Alterações

Reforma administrativa do Governo de Goiás tem intuito eleitoreiro, dizem cientistas políticos

Professor afirma que há contradição entre “modernização” e convocação de Irapuã Costa. Colegas reforçam pretensões eleitorais acima de “novo dinamismo” para gestão

“Modernização e continuidade dos trabalhos” tem sido o mote da reforma administrativa executada pelo Governo do Estado. De acordo com o próprio vice e aspirante a governador José Eliton, as alterações são uma tentativa de trazer novas dinâmicas à gestão, sem que isso signifique ruptura com os trabalhos até então realizados. As alterações ocorrem, entretanto, em ano de eleições e segundo, cientistas políticos, podem carregar outros significados.

Para o cientista político, pesquisador em sociologia política e professor da Universidade Federal de Goiás Célio Alves Borges, a indicação de Irapuã Costa Júnior contradiz a intenção declarada de modernização do estado.

“Irapuã não é modernização, é retrocesso. É um homem da ditadura que, até mês passado, fez declarações simpáticas às bandeiras de Bolsonaro, as quais significam aumento da violência e intolerância. Não sei onde o José Eliton está com a cabeça, mas à primeira vista isso não representa modernização”, observa.

De um ponto de vista generalista, o cientista político Itami Campos ressaslta que a simples troca de nomes não revela, em si, modernização. A movimentação, segundo ele, pode fazer parte de um jogo de acomodação de forças políticas na administração do estado em ano eleitoral.

Eleições

“Há uma preocupação no ajuste, mas só alteração dos nomes não indica modernização. O que nos daria essa pista seriam projetos de dinamização da máquina, ações a nível de desburocratização, por exemplo. Não se sabe o conteúdo dessas modificações”.

Para ele, as trocas representam componentes à candidatura do novo governador. “Com isso, partidos estão se mobilizando. Sinalizam mais arranjos eleitorais do que modernização, por enquanto”, analisa.

Casamento

O professor de Ciência Política da UFG, Robson Almeida, também reforça o caráter eleitoral das alterações, acima da intenção de modernização. “Secretários que pretendem se candidatar devem sair. Há um prazo de compatibilização. Claro que tem uma intenção eleitoral. Existe a questão do calendário das eleições. Isso não é puramente para tornar a gestão mais moderna”.

Por outro lado, explica, as alterações nos nomes também têm que atender interesses de aliados no governo, dos partidos da base, que compõem o governo na Assembleia Legislativa, então tem um componente político-partidário aí também”, revela.

Para o professor, o mote de modernização beneficia o governo num contexto em que José Eliton e Marconi exalam pretensões eleitorais, ao governo e ao Senado, respectivamente.

Dar às alterações a imagem de que os membros da administração superior atendem critérios de competência administrativa além de possuírem perfis abertos à modernização, ele transmite essa ideia a todo o governo dele, que pode acabar gerando repercussões positivas para as pretenções eleitorais de Marconi e José Eliton. Então, mesmo que seja um real compromisso com a modernização, isso não se divorcia do interesse eleitoral. Os dois, na verdade, se casam”.