FIGURINHA CARIMBADA

Relembre o que levou a Enel a ser ‘expulsa’ de Goiás

Companhia italiana tem enfrentado críticas e reclamações em São Paulo

Parece filme repetido, mas a crise energética que assola São Paulo e o apagão que durou mais de 24 horas azedou de vez a relação entre a Enel Energia e o Governo de São Paulo, a ponto de unificar entes municipais, estadual e até o Governo Lula contra a companhia italiana que agora os ameaçam de expulsão. Entre 2018 e 2022, entretanto, Goiás viu crises semelhantes que promoveram a deterioração no relacionamento da companhia com o governador Ronaldo Caiado (UB). 

O resultado foi a substituição da empresa pela Equatorial Energia, que assumiu os espólios da italiana em janeiro de 2023. A crise energética que se abateu sobre Goiás durante os anos de atuação da Enel no estado tornou-se um capítulo marcante e negativo para consumidores, produtores e autoridades. Entre 2018 e 2022, a empresa italiana, responsável pela distribuição de energia, foi alvo de constantes críticas devido à má qualidade do serviço prestado, levando à perda de confiança do governo estadual e de uma ampla parcela da população.

Os problemas com o fornecimento de energia começaram a escalar logo após a aquisição da Celg D pela Enel, em 2017. A promessa era de modernização da rede, melhora na qualidade do serviço e aumento da capacidade de atendimento, sobretudo nas áreas rurais, que demandavam maior atenção. A realidade, entretanto, foi bem diferente. No interior de Goiás, produtores rurais enfrentaram uma sucessão de apagões que causaram enormes prejuízos, principalmente em setores dependentes de refrigeração, como a produção de leite.

Em um dos casos mais emblemáticos, produtores da cidade de Palmeiras de Goiás, em 2021, despejaram leite estragado em frente à sede da Enel como forma de protesto, depois de perderem toda a produção devido à falta de energia. Situações similares se repetiram em outras regiões, com relatos de perda de alimentos e até impossibilidade de manter a irrigação em fazendas, comprometendo plantações inteiras. 

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que desde o início de sua gestão, em 2019, já demonstrava insatisfação com o serviço, intensificou as críticas à Enel ao longo de seu mandato. Ele chegou a ameaçar, em diversas ocasiões, cancelar a concessão da empresa. “A Enel não respeita o povo goiano”, afirmou o governador em 2020, enfatizando a precariedade dos serviços de manutenção da rede elétrica e a falta de planejamento para enfrentar situações de emergência, como tempestades e quedas de energia prolongadas .

A demora para o restabelecimento da energia após quedas se tornou um dos pontos mais críticos. Em algumas áreas, como Piracanjuba, produtores chegaram a contabilizar prejuízos incalculáveis após ficarem até nove dias sem eletricidade . As perdas financeiras, tanto para pequenos produtores quanto para grandes empresários, criaram uma onda de insatisfação e protestos em várias cidades do estado. Uma CPI chegou a ser aberta na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego), para investigar eventuais irregularidades na prestação do serviço.

A sucessão de apagões e a falha na prestação de serviços culminaram na saida da empresa de Goiás, que enfrentou forte pressão por parte do governador Ronaldo Caiado de intensificar a fiscalização e, eventualmente, buscar uma solução para substituir a Enel. A empresa tentou reagir, anunciando investimentos e obras para melhorar a infraestrutura, mas para muitos, essas ações vieram tarde demais.

Em 2022, após inúmeros embates e sob forte pressão popular, aconteceu o que parcela significativa dos goianos e o próprio Caiado tanto queriam: a negociação da Enel com a Equatorial, que apesar de não apresentar os melhores índices nos rankings de fornecimento de energia, era visto como uma esperança de dias melhores. A empresa brasileira assumiu o controle da concessão em janeiro de 2023.