Saída de Mandetta ‘não é apropriada’, diz governador de Roraima, alinhado ao presidente
Um dos únicos governadores aliados ao presidente Jair Bolsonaro, Antonio Denarium(PSL), chefe do Executivo em…
Um dos únicos governadores aliados ao presidente Jair Bolsonaro, Antonio Denarium(PSL), chefe do Executivo em Roraima, afirmou em entrevista ao GLOBO que a saída do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio ao combate à pandemia do novo coronavírus, não é “saudável” e “apropriada”, mas defendeu a escolha do cardiologista Nelson Teich. Denarium diz que é hora de “harmonia, conversa e pacificação” e que a saída do ministro no meio da partida pode fazer o time perder “velocidade e ritmo”.
O governador, no entanto, minimizou a troca de Mandetta por Teich, que, segundo ele, tem um perfil “mais técnico”. Denarium é um fiel apoiador de Bolsonaro desde a campanha eleitoral de 2018. Segundo ele, as declarações recentes do presidente por uma flexibilização no isolamento social demonstram a sua preocupação com a situação econômica do país e seus desdobramentos.
Como o senhor vê a saída do ministro Mandetta e a troca de comando no ministério da Saúde. O momento é apropriado?
Este deve ser um momento de harmonia, conversa e pacificação. Não é momento de briga e conflitos. Eu acho que o momento não é apropriado para a mudança. Tenho um excelente relacionamento com o ministro Mandetta, e ele tentou da maneira dele conduzir da melhor maneira possível.
Quando há uma mudança no meio da partida, digamos assim, não é bom. Muitas vezes o time não continua na mesma velocidade, no mesmo ritmo. Às vezes, pode melhorar. Mas não acho saudável a mudança do ministro da saúde. Agora, é uma situação difícil porque é uma decisão do Palácio do Planalto. Como todos sabem existia um desgaste muito entre o presidente e Mandetta, além de um desgaste político recente com o Congresso. O Mandetta foi uma escolha política.
O cardiologista Nelson Teich foi nomeado para assumir a pasta. Qual deve ser a linha de trabalho dele?
O novo ministro é puramente técnico. É médico e empresário e foi cotado na época em que o Mandetta foi escolhido. Acredito que pode ter uma mudança na forma da gestão. Em algumas videoconferências antes de tomar posse, como médico e profissional da saúde, defendeu algumas situações de isolamento total. Mas à medida que o tempo foi passando, autoridades em diferentes partes do mundo foram alterando procedimentos. Os EUA, a Itália e a Espanha, por exemplo. O Brasil precisa fazer um planejamento para voltar às atividades e o país não quebrar.
Em Roraima, fizemos um controle externo, de fronteira, de restrição de ônibus vindos do Amazonas. Agora é necessário um controle interno. Pessoas com mais de 60 anos devem ficar em casa, as escolas paralisadas e o governo orientando para só sair em casos necessários. Mas há um grupo de pessoas em idade produtiva, como você, como eu, que trabalho 16 horas por dia. Temos que nos prevenir e saber que o vírus é de alta contaminação, mas temos que começar a produzir.
Em Roraima, o senhor pretende flexibilizar as medidas de isolamento social?
Em SP, o primeiro caso foi no dia 25 de fevereiro. Já o nosso foi no dia 21 de março. Antes do primeiro caso nós já tomamos algumas atitudes, como suspensão de aulas, de visitas em hospitais e presídios, paralisação do transporte intermunicipal. Solicitamos ao presidente Bolsonaro e ao ministro Moro o fechamento da fronteira com a Venezuela e a Guiana.
Hoje temos 166 casos confirmados e três mortes em menos de um mês. Colocamos barreira sanitária em Pacaraima, na divisa com a Venezuela, e em Bonfim, na divisa com a Guiana e na divisa entre Amazonas e Roraima. Os casos vão ocorrer. Sete militares que estão atuando na Operação Acolhida, em Pacaraima, foram contaminados, mas estamos nos preparando.
Há uma pressão muito grande do setor empresarial, dos empresários de ônibus, donos de restaurantes que estão passando por uma situação difícil, músicos, todos pedindo para que o comércio seja reaberto. É uma tendência natural ter que liberar o comércio.
Quando isso deve ocorrer?
Vou fazer uma reunião na segunda-feira com os nossos secretários para avaliar a possibilidade de flexibilizar alguns setores a partir do dia 22. Vou avaliar. O serviço público está funcionando os serviços essenciais. A educação esta funcionando com aulas na internet e nas comunidades indígenas por apostilamento.
Como garantir que os indígenas e refugiados não ficarão expostos à contaminação?
Uma das coisas preocupantes que temos é a situação da população vulnerável. Vivem aqui em Roraima cerca de 100 mil venezuelanos e 100 mil indígenas. A comunidade indígena, por exemplo, tem problemas de desnutrição. Se entra o coronavírus em comunidades indígenas não sabemos os resultados que podem acontecer. Temos 13 acampamentos de refugiados: 11 em Roraima e dois na fronteira. Cada abrigo tem cerca de 400 a 600 pessoas. Estamos monitorando esses locais.
E estamos tendo ocupações ilegais de venezuelanos em prédios públicos, sem nenhuma infraestrutura. Se o corona entra ali também será um estrago no nosso estado. Repassamos nossa preocupação ao Ministério da Saúde, para a ministra Damare, que esteve aqui com o presidente da Funai. Ainda não tivemos nenhum venezuelano contaminado, mas um dos três óbitos que tivemos no estado, era um adolescente indígena de 15 anos. Essa população tem mais dependência e precisa do governo.
O senhor fala da necessidade de diálogo e equilíbrio entre Bolsonaro e os demais chefes de Poderes. Após as declarações do presidente sobre a atuação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), isso é viável, neste momento?
Na entrevista, o presidente não concorda com o presidente da Câmara em diversos assuntos, mas ele também se colocou à disposição ao diálogo. Ele não concorda com o que o Congresso fez (aprovação do projeto que prevê o repasse de R$89 bilhões a estados e municípios), que vai colocar um endividamento na Nação, mas ele se colocou para o diálogo. É muito importante que ele converse com o Maia e com o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, porque sabemos que para passar alguma matéria é necessário maioria.
Se não tiver dinheiro você vai morrer por algum motivo, de fome ou doente. A nossa taxa de desemprego vai dobrar. E as pessoas vão viver de que. O país vai passar por uma situação econômica muito difícil e a retomada será complicada.
Bolsonaro também está tendo atritos com os governadores. Como garantir unidade nas ações?
Não é momento de briga e conflitos. O conflito não melhora em nada a vida de ninguém. Estamos vendo governadores e o governo federal em conflito, num momento em que deveríamos estar unidos pela vida e pela saúde, lógico tentando encontrar caminhos para que o governo auxilie os estados.
O governo abriu crédito para micro e pequenas empresas, suspendeu pagamento de impostos. Estamos vivendo um impasse sobre o ICMS, queda na arrecadação e a recomposição por parte do governo federal. Eu tenho um excelente relacionamento com todos os governadores, independente de ideologia politica. Agora, sou aliado do presidente Bolsonaro.
Defendo tirar de circulação as pessoas dos grupos de risco, mas as pessoas que estão na idade economicamente ativa precisam trabalhar. Eu fico preocupado com os que mais precisam, como os informais. Quem tem carteira assinada e está em casa, não está preocupado. E aquela diarista…