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Promessa de Bolsonaro sobre pastor no STF gera reações entre evangélicos

Líderes religiosos avaliam que fala do presidente foi aceno aos fiéis, após indicação mal recebida para a vaga de Celso de Mello

A promessa feita pelo presidente Jair Bolsonaro na segunda-feira (5) de escolher um “pastor” para a vaga que se abrirá no Supremo Tribunal Federal (STF) em julho de 2021, com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, apaziguou as críticas de lideranças evangélicas à indicação do desembargador Kassio Nunes Marques.

Para lideranças ouvidas pelo GLOBO, a declaração de Bolsonaro foi uma tentativa “mais de agradar os fiéis” do que a cúpula das igrejas, mas o aceno foi entendido como um reconhecimento do presidente de que “agiu mal” ao ignorar a própria promessa de que apontaria um nome “terrivelmente evangélico” ao STF.

Líderes das principais denominações evangélicas, apesar do descontentamento, já vinham evitando criticar Bolsonaro abertamente. A exceção mais notada foi o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que divulgou um vídeo para criticar a conduta do presidente. Bolsonaro afirmou repetidas vezes, desde a semana passada, que uma “autoridade do Rio” tentava emplacar um nome no STF.

No vídeo, Malafaia rebateu a versão e afirmou que apresentou ao presidente, em setembro, uma “lista tríplice” assinada por líderes de diferentes igrejas. Entre os citados por Malafaia estavam o bispo Abner Ferreira, da Assembleia de Deus de Madureira, o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, e JB Carvalho, da Comunidade das Nações.

Segundo um parlamentar ligado a uma liderança evangélica, o “comportamento mercurial” de Malafaia, fruto de seu temperamento e de sua “intimidade” com Bolsonaro, dificilmente é seguido por outros líderes, mesmo diante da preocupação de que o presidente possa descumprir a palavra novamente.

A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) divulgou nota na segunda-feira em apoio a Kassio e disse que o desembargador escolhido pelo presidente pode ajudar a Corte a “cumprir a missão constitucional”. Parlamentares ligados ao Republicanos, partido próximo a Universal e para o qual Bolsonaro vem acenando com apoio nas eleições de Rio e São Paulo, não atacaram a indicação. A confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab) também decidiu adotar posição favorável à escolha.

— Foi uma atitude acertada da maior parte em não se manifestar, e sim aguardar o encaminhamento e avaliar o currículo do desembargador — disse o deputado Roberto de Lucena (Podemos-SP), que é pastor da Igreja O Brasil para Cristo.

Membro da Assembleia de Deus de Madureira, o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP) disse que já vê Kássio Marques como “cristão, católico e conservador”.

— Não estamos tristes com a indicação. E creio que será alinhado na defesa da pauta de costumes — afirmou.

Líder da Assembleia de Deus, em Belém, no Pará, o pastor Samuel Câmara afirma que respeita a escolha do presidente, mas admite que fica com o “pé atrás” sobre a promessa de um ministro evangélico em 2021.

— Ele (Bolsonaro) usa essas palavras para manter viva a esperança de um grupo e tentar diminuir a pressão. Mas ao mesmo tempo levanta dúvidas se vai acontecer — afirmou Câmara.