STF não vai permitir que big techs sejam palco para discursos de ódio, diz Moraes
Minisro Alexandre de Moraes, do STF, afirma que redes sociais só vão operar no Brasil se aceitarem seguir a legislação brasileira
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta quarta-feira (8) que a corte não vai permitir que as big techs sejam instrumentalizadas para discursos de ódio. O magistrado disse ainda que essas empresas também não poderão atuar em colaboração com grupos extremistas.
“No Brasil, só continuarão a operar se respeitarem a legislação brasileira. Independentemente de bravatas de dirigentes de big techs”, disse.
Nesta terça-feira (7), o CEO da Meta, dona do WhatsApp, Instagram e Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou mudanças na empresa com o fim do modelo de checagem de fatos. Na mesma fala, sem citar países específicos, atacou os judiciários da América Latina, aos quais chamou de secretos.
A declaração do ministro foi dada em uma roda de conversa feita no Supremo como parte da agenda para memória dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
O evento teve a presença de ministros e servidores que atuaram para a contenção dos invasores, limpeza dos prédios e restauração de obras. O edifício-sede do tribunal foi um dos mais atingidos pela depredação.
Moraes afirmou que a causa desses eventos está evidente nas redes sociais. Neste momento, ele voltou a defender a regulamentação das plataformas como meio de proteger a democracia e impedir a repetição de atos como os de 2023.
“Tudo isso surgiu a partir do momento que extremistas de direita se apoderaram das redes sociais para por elas, ou com elas, instrumentalizarem a democracia. O que fazem é corroer a democracia por dentro, fingindo que acreditam na liberdade, na democracia, querem voltar à lei do mais forte”, disse o ministro.
“Contra o direito das minorias, das mulheres, dos negros. Não por outros motivos esses discursos racistas, misóginos, fascistas voltaram”, disse. “É essa a liberdade que defendem. E é esse hoje o desafio”, completou.
Moraes, que é relator dos inquéritos derivados das investigações sobre a trama golpista, também fez uma retrospectiva de vários atos que antecederam o 8 de janeiro de 2023 e indicaram uma propensão aos ataques.
“Um dia apoia o segundo turno tivemos, insuflado pelas redes sociais por grupos golpistas, manifestações de caminhões obstruindo as rodovias. A PRF [polícia rodoviária] novamente fazendo corpo mole. Houve a necessidade de este Supremo dar decisão. Todo um cronograma golpista”, disse.
Servidores da segurança do STF rebateram declarações de apoiadores dos invasores e afirmam que não é possível dizer que os extremistas eram trabalhadores, donas de casa. Ao contrário, relataram terem encontrado pessoas preparadas para o combate, com armas e mobilização para a destruição.
O 8 de janeiro ficou marcada com um dos maiores ataques à democracia —o STF já condenou 375 réus pelos atos, que resultaram na denúncia de 1.682 envolvidos. A cerimônia no Planalto, da qual Moraes também participou, teve a presença de petistas, ministros do STF e comandantes das Forças Armadas.
Como a Folha mostrou, havia expectativa de esvaziamento político, com a maior presença de parlamentares de esquerda, o que se confirmou. A cúpula do Congresso, no entanto, esteve ausente.
Faltaram os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), bem como os possíveis sucessores nos cargos, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP).
Estiveram presentes os deputados Zeca Dirceu (PT-PR) e Lindbergh Faria (PT-RJ) e os senadores Jaques Wagner (PT-BA) e Eliziane Gama (PSD-MA), entre outros.
Após o evento, Lula participou de ato de partidos de esquerda e movimentos sociais na praça dos Três Poderes, com um abraço simbólico ao local. Ele desceu a rampa com as demais autoridades.