Sem expectativa de que Wizard deponha, CPI espera ouvir auditor do TCU
O empresário bolsonarista conseguiu junto ao STF o direito de ficar em silêncio durante o depoimento
Embora o empresário Carlos Wizard tenha sido convocado para depor nesta quarta-feira na CPI da Covid, a expectativa dos membros da comissão é que ele não compareça ao Senado nem fale aos parlamentares virtualmente.
Na noite de ontem, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), concedeu a Wizard o direito de ficar em silêncio e não produzir provas contra si no depoimento. Também decidiu que a CPI não pode adotar medidas restritivas de direitos ou privativas de liberdade contra Wizard.
O empresário afirmou na terça-feira ao STF que está nos Estados Unidos — ele havia pedido que a audiência ocorresse por videoconferência, o que foi negado pela Comissão Parlamentar de Inquérito, que também aprovou a quebra dos sigilos telefônico, fiscal e bancário do empresário. Além disso, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou existir a possibilidade de ser pedida a condução coercitiva de Wizard.
A reportagem não conseguiu localizar o empresário nem seu advogado. Wizard é apontado como membro do chamado “gabinete paralelo”, que teria aconselhado o governo, à margem do Ministério da Saúde, em defesa do uso de remédios sem eficácia comprovada contra a covid-19 e de teorias como a da imunidade de rebanho.
Auditor afastado do TCU
Assim, o único a ser ouvido pela CPI hoje deve ser o auditor do TCU (Tribunal de Contas da União) Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques, que segundo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), confirmou sua ida à comissão. Ontem o ministro do STF Gilmar Mendes concedeu ao auditor o direito de ficar em silêncio durante depoimento.
Alexandre Marques é apontado como o responsável pela elaboração de um relatório paralelo no qual afirma que, “teoricamente”, pelo menos 55 mil mortes atribuídas ao coronavírus foram causadas por outras doenças em 2020.
O documento foi produzido em 6 de junho, segundo as propriedades do arquivo digital, e levou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a dar declarações falsas no dia seguinte sobre o assunto.
Alexandre Marques tem proximidade com a família do presidente Jair Bolsonaro, especialmente com os três filhos mais velhos: o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). O pai do auditor também é amigo de Bolsonaro.
A convocação do servidor foi aprovada pela CPI no último dia 9, a pedido do senador Humberto Costa (PT-PE). Os parlamentares querem entender a circunstância do estudo elaborado, desautorizado pelo próprio tribunal.
Atualmente, Alexandre Marques está impedido de acessar o sistema de comunicação do TCU e sem login de acesso aos demais aplicativos do órgão que permitiriam que ele trabalhasse à distância. Morador de Jundiaí (SP), também foi impedido de entrar nas dependências do TCU, em Brasília. O tribunal abriu um processo administrativo contra ele, afastou-o da função de supervisor por 60 dias e pediu um inquérito à Polícia Federal.