Temer já costura transição com Bolsonaro
Antes mesmo do segundo turno, auxiliares do presidente e da campanha de capitão da reserva iniciam troca de informações para sucessão
A uma semana do segundo turno, a equipe do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro , já ensaia os primeiros passos para a transição de governo. Embora evite falar a respeito do cenário pós-eleitoral, o coordenador político Onyx Lorenzoni (DEM-RS), anunciado como futuro chefe da Casa Civil caso Bolsonaro seja eleito, pretende estar em Brasília no dia 31 de outubro para tratar do assunto.
Por outro lado, o presidente Michel Temer designou o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) como interlocutor para discutir a troca de comando no Planalto. E afirmou que pretende estabelecer uma “transição muito tranquila” com o sucessor.
Em um vídeo gravado ontem, em uma reunião com ministros para discutir a sucessão, Temer afirmou que, a partir de hoje, Padilha fará reuniões periódicas para dar forma final a um documento que será entregue ao novo presidente. Será disponibilizada à nova equipe uma versão digital com todos os números e balanços importantes de cada área do governo, e uma versão impressa, em formato reduzido, que Temer deverá entregar pessoalmente a seu sucessor.
Os grupos de trabalho da campanha de Bolsonaro já têm recebido diversas colaborações de integrantes do governo. Dois dos coordenadores de áreas já atuam no Executivo. Marcos Cintra preside a estatal Financiadora de Estudos e Projetos, ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Adolfo Sachisida é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
As equipes também têm encontrado as portas abertas em diversos órgãos. Quadros do corpo técnico do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) cooperam com o grupo liderado por generais da reserva, na expectativa de terem mais espaço em um futuro governo.
Há também movimentos de políticos na mesma direção. O ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, e o presidente do Sebrae, Guilherme Afif Domingos, ambos do PSD, jantaram dias atrás com Onyx Lorenzoni. O ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) também já conversou sobre a área com o coordenador político de Bolsonaro, que mantém a cautela.
— Não, eu não falo em transição. Nós temos que manter o foco e humildade. Nossa equipe é humilde para manter o foco. Nós estamos olhando para o domingo. Depois, de segunda a terça feira a gente começa a falar em transição autorizados por eles, ó (aponta os manifestantes nas rua), que é quem importa: a população brasileira — disse Lorenzoni.
O gabinete de transição será instalado no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, em um espaço que estava vazio. A área reservada para a transição governamental tem 2.500 metros quadrados, mais de 20 salas, além do gabinete presidencial, e capacidade para receber 250 pessoas.
As obras no local duraram cerca de dois meses. O espaço e os móveis foram fornecidos pelo Banco do Brasil, que cederá o local para o governo e, portanto, não irá cobrar aluguel. Haverá, no entanto, rateio das contas de luz e água enquanto durar o processo.
Por lei, a equipe de transição é composta por 50 pessoas a serem escolhidas pelo novo presidente da República. Os chamados Cargos Especiais de Transição Governamental (CETG) são criados no segundo dia útil depois da eleição e devem ser dissolvidos em até dez dias após a posse do novo presidente, quando obrigatoriamente todos esses integrantes são exonerados.
Aliados dizem que, se eleito, Bolsonaro quer ir a Brasília fazer a transição. A partir de 12 de dezembro, ele poderá fazer a cirurgia de reversão da colostomia, necessária após a facada que o candidato recebeu em 6 de setembro.
O cirurgião Antonio Luiz Macedo, chefe da equipe médica que cuida do candidato, afirmou que a recuperação é de cerca de duas semanas. Caberá ao próprio Bolsonaro a decisão sobre operar antes ou depois da posse, caso ele vença a disputa.