Sabrina Garcez: “político não existe para ser bajulado”
Uma campanha eleitoral já é bastante difícil. Para vereador a disputa costuma ser voto a…
Uma campanha eleitoral já é bastante difícil. Para vereador a disputa costuma ser voto a voto. O processo deste ano conta com o agravante da pandemia do novo coronavírus, em que não se poderá fazer muitas atividades da política tradicional como caminhadas e carretadas, por exemplo, o que vai exigir bastante dos candidatos. A vereadora Sabrina Garcez (PSD) avalia que os desafios são grandes. Além disso, a parlamentar entende que haverá uma renovação na política, com a juventude se engajando mais na política.
Em entrevista ao Mais Goiás, a vereadora analisa o processo eleitoral 2020 e além disso, ela destaca as ações desenvolvidas ao longo do mandato na Câmara Municipal. Sabrina preside a Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), desde o início da legislatura. A CCJ é a principal comissão do Legislativo Goianiense. A parlamentar se apresenta como uma vereadora de consenso e entende que faz uma oposição responsável a atual gestão municipal.
Leia a entrevista:
Mais Goiás: Falando sobre campanha eleitoral, com essa pandemia, a forma de fazer campanha vai mudar? O que a senhora espera?
Sabrina Garcez: É uma campanha diferente. Primeiro que será sem grandes reuniões, sem grandes aglomerações, será mais virtual, mas parte da população não tem acesso à internet ou com dificuldades de acesso. Principalmente nos lugares mais afastados, os políticos precisam chegar e chegarão de forma individual, por meio de um amigo, de um familiar, porque a carreata, a caminhada não vai existir. É a eleição do networking, dos contatos. Se torna um desafio maior, porque exige mais comprometimento, mais presença. Para mim, que já trago esse tipo de política, será uma continuidade.
Mais Goiás: Na última eleição houve uma grande renovação na Câmara Municipal. O que a senhora espera para este próximo pleito?
Sabrina Garcez: Eu acredito que são experiências diferentes. Por exemplo, a gente percebeu de alguns anos para cá, um ativismo judicial com juízes novos, promotores novos, nós temos uma juventude atuando em diversas áreas. Na área da economia há muitas pessoas jovens nas grandes empresas. Essa renovação tem que vir para a política, é uma tendência na minha geração e na geração seguinte. Há uma preocupação do bem estar social, da coletividade e isso deve prevalecer daqui pra frente. As pessoas estão ligadas a algo que realmente gostam e isso estará sim refletindo no parlamento e pode haver uma renovação.
Mais Goiás: Porque a decisão de ser oposição a atual gestão? Qual a sua análise neste mandato?
Sabrina Garcez: Na verdade não foi uma oposição desde o primeiro momento. Nos primeiros meses eu frequentava muito o Paço, estive com o prefeito, com o secretário de Governo na época, na eleição da Mesa Diretora, estive num grupo que apoiou um candidato do próprio prefeito Iris, o ex-presidente (Andrey Azeredo). O que percebi, porque na atuação parlamentar eu sempre estive nas ruas conversando com as pessoas, ouvindo, e desde o primeiro momento, eu sempre percebi uma insatisfação por parte da população principalmente em relação a Educação e Saúde no Município. Começamos a levar isso para a prefeitura, não tínhamos uma resposta satisfatória, tentamos fazer esse caminho mais administrativo várias vezes e nunca tivemos uma ressonância no Paço Municipal e a partir disso foi preciso expor a população, o que as ruas estavam dizendo, que a Saúde não está bem, a Educação não está bem. A gente estava com um problema que agora começa a ser corrigido que é da malha viária, que estava horrível o asfalto com trepidações, buracos, tivemos um problema sério em relação a isso e uma falta de planejamento do prefeito. Logo no início houve um problema relativo a servidores com a Reforma do IPSM, um momento de muita atenção. A gente percebe que a prefeitura não está disposta a dialogar, a rever posicionamentos, a não ser com muita pressão.
