Eleições Municipais

“Temos que avançar em um novo conceito administrativo com a participação das pessoas”, defende Bittencourt

Pré-candidato à prefeitura pelo PTB explica, em entrevista ao Mais Goiás, os motivos que o levaram de volta às disputas eleitorais

Luiz Bittencourt (PTB) ficou dez anos afastado do mundo das eleições, onde teve uma vida prolífica. Foi deputado estadual, deputado federal, presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), além de secretário do governo estadual. Mas mesmo com esse currículo não obteve sucesso em duas empreitadas na disputa pela Prefeitura de Goiânia: uma em 1992, quando foi derrotado por Darci Accorsi (PT), e outra em 1996 quando perdeu para no segundo turno para Nion Albernaz (PMDB).

Quando deixou a vida pública, em 2011, após o fim de seu mandato na Câmara Federal, focou em sua carreira como arquiteto, tendo, inclusive, ajudado a fundar a empresa que carrega seu sobrenome e pela qual trabalha até hoje. Agora, de volta para mais uma tentativa de assumir o Executivo Municipal, ele utiliza como trunfo a experiência que adquiriu na iniciativa privada e ao observar os conchavos políticos do lado de fora. Para o petebista, não há mais espaço para a velha politicagem, marcada pelo fisiologismo e anacronismo, e ele acredita ser a resposta que a população procura.

Mesmo sem alianças definidas e sendo um dos candidatos com os mais baixos índices de intenções de votos nas pesquisas já realizadas, Bittencourt acredita que tem espaço para crescer e obter a preferência do eleitorado, que ainda pouco conhece seu nome e seu trabalho. Se assim acontecer, ele pretende guiar a prefeitura pelos mesmos rumos que ditou na Alego, onde ficou conhecido por ser um dos responsáveis por sua modernização e informatização.

“As redes sociais são uma ferramenta extraordinária de ampliar conhecimento, trocar informações, buscar novas experiências”, garante, frisando sempre a necessidade de uma gestão pública que seja marcada pela transparência e participação popular. Não à toa, sua presença constante e abordagem mais intimista nessas plataformas despertam o interesse de seus seguidores. Assim não é surpresa que uma de suas principais propostas esteja ligada ao uso da tecnologia. “Tenho discutido muito a plataforma tecnológica que nós chamamos de ‘Goiânia Um Milhão de Olhos’, onde o cidadão vai poder tirar foto de um buraco no asfalto, uma calçada quebrada, do bueiro entupido, do prédio público sendo depredado, da lâmpada queimada, e pedir para a prefeitura intervir na solução disso”, explica.

Demonstrando confiança, o pré-candidato faz questão de ressaltar que não está entrando na disputa cogitando a possibilidade de abandoná-la. “Se não fosse assim, não precisava ter entrado. A minha posição fora da política é muito mais confortável do que dentro”, assevera. Confira os principais trechos da entrevista:

O senhor já disputou a prefeitura de Goiânia duas vezes antes, sem sucesso. Por que quis se candidatar novamente?
Eu sou engenheiro, nasci em Goiânia, conheço a cidade sob outra perspectiva. Acompanhei a evolução dos problemas urbanos e sempre trabalhei com planejamento, com gestão. Fui secretário de Ciência e Tecnologia, deputado federal, presidente da Assembleia Legislativa, presidente do Crea [Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás] e disputei a eleição para prefeitura duas vezes porque quis discutir Goiânia no seu âmago, em sua complexidade. Me afastei da política porque fiquei desencantado. As questões que eu levantei seis, dez anos atrás, estão mais afloradas ainda. Corrupção, assistencialismo, demagogia barata, falta de competência, aliancismo de oportunidade, fisiologismo, o modelo político fracassado, anacrônico. Isso tudo já me causava descontentamento e acabei me afastando do debate político por isso. Mas continuei discutindo as questões relacionadas à vida na cidade. Eu acho que o grande desafio do século 21 é a vida na cidade: o morar, o trabalhar, o ir e vir, o lazer, o espaço público. Então me afastei da política, mas continuei discutindo profundamente as questões referentes à vida urbana. Agora me senti motivado quando vi a quatidade de candidatos e a banalização do discurso. O debate sobre a sucessão de Goiânia estava pendendo para o messianismo, o continuismo, o populismo, a demogogia. Então me propus a voltar a discutir Goiânia com conteúdo, sob outro enfoque, para trazer o debate para um foco de proposta, de soluções inteligentes, de reformulação do modelo administrativo, de barrar essa administração populista, fisiológica, que transformou a Prefeitura de Goiânia em uma plataforma político-eleitoral, um projeto pessoal de quem ocupa o cargo. Ao invés de olhar a cidade sob o ponto de vista do cidadão, de olhar os problemas e encontrar solução, quem ocupou o cargo olhou a cidade sob o ponto de vista político-partidário, para disputar uma eleição, ser candidato a governador, participar de uma eleição. Essa é a razão que me motivou voltar a debater política, administração pública, principalmente do ponto de vista da Prefeitura de Goiânia. E no meu partido, o PTB, o presidente, deputado Jovair Arantes, fez um acordo comigo: ele cuidaria da questão política e eu teria liberdade para discutir um projeto técnico, conversar com pessoas preparadas, avançar nas teses de administração eficiente, procurar as melhores pessoas, as melhores cabeças… Enfim, eu discuto hoje o debate eleitoral sob o ponto de vista técnico; o partido, sob o ponto de vista político.

