Primeiro bate e depois quer consolar, diz irmã de petista morto sobre Bolsonaro
Familiar de Marcelo de Arruda também critica uso político do vídeo com os irmãos
Uma das irmãs de Marcelo de Arruda, petista assassinado em Foz do Iguaçu, criticou nesta quarta-feira (13) o uso político do vídeo de seus irmãos conversando com Jair Bolsonaro (PL) e disse que o presidente só se compadeceu da vítima após ter dado declarações nas quais minimizava o caso.
Luziana de Arruda reprovou declarações do presidente e do vice, Hamilton Mourão, e disse que eles resolveram consolar a família devido às proporções que o caso tomou.
“[O vídeo da conversa com os irmãos] foi usado para cunho político, quando as declarações do senhor presidente da República e do seu vice não foram as declarações legais”, disse.
Marcelo foi assassinado a tiros pelo policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho após ele invadir sua festa de aniversário com temática do PT. Jorge também foi baleado e está internado em estado grave.
Bolsonaro criticou a violência de “petistas” que chutaram a cabeça de Jorge, após a troca de tiros com Marcelo. Ferido, no chão, o atirador foi alvo de chutes de convidados que estavam na festa do militante do PT.
O presidente disse ainda esperar a conclusão da investigação “para a gente ver que teve problema lá fora, onde o cara que morreu, que estava lá na festa, jogou pedra no vidro daquele cara que estava com o carro do lado de fora”. “Depois, ele voltou e começou o tiroteio lá e morreu o aniversariante.”
Mourão minimizou o caso ao falar que ocorre “todo final de semana”, com “gente que provavelmente bebe e aí extravasa as coisas”.
Sobre isso, a irmã de Marcelo disso: “De repente eles resolvem se compadecer da nossa família, resolvem querer nos ouvir. Acho que ele [Bolsonaro] viu que a coisa tomou proporção gigantesca e resolveu voltar atrás das palavras”.
“Depois que bate ele resolve consolar. A mesma mão que pune é a mesma mão que afaga?”, disse.
Luziana também criticou o modo como o vídeo do telefonema foi divulgado. “Para nós foi um choque o que aconteceu e ver daquele jeito a divulgação do vídeo”, disse.
Luziana, 44, é a caçula dos sete irmãos e era bastante próxima a Marcelo. Ela disse que ainda não conversou com os irmãos sobre o episódio.
A ligação por vídeo foi feita pelo deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ), que esteve na casa de um dos irmãos de Marcelo, com o aval de Bolsonaro, para intermediar a conversa. Segundo ele, o presidente conversou com dois irmãos do petista assassinado: José e Luiz de Arruda.
Luiz disse ao jornal Folha de S. Paulo nesta quarta que a família ainda não tomou nenhuma decisão sobre o convite de Bolsonaro para visitar o Palácio do Planalto na quinta (14) e participar de uma entrevista coletiva.
A reportagem apurou que entre parte dos familiares esse pedido sofre muita resistência. Segundo relatos ouvidos pela Folha, a viúva de Marcelo, Pâmela Suellen Silva, teria decidido participar apenas se fosse em uma coletiva aberta, onde ela pudesse falar livremente.
Ela disse ter ficado surpresa com o telefonema do presidente aos irmãos de Marcelo, que não estavam na festa. “Absurdo, eu não sabia”, afirmou ao UOL.
Ao Globo ela disse que Bolsonaro está usando a situação politicamente. “Acredito que Bolsonaro está preocupado com a repercussão política, porque, tanto no vídeo que fez no cercadinho como no que conversa com os irmãos do Marcelo, Bolsonaro diz que estão tentando colocar a culpa nele.”
A Folha tentou contato diversas vezes com Pâmela, sem resultado. Anteriormente, o filho de Marcelo, Leonardo de Arruda, 26, havia dito à Folhaque a família está incomodada com a tentativa de responsabilizar Marcelo pelo caso.
“O ódio não está em mim, na nossa família. A gente estava comemorando, não foi a gente que procurou isso. Não foi a gente que matou. A gente não odeia ninguém”, afirmou.