopoldo de Bulhões defende leilão de gado na pandemia: “essencial”

Vereadora acusa João Alécio (PL) de desobedecer as próprias leis; prefeito afirma que segue à risca decreto do governador

Prefeito João Alécio Mendes, de Leopoldo de Bulhões: sócio de empresa que realizará leilão de gado (Foto: Divulgação)

O prefeito de Leopoldo de Bulhões, João Alécio Mendes (PL), promoverá um leilão de gado às 20h desta segunda-feira (8), na rodovia GO-010, Km 51, S/N, zona rural da cidade. A notícia de que o evento acontecerá irritou parte da cidade, uma vez que vigora decreto do próprio prefeito que permite apenas o funcionamento e setores essenciais à economia, como: postos de combustível, farmácias, laboratórios de análises clínicas, unidades de saúde, mercados, casas agropecuárias, funerárias e instituições financeiras.

Alécio argumenta, ao Mais Goiás, que o leilão de hoje não contradiz o seu próprio decreto e ameaçou processar o portal caso fosse “caluniado” nesta reportagem. O prefeito defende-se dizendo que o governo do Estado liberou a realização de leilões, por envolver produtos da cadeia alimentar. “Eu não fiz lei para mim, não. A carne que você come sai do leilão. Eu sigo à risca as regras do governador”.

O leilão será realizado pela AM Leilão Ltda., que tem o prefeito como sócio-administrador, e foi anunciado no perfil oficial da empresa, nos stories do Instagram. Alécio diz que não tem nada a esconder.

(Foto: Reprodução)

Decreto do Estado

É fato verídico que o governo de Goiás emitiu portaria com regras para realização de leilões de animais, desde que participem no máximo 50 pessoas. O Estado autoriza até três certames em um mesmo local ao longo da semana, mas em ambientes diferentes. A empresa leiloeira também precisa ter CNPJ diferente: cada uma só pode promover um leilão por mês.

É necessário que policiais militares estejam presentes. A empresa precisa comunicar à PM sobre o evento com três dias de antecedência. É vedada a venda e consumo de bebida alcoólica, além do preparo de comida no recinto. Exige-se ainda distância de três metros entre as mesas, que não devem ser ocupadas por mais de uma pessoa.

Um empresário do ramo de material de construção que atua em Leopoldo de Bulhões afirma que o decreto de Caiado também permite que o segmento funcione, assim como o leilão de animais; mas que, mesmo assim, o município mandou fechar os estabelecimentos. “O decreto do governador nunca me mandou fechar, o dele mandou”, reclama. “Ele exagerou.”

“Na quarta-feira (10), se ele não rever a próprias regras, eu vou abrir a loja e pregar o decreto do governador na porta”, diz a fonte, por entender que, se o leilão pode, por ser permitido pelo governo, da mesma forma a loja de material de construção também.

Leilão animal

Janilson Azevedo Júnior, gerente de fiscalização animal da Agrodefesa, explica que a portaria abrange todos os tipos de leilão de animais de rebanho (leite ou corte). Segundo ele, estes são considerados essenciais, por se tratarem de comercialização de matéria-prima.

Ele explica também que cada município tem liberdade para seguir os seus próprios critérios. Desta forma, o Estado propõe uma regra mais abrangente e as cidades têm a prerrogativa de ser mais restritivas. “Mas não podem ser mais abrangentes”, diz.

Decreto do município

O decreto que regula a quarentena na cidade não permite nem mesmo serviços online, relata a vereadora Roberta Cândia Caetano (MDB). “Nem delivery está liberado”.

Roberta, que também é empresária do ramo de roupas, diz que o município tem menos de 10 mil habitantes e 25 casos confirmados do novo coronavírus. Inclusive, na última semana, a promotoria de Justiça havia pedido pelo endurecimento das regras e o prefeito emitiu o decreto mais rígido. “Minha loja nunca teria a quantidade de gente de um leilão”.

A vereadora conta que um grupo de empresários se reuniu com o prefeito no último domingo (7) e ele teria dito que se posicionaria até quarta-feira (10) sobre a permissão do funcionamento do delivery, pelo menos. “Estamos todos proibidos de trabalhar, até mesmo online. Ele deveria dar o exemplo”.

Para Roberta, o leilão vai sim contra o próprio decreto emitido pelo prefeito. “E se ele prosseguir, eu vou denunciar”, adverte. “Isso tem causado indignação geral, na cidade”.

Nota do Mais Goiás

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