Apesar do PTB ter se afastado em certa medida do governo estadual, o partido ainda está na base do governador Marconi Perillo, que já declarou o seu apoio a Giuseppe Vecci. Como o senhor vê essa situação e como está a sua relação com o governador?
O PTB está na base do governo do Estado, mas ele não determina políticas públicas. Ele não diz o que deve ser feito, não tem espaço político forte, não define as ações que o governo faz no Estado. Nós fizemos aliança eleitoral para dar apoio ao projeto administrativo, e evidentemente na questão municipal, em Goiânia, Anápolis, Rio Verde, Itumbiara, Porangatu, nós temos nossas ações independentes. Então o PTB não é subalterno a nenhum partido político e é contra o continuísmo das administrações negativas, ruins, aquilo que não tem conseguido mudar o perfil da sociedade para melhor. Onde há uma administração ruim, o PTB tem teses para poder renovar o modelo político-administrativo.

Em relação às alianças, qual o seu objetivo e como estão as conversas com outros partidos?
Num primeiro momento nós conversamos com o maior conjunto de forças políticas. Fizemos um esforço muito grande nesse sentido. Mas o Brasil tem hoje 34 legendas registradas no TSE, mais seis com pedido de registro. Então é uma fragmentação ideológica enorme, e a nossa ideia é principalmente nessa questão combater o fisiologismo. Nós vamos discutir aliança do ponto de vista de programa, de doutrina, de projeto administrativo, de eficiência de gestão. Nós estamos conversando. Ainda não conseguimos consolidar nenhuma parceria firme para a eleição, mas temos avançado nesse sentido de ter uma proposta e aglutinar partidos em torno dessa proposta. Mas isso também não angustia o PTB. Nós temos uma linha e estamos caminhando nela. Então é uma eleição diferenciada. Eu tenho dito muito isso: na candidatura Bittencourt, não vou vender minha alma para o diabo. Vamos apresentar proposta, vamos buscar forças políticas para nos apoiarem e vamos avançar na discussão, sem marqueteiro, sem ações midiáticas, sem se transformar em um produto de marketing, que fala o que a população quer ouvir, que engana o eleitor, que mente para ganhar a eleição a qualquer preço. Nós temos uma linha de sinceridade, conteúdo, linha ideológica baseada no planejamento, na gestão eficiente, no planejamento, nas ações concretas. Estamos em uma linha de confronto com o que está aí.

No momento nós passamos por uma crise em diversos aspectos e a sociedade como um todo clama por um novo jeito de fazer política. Em sua opinião, quais são as ações e discursos que farão a diferença nesse contexto?
Sinceridade, independência dos segmentos empresariais e das alianças fisiológicas, capacidade de articular um projeto que possa atrair os setores produtivos e a sociedade como um todo, os movimentos sociais, a sociedade organizada. Ou seja, conversar com clareza no sentido de ter uma administração focada nos problemas da cidade, com planejamento, olhando a cidade do ponto de vista do cidadão, conversando com os comerciantes, o usuário, o cidadão, desburocratizando a prefeitura, simplificando o processo, usando a tecnologia para a interatividade. Por exemplo, eu tenho discutido muito a plataforma tecnológica que nós chamamos de “Goiânia Um Milhão de Olhos”, onde o cidadão vai poder tirar foto de um buraco no asfalto, uma calçada quebrada, do bueiro entupido, do prédio público sendo depredado, da lâmpada queimada, e pedir para a prefeitura intervir na solução disso. Todos os pagamentos disponibilizados na Internet, todas as concorrências disponibilizadas e mostradas com clareza, a governança compartilhada, os movimentos organizadas, os segmentos empresariais, os segmentos da sociedade civil, associações de bairros… enfim, abrir a prefeitura para uma ação transparente, clara de resultados. Simplificar ao máximo a burocracia e avançar nos projetos de inteligência, tornar a cidade ágil. Aumentar a sensação de auto-estima, de pertencimento que as pessoas precisam ter quando moram na cidade.

