Presidente do PP diz que Odebrecht lhe ofereceu R$ 5 milhões no caixa dois
O senador Ciro Nogueira disse que encarou a proposta como "mera desculpa para não realizar doação ao partido"
O presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), confirmou em depoimento à Polícia Federal que um executivo da Odebrecht lhe ofereceu, em 2014, dinheiro por meio de caixa dois, no valor de R$ 5 milhões a serem pagos no exterior. O senador disse que encarou a proposta como “mera desculpa para não realizar doação ao PP”. Segundo ele, o pagamento não se concretizou.
Nogueira foi ouvido pela PF no inquérito instaurado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para investigar supostas propinas pagas a ele em 2010 e 2014 a pretexto de campanha eleitoral. Três ex-executivos da Odebrecht, José de Carvalho Filho, Cláudio Melo Filho e Benedicto Júnior, disseram que o senador procurou a empresa em 2014 para pedir doação e recebeu R$ 1,3 milhão não declarados.
O caixa dois teria sido registrado no Setor de Operações Estruturadas, o “departamento de propinas” da Odebrecht, sob o codinome de “Cerrado”.
Não há registro de que Ciro Nogueira tenha acionado as autoridades na época para denunciar a empreiteira.
Um dos delatores também relatou pagamento de R$ 300 mil não declarados em 2010.
O depoimento à PF foi prestado em setembro e anexado ao inquérito no Supremo Tribunal Federal em janeiro. Nele, Nogueira disse que Melo Filho ofereceu primeiro doação oficial de R$ 5 milhões ao PP. “No segundo momento, Melo Filho justificou que a Odebrecht havia extrapolado o limite de percentual para doações oficiais.”
“Para solucionar o problema foi proposto por Melo Filho a realização de doação na forma não contabilizada, que por sua vez ocorreria em pagamentos em contas fora do Brasil, não se recordando se nos mesmos valores de R$ 5 milhões”, disse o senador. Ele afirmou à PF que “não considerou tal possibilidade de recebimento de recursos para campanha fora do país”.
Depois do oferecimento do caixa dois que não vingou, segundo Nogueira, Cláudio Melo Filho propôs doar R$ 500 mil à campanha da mulher do senador, a deputada Iracema Portella (PP-PI), o que foi feito de forma oficial.
No curso do inquérito, o delator José de Carvalho Filho disse à Polícia Federal que passou uma senha para recebimento dos repasses ilícitos “a um indivíduo de confiança do senador, de nome ‘Fernando'”.
A Polícia Federal concluiu se tratar de Fernando de Carvalho Mesquita Filho, um ex-assessor do senador investigado em outro caso na Lava Jato –foi apontado pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, como recebedor de dinheiro em nome de Ciro Nogueira.
A polícia mostrou uma foto de Fernando de Carvalho ao senador, que o reconheceu, mas disse que nunca o apresentou ao executivo da Odebrecht para que recebesse dinheiro em seu nome.
O senador disse à PF ter relação de amizade e convivência familiar com Melo Filho. Também disse que recebeu Melo Filho e Marcelo Odebrecht em seu gabinete no Senado. Os dois teriam se queixado do governo Dilma Rousseff. Ele disse que, na ocasião, não foi solicitado apoio ou defesa de projetos da Odebrecht e que “entendeu os fatos narrados na visita como simples desabafo”.
Em março do ano passado, quando pediu a abertura do inquérito, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu que Nogueira, àquela altura, já figurava em mais de um inquérito da Lava Jato.
“De fato, o senador aparece nas investigações como um dos líderes de um dos subgrupos criminosos que comandavam a corrupção na Petrobras”, sustentou Janot.
Em setembro, Janot denunciou ao Supremo a cúpula do PP, incluindo Nogueira, sob acusação de organização criminosa, no caso conhecido como “quadrilhão do PP”, que está em sigilo.
Texto de Reynaldo Turollo Jr. e Rubens Valente| FolhaPress.