7 DE SETEMBRO

Presidente do STF elogia atuação da PM no feriado: “Conscientes”

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux enalteceu, em pronunciamento nesta tarde de quarta-feira…

Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux enalteceu, em pronunciamento nesta tarde de quarta-feira (8), a atuação das forças de segurança do País, em especial as Polícias Militar (PMs) e Polícia Federal (PF), durante as manifestações de 7 de setembro. “Atuaram conscientes de que a democracia é importante não só para eles, mas para seus filhos.”

Vale lembrar, PMs e agentes de segurança se organizavam para organizar a participação nos atos. Contudo, a participação de PMs diretamente no ato não foi registrada pelo País – inclusive, o Ministério Público de Goiás e outros do Brasil fizeram diversas recomendações contra essa participação.

“Ninguém fechará essa corte”, diz presidente do STF após reação a Bolsonaro

O ministro disse, também, que o presidente Bolsonaro (sem partido) incentiva palavras de ódio contra o STF e seus membros e classificou esses atos como práticas ilícitas e intoleráveis. O jurista comentou não só sobre os atos de 7 de Setembro, mas também acerca de uma postura recorrente do gestor federal. “Ninguém fechará essa corte”, foi enérgico.

“Crítica institucional não se confunde com narrativas de descredibilização do STF e seus membros, como tem sido feito pelo chefe da nação“, declarou e garantiu: “Esse Poder jamais aceitará ameaças e intimidações.”

Fux pediu, ainda, que a população não caia em narrativas falsas e messiânicas. “O verdadeiro patriota não fecha os olhos para problemas reais do País.” De acordo com ele, ideias antidemocráticas se enquadram em crimes de responsabilidade que devem ser analisados pelo Congresso.

Apesar disso, o presidente do STF ressaltou que todas as capitais do País e diversas cidades tiveram cidadãos em atos pró e contra o presidente nas ruas, mas sem o registro de incidentes graves.

7 de setembro

O feriado de 7 de setembro foi marcado por atos contra e favoráveis ao governo federal. Bolsonaro discursou em Brasília e também em São Paulo, sem poupar falas polêmicas.

“Só Deus me tira de lá. Quero dizer aos canalhas que só existem três alternativas: eu ser preso, morto ou sair com a vitória. Eu nunca serei preso. A minha vida pertence a Deus e a vitória é de todos vocês”, disse em São Paulo.

Em Goiânia, houve carreata a favor do presidente com cerca de 25 mil veículos (sendo 20 mil motos), segundo o organizador do evento Marcelo Magalhães. A Polícia Militar (PM) não contabilizou os números.

Confira o discurso de Fux na íntegra:

“O Brasil comemorou, na data de ontem, 199 anos de sua independência. Em todas as capitais e em diversas cidades do país, cidadãos compareceram às ruas. O país acompanhou atento o desenrolar das manifestações e, para tranquilidade de todos nós, os movimentos não registraram incidentes graves.

Com efeito, os participantes exerceram as suas liberdades de reunião e de expressão – direitos fundamentais ostensivamente protegidos por este Supremo Tribunal Federal.

Nesse ponto, é forçoso enaltecer a atuação das forças de segurança do país, em especial as polícias militares e a Polícia Federal, cujos membros não mediram esforços para a preservação da ordem e da incolumidade do patrimônio público, com integral respeito à dignidade dos manifestantes.

Destaque-se, por seu turno, o empenho das Forças Armadas, dos governadores de Estado e dos demais agentes de segurança e de inteligência pública, que monitoraram em tempo real todas as manifestações, permitindo assim o seu desenrolar com ordem e paz.

De norte a sul do país, percebemos que os policiais e demais agentes atuaram conscientes de que a democracia é importante não apenas para si, mas também para seus filhos, que crescerão ao pálio da normalidade institucional que seus pais contribuíram para manter.

Este Supremo Tribunal Federal também esteve atento à forma e ao conteúdo dos atos realizados no dia de ontem. Cartazes e palavras de ordem veicularam duras críticas à Corte e aos seus membros, muitas delas também vocalizadas pelo senhor presidente da República, em seus discursos em Brasília e em São Paulo.

