POLARIZAÇÃO

Rivalidade entre Marconi e Iris modificou política goiana

Derrota do emedebista na eleição de 1998 afetou a dinâmica no Estado desde então

Rivalidade entre Marconi Perillo e Iris Rezende modificou política goiana (Foto: Governo de Goiás - Divulgação)

A rivalidade entre Iris Rezende (MDB) e Marconi Perillo (PSDB), a partir do final da década de 1990, se tornou uma das maiores disputas políticas em Goiás naquele momento, quando o embate, então, se dava entre Antônio Caiado e Pedro Ludovico Teixeira. A derrota do emedebista na eleição de 1998 afetou a dinâmica no Estado desde então.

Naquela eleição de 1998 nasceu a rivalidade entre Iris e Marconi. Surgiu como um acontecimento abrupto, já que o emedebista era franco favorito. O tucano apareceu com uma campanha pautada na renovação política e a imagem da panelinha colou, o que fez com que Iris perdesse a dianteira já no primeiro turno e fosse derrotado no segundo.

A partir de então, Iris precisou se reinventar, já que na eleição seguinte (ao Senado), também foi derrotado pelo grupo político ligado a Marconi Perillo, com Lúcia Vânia (PSDB) e Demóstenes Torres (PFL) sendo alçados ao Congresso Nacional.

Nova dinâmica política em Goiás

O cientista político Guilherme Carvalho diz que Iris Rezende àquela altura já havia ocupado cargos de envergadura nacional, como ministro da Agricultura no governo Sarney e Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso. Assim, ele já havia consolidado sua marca em termos de figura política. No entanto, não havia polarização em Goiás, sem ideias dissonantes das representadas pelo emedebista, nem alternativas de grupos políticos.

A partir da vitória de Marconi, em 1998, emergem novos atores que aparecem para disputar os espaços com Iris e seu grupo. Acaba surgindo uma nova estratégia para o grupo irista e para o MDB em geral. Ou seja, o investimento nas gestões municipais.

“As gestões do Marconi, especialmente as duas primeiras, foram bem avaliadas. Isso acabou criando uma série de problemas para a recolocação do MDB e de Iris à frente do governo do Estado. No entanto, nas eleições municipais o partido sempre foi vitorioso”, avalia o cientista político.

MDB volta para os municípios

Assim, a partir da nova dinâmica estabelecida a partir da rivalidade com Marconi Perillo, o MDB se volta para os municípios, onde mostra força. Iris e o partido se reinventam com as marcas de políticas públicas de habitação e expansão metropolitana.

“Há um deslocamento da estratégia. Temos um grupo político comandando o Estado e outro comandando as alianças e estrutura nos municípios. Isso fez com que a qualidade da democracia em Goiás melhorasse, já que havia projetos antagônicos para que o eleitor comparasse”, salienta o cientista político.

Em 2010, Iris disputou novamente contra o tucano para governo do Estado, mas perdeu. O emedebista, inclusive, chegou a dizer que a saída da prefeitura de Goiânia para a eleição estadual foi um dos seus maiores arrependimentos políticos. Tanto que, na eleição de 2014, seu mote era de fazer sua melhor gestão na capital.

“O MDB não saiu vitorioso ao governo do Estado, mas sempre havia o que mostrar em termos municipais. Isso criou uma polarização sadia para a democracia em Goiás que, hoje, infelizmente, foi desconfigurada com a morte de Iris”, salienta.

Últimos embates

Essa rivalidade durou bastante. Já nos estertores da gestão, em 2020, Iris atribuiu a intervenção de Marconi no transporte coletivo da capital ao integrar o sistema de região metropolitana em 2005, aos problemas recorrentes de mobilidade na cidade.

“Ele queria conquistar a Região Metropolitana para me esmagar”, disse. “Ele chama todos os prefeitos e cria o sistema metropolitano de transportes. Isso que está aí se deve a ele, que prostituiu o sistema de transportes de Goiânia”, criticou à época.

Marconi rebateu as críticas dizendo que Iris não “teve coragem de discutir o assunto de frente”.

Morte de Iris

Iris Rezende Machado morreu aos 87 anos, depois 3 meses meses internado para tratar de um AVC. O ex-governador e ex-prefeito faleceu no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, na madrugada desta terça-feira (9). Iris estava em tratamento desde o último 6 de agosto. No sábado (6), foi submetido a mais um procedimento de intubação para tratar uma forte infecção.

O corpo será velado no Palácio das Esmeraldas. O sepultamento será no cemitério Santana, em Goiânia, e está previsto para às 17h. O cacique emedebista completaria 88 anos no próximo 22 de dezembro.

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