Mais Goiás: É muito comum no legislativo em resultados de votações, parlamentares ficarem elogiando, prefeito e os próprios pares. Recentemente a senhora fez uma crítica muito dura a esse tipo de colocação durante a votação do projeto que concedeu auxílio aos temporários da Educação. Qual o motivo da crítica?
Sabrina Garcez: Eu vim do Direito, estudei muito o Direito Constitucional. Há uma cultura brasileira de que o político ou qualquer tipo de ação pública é um favor que nós políticos estamos fazendo para a população. Eu não encaro assim. Eu estou na política por entender que sou uma servidora e escolhi efetivamente servir a população. Acho que não mereço parabéns por isso, acho que é minha obrigação. Se eu não quisesse estar aqui era só não me candidatar. Quem está à frente de um cargo público não pode esperar esse tipo de reconhecimento. É importante o reconhecimento do trabalho, mas não essa bajulação por fazer o seu trabalho. Cabe julgamento se suas ações foram ou não bem feitas. Essa é uma postura minha de lidar com meu mandato assim de estar aqui por entender que é meu espaço de atuação e de usar a política como instrumento de transformação.
Mais Goiás: A senhora não é da base, mas se apresenta como uma oposição responsável. Qual fator político que colaborou para o desenvolvimento do seu mandato?
Sabrina Garcez: A gente percebe na política que nunca fui dos extremos. Eu busco sempre o consenso e o diálogo, acho que até pela minha formação de advogada. Acho que um bom diálogo é melhor do que uma boa briga. Infelizmente quando a gente não encontra espaço para o diálogo, a gente tem que ir para à pressão, porque também é uma função da casa legislativa fazer esse tipo de pressão política, pra mim o caminho é sempre de buscar consenso primeiro e o que não for aí sim a gente disputa. O que eu vejo na política é que muita gente se apega a coisas não consensuais e aquilo que é consensual não anda. Quem sai prejudicada é a população.
Mais Goiás: A senhora buscou esse consenso na CCJ?
Sabrina Garcez: A CCJ é uma comissão que nas duas gestões a oposição sempre teve maioria, poderíamos ter feito uma oposição “burra” e ter travado a administração na cidade. Não fizemos isso, mesmo entendendo que iríamos enfrentar o prefeito. O nosso posicionamento sempre foi de levar à frente o que a cidade precisa, o que a população precisa, independente dos nosso projetos individuais. Eu contei sempre com o apoio de todos os vereadores, sempre nos reunimos, tivemos dois grandes projetos que foi o Código Tributário e o Plano Diretor e saímos da CCJ com um consenso. Fico feliz pois é uma comissão importante e o trabalho fluiu.
Mais Goiás: O que a presidência da CCJ representou no seu mandato?
Sabrina Garcez: Eu entrei aqui e muitas pessoas tinha uma expectativa de fazer política de forma semelhante ao da minha mãe (Cida Garcez) que tinha acabado de sair da Câmara. Eu vim com uma história diferente, com uma formação diferente. Não existe uma comparação de um mandato e outro, são distintos, os perfis são diferentes. Eu vim do movimento estudantil, do Direito, essas questões técnica sempre foram afloradas para mim. Eu sempre tive a curiosidade de pegar um projeto, estudar e entender. Isso facilitou e as pessoas entenderam que eu estava aqui não para replicar o que já havia sido feito anos atrás, mas para criar uma nova identidade. A CCJ deu visibilidade, e muitas pessoas se surpreenderam com uma atuação mais técnica, jurídica.
Mais Goiás: O histórico familiar, sua mãe (Cida Garcez), seu tio (Vladmir Garcez) já estiveram na Câmara, isso facilitou seu trabalho de alguma forma?
Sabrina Garcez: Claro! Até pela vivência histórica. Minha mãe sempre me levava para os eventos políticos, ouvia as conversas em casa, estava em congressos, na campanha via como pedir votos. Todo esse capital e até a forma de disputar eleição é difícil para uma candidatura iniciante e isso foi fundamental para mim, a estratégia política e isso pesou sim, sendo um facilitador.