Na qualidade de chefe do Poder Judiciário e presidente do Supremo Tribunal Federal, impõe-se uma palavra de patriotismo e de respeito às instituições do país.

Nós, magistrados, ministras e ministros do Supremo Tribunal Federal, sabemos que nenhuma nação constrói a sua identidade sem dissenso.

A convivência entre visões diferentes sobre o mesmo mundo é pressuposto da democracia, que não sobrevive sem debates sobre o desempenho dos seus governos e de suas instituições.

Nesse contexto, em toda a sua trajetória nesses 130 anos de vida republicana, o Supremo Tribunal Federal jamais se negou – e jamais se negará – ao aprimoramento institucional em prol do nosso amado país.

No entanto, a crítica institucional não se confunde – e nem se adequa – com narrativas de descredibilização do Supremo Tribunal Federal e de seus membros, tal como vem sendo gravemente difundidas pelo Chefe da Nação.

Ofender a honra dos ministros, incitar a população a propagar discursos de ódio contra a instituição do Supremo Tribunal Federal e incentivar o descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas e ilícitas, intoleráveis, em respeito ao juramento constitucional que fizemos ao assumirmos uma cadeira nesta Corte.

Infelizmente, tem sido cada vez mais comum que alguns movimentos invoquem a democracia como pretexto para a promoção de ideais antidemocráticos.

Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra as suas instituições.

Todos sabemos que quem promove o discurso do “nós contra eles” não propaga democracia, mas a política do caos.

Em verdade, a democracia é o discurso do “um por todos e todos por um, respeitadas as nossas diferenças e complexidades”.

Povo brasileiro, não caia na tentação das narrativas fáceis e messiânicas, que criam falsos inimigos da nação.

Mais do que nunca, o nosso tempo requer respeito aos poderes constituídos. O verdadeiro patriota não fecha os olhos para os problemas reais e urgentes do país. Pelo contrário, procura enfrentá-los, tal como um incansável artesão, tecendo consensos mínimos entre os grupos que naturalmente pensam diferentes. Só assim é possível pacificar e revigorar uma nação inteira.

Imbuído desse espírito democrático e de vigor institucional, este Supremo Tribunal Federal jamais aceitará ameaças à sua independência nem intimidações ao exercício regular de suas funções.

Os juízes da Suprema Corte – e todos os mais de 20 mil magistrados do país – têm compromisso com a sua independência, assegurada nesse documento sagrado que é a nossa Constituição, que consagra as aspirações do povo brasileiro e faz jus às lutas por direitos empreendidas pelas gerações que nos antecederam.

O Supremo Tribunal Federal também não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos poderes, essa atitude, além de representar um atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso Nacional.

Num ambiente político maduro, questionamentos às decisões judiciais devem ser realizados não através da desobediência, não através da desordem, não através do caos provocado, mas decerto pelos recursos que as vias processuais oferecem.

Ninguém, ninguém fechará esta Corte.

Nós a manteremos de pé, com suor, perseverança e coragem. No exercício de seu papel, o Supremo Tribunal Federal não se cansará de pregar fidelidade à Constituição e, ao assim proceder, esta Corte reafirmará, ao longo de sua perene existência, o seu necessário compromisso com o regime democrático, com os direitos humanos e com o respeito aos poderes e às instituições deste país.

Em nome das ministras e dos ministros desta Casa, conclamo os líderes do nosso país a que se dediquem aos problemas reais que assolam o nosso povo: a pandemia, que ainda não acabou e já levou para o túmulo mais de 580 mil vidas brasileiras, e levou a dor a estes familiares que perderam entes queridos; devemos nos preocupar com o desemprego, que conduz o cidadão ao limite da sobrevivência biológica; nos preocupar com a inflação, que corrói a renda dos mais pobres; e a crise hídrica, que se avizinha e que ameaça a nossa retomada econômica.

Esperança por dias melhores é o nosso desejo e o desejo de todos, mas continuamos firmes na exigência de narrativas e comportamentos democráticos, à altura do que o povo brasileiro almeja e merece.

Não temos mais tempo a perder.”