Presidente da Câmara destaca racismo no Brasil e rechaça falas de Oseias Varão
Durante a participação em um programa de rádio da capital, o líder do prefeito Iris…
Durante a participação em um programa de rádio da capital, o líder do prefeito Iris Rezende (MDB) na Câmara de Goiânia, vereador Oseias Varão (sem partido), questionou os dados mostrados pelo apresentador de um programa da capital sobre a violência contra negros. O vídeo com a fala do parlamentar foi exibido na sessão de terça-feira (19), na Casa. O presidente Romário Policarpo (Patriota) comentou o assunto ao Mais Goiás. “É nojento, repugnante e mostra total desrespeito a história do nosso País.”
Segundo dados do IBGE, que foram questionados por Oseias, negros têm 2,7 vezes mais chances de serem vítimas de assassinato do que brancos. Entre 2012 e 2017, foram registradas 255 mil mortes de negros por assassinato, de acordo com a pesquisa.
Na rádio, o líder do prefeito disse que, quando ouve “esses números, me causa um incômodo muito grande. Essa ideia de você querer categorizar os problemas sociais que a gente vive por classe: negros, brancos, homens, mulheres, héteros, brancos… Isso não me parece produtivo.”
Ele ainda disse ter a impressão de que esses dados são usados como discurso político. E mais: que são feitos para gerar questionamento e ‘irritar as pessoas’. “Como se define que uma pessoa é negra quando morta?”, questionou.
Presidente da Câmara
O presidente da Câmara, Romário Policarpo, classificou Oseias como uma pessoa que prega a discórdia. “Tenta desfazer de dados que não são meus ou seus, mas do próprio governo [federal]. Governo que também prega esse tipo de sentimento à sociedade”, criticou.
Para Romário, a fala do colega é de quem não conhece a realidade da população negra. “É só olhar os moradores de rua. Não se vê um branco de olho azul. Na limpeza de shopping, um a cada dez é negro. É desconhecer o País e a realidade que não é só do Brasil, mas no mundo”, referiu-se ao racismo.
Policarpo também citou que, há duas gerações, o parente de um negro era um escravo. “O racismo sempre existiu, mas agora está mais latente, porque o povo negro decidiu reclamar.”
Clécio Alves (MDB), vice-presidente da Casa, preferiu não comentar o assunto ao Mais Goiás. Porém, na sessão desta quarta-feira (20), ele, que ficou nervoso com as declarações, ironizou a fala de Oseias. “Queria ter um líder desse, aqui na Câmara [se fosse prefeito]. Quando ele dá uma entrevista dessas ele coloca a Casa no lixo. É um líder maravilhoso…”
De acordo com Clécio, que também presidiu a Câmara, “a base do prefeito está de parabéns para ter um líder como esse. É um líder que junta”, debochou.
Dados
O presidente da Casa de Leis revelou preocupação. Segundo ele, quando o questionamento deste tipo de dados vem de um parlamentar é grave. “Ele ainda questionou como se chega a esses dados depois que a pessoa morre. A pessoa não muda de cor quando morre, ora”, se irritou. “Isso preciso mudar. Isso, de desacreditar dados. É nojento, repugnante e mostra total desrespeito a história do nosso País.”
Para o patriota, achar que negros, homossexuais e mulheres têm os mesmos direitos do hetero branco é absurdo. “Até hoje, eu, que sou o presidente da Câmara, quando chego a um supermercado, um segurança vai para o mesmo corredor que eu vou.” A conclusão de Romário é que essa fala de Oseias “mostra o tipo de pessoa que ele é”.
Dia da Consciência Negra
Esta quarta-feira (20) é o Dia da Consciência Negra e o Mais Goiás preparou uma matéria especial sobre o tema. “Não tem que comemorar porcaria nenhuma”, reclama Romário. “Temos um Governo Federal que ataca e tenta colocar que todos são iguais, mesmo sabendo que não é.”
O presidente do legislativo goianiense lamentou as declarações dadas pelo vereador, principalmente por terem acontecido nesta semana. Apesar disso, ele declarou que o prefeito da cidade, Iris Rezende, não compactua dessa postura.
Mais declarações polêmicas
Em outra fala no programa de Rádio, o líder afirmou que a Casa de Leis goianiense não é produtiva. O presidente da Câmara, Romário Policarpo, também se manifestou. Ele disse que o mundo muda a cada dia e algo novo sempre aparece. Com isso, uma nova legislação precisa vir.
E lembrou, também, que Goiânia entrou para a história por fazer a lei de obrigação do cinto de segurança. “Foi a primeira cidade a obrigar.” Romário explicitou, ainda, que, foi informado pelo procurador do município, Brenno Kelvys Souza Marques, que esta legislatura é uma das mais produtivas. “E olha que ainda estamos no terceiro ano.”
Até por isso, o presidente reforça ter convicção que esta Câmara “produz e produz muito. Evitou o aumento do IPTU, neste ano, defendeu a cidade de um Código Tributário que seria danoso e mais.”
Leis inúteis
Ainda durante a entrevista, Oseias avaliou que o problema do município não é falta de leis, pois há uma quantidade exagerada delas. “Temos que criar um movimento para revogar”, disse. A fala, claro, repercutiu entre os pares.
Segundo Oseias, o vereador não tem que “inventar moda”. Ele lembra que a função primordial é elaborar leis, mas que elas já ‘estão sobrando’. Além disso, outra obrigação que ele declara e diz ser necessária é de “fiscalização das leis vigentes. Nessa função temos carência muito grande”.
Para o líder, então, o ideal é “parar de aprovar leis inúteis e revogar algumas”. Inclusive, ele lembrou ter votado favoravelmente ao projeto que registrava a presença dos vereadores por meio de ponto biométrico – que não foi aprovado –, mas afirmou que não resolveria nada. Segundo ele, funcionários “bateriam ponto”, mas ficariam sentados, sem fazer nada.
Paulo Magalhães (PSD), autor do projeto do ponto biométrico foi procurado para comentar sobre a citação à matéria. Até o fechamento do texto ele não havia se posicionado.
Em entrevista concedida nesta quarta-feira ao Diário de Goiás, Varão disse ter havido uma incompreensão em sua fala. “Eu tenho conversado com cada vereador individualmente, a meu ver não houve o entendimento do que eu queria dizer e eu me responsabilizo por isso, porque não basta eu me comunicar, eu tenho que garantir que o ouvinte entendeu o que eu disse. Então, tenho procurado esclarecer pessoalmente com cada vereador sobre o contexto que se deu a minha fala”, disse ao veículo de comunicação.