O seu nome apresentou uma baixa intenção de votos nas duas pesquisas eleitorais publicadas até o momento. Como o senhor espera reverter esse quadro?
Posso ter o menor índice de intenção de votos, mas 75% das pessoas ainda não escolheram candidato. Então quem manifestou até agora, manifestou em função do conhecimento que tem das candidaturas colocadas. Todos que estão aí disputaram eleição recente para prefeito , governador, deputado… Eu tenho dez anos que não disputo eleição, então não estou sintonizado com a população na questão eleitoral. 70% não quer ouvir falar de política, eleição. Estou vindo com outra proposta. Participei de eleições dez anos atrás. Agora estou voltando com outra perspectiva, com minha experiência na vida pública, mas com experiência muito maior na iniciativa privada, no planejamento, no conhecimento das novas tecnologias. Enfim, sob outra perspectiva.

Há alguma possibilidade do senhor desistir da sua candidatura e apoiar outro candidato?
Isso nem passa pela minha cabeça. A ideia é disputar a eleição para prefeito e entrar nesse debate. Se não fosse assim, não precisava ter entrado. A minha posição fora da política é muito mais confortável do que dentro.

O senhor já afirmou que fará uma campanha sem a tradicional figura do marqueteiro. Por que essa opção e como será sua estrutura de campanha?
Não vou contratar o marqueteiro de produto, marqueteiro mentiroso, aquele que forja o candidato, que transforma o candidato num ventríloquo que repete frases de efeito, bordões que são procuradas na pesquisa qualitativa. Vou ter marqueteiro, mas para fazer a marquetagem da sinceridade. Eu não preciso ter ninguém para me ensinar o que eu preciso falar sobre Goiânia, o que penso sobre a forma de governar a cidade, os programas, os projetos. Eu discuti e discuto isso a vida toda. Nasci aqui, conheço a cidade, fui candidato, sei quais são os problemas crônicos da cidade. Sei onde o município deve agir com outras forças políticas e financeiras, então vejo a cidade sob outra perspectiva. Vamos ter um conselho de pessoas que conhecem os problemas, sabem como resolvê-los, as forças políticas que convergem em nosso projeto, que participaram efetivamente da vida pública, que já ocuparam cargo, pessoas da academia, professores, universitários, pessoas dos movimentos organizados. Vamos atrair, construir uma espécie de colegiado, um conselho que vai dar opinião e traçar a direção a ser percorrida.

O senhor tem tido uma relação mais próxima da população por meio das redes sociais. Como tem sido essa experiência e por que escolheu essa abordagem?
Justamente nessa fase que eu fiquei afastado eu me aproximei de outras tecnologias, outras ideias, e as redes sociais são uma ferramenta extraordinária de ampliar conhecimento, trocar informações, buscar novas experiências. Então foi nesse sentido que eu avancei. Procurei renovar deste modo. E também quando você se afasta da política você vê o anacronismo que existe nesse mundinho fechado, das pessoas isoladas, que acham que são o centro de tudo, mas na verdade não são. A política brasileira está sendo feita nos moldes de 30, 40, 50 anos atrás. A estrutura de governança, de ação dos partidos não evoluiu. Nós temos que abrir o controle, a fiscalização, a opinião, a crítica direta, a ação tecnológica, transformar a cidade em uma cidade dinâmica. A governança é nesse sentido, de desmobilizar essa estrutura atrasada e avançar num novo conceito administrativo com a participação das pessoas, com a cobrança diária, a transparência das ações, a sinceridade do governo, a economia rigorosa na aplicação do recurso público. Tudo isso faz parte de um mundo novo que as pessoas têm que enxergar. Essa é a realidade para qualquer estrutura sobreviver hoje, seja ela pública ou privada.

As prefeituras do PT, pelo menos a de Goiânia e da SP, ficaram marcadas pela prioridade do espaço público para o transporte coletivo, em detrimento ao individual (implantação de ciclovias, corredores exclusivos). O senhor também defende essa bandeira? Como espera resolver o problema da mobilidade na capital?
A complexidade da vida na cidade é enorme. É preciso discutir com a população o que é mais importante, o que é prioridade, e a qualidade dos investimentos. Não adianta fazer ciclovia, corredor de ônibus, equipamentos urbanos, praças, parques e escolas de baixa qualidade. Tem que reformular tudo isso. O governo é uma rede entrelaçada de solução de problema em busca de eficiência permanence. A primeira coisa é a cobrança da população. O segundo ponto é ter uma prefeitura disposta a modificar seu comportamento, a mudar toda a ação administrativa para um mundo diferenciado. Esses projetos de sustentabilidade, meio ambiente, ciclovia, espaço verde, combate ao aquecimento global, isso tudo é uma questão que tem que ser vista do ponto de vista de participação do cidadão. Ele tem que ter o sentimento de pertencimento à cidade e que o governo utiliza de forma justa o imposto que ele recolhe. Isso tudo é um conjunto de ações que precisa ser redefinida. Hoje o modelo do PT e do PMDB é um modelo superado. Esse populismo, messianismo barato, essas intervenções sem discutir com a população, a superficialidade da ação… tudo isso é ruim. A mobilidade tem várias questões. Ela tem o caminhar a pé pela calçada, o transporte público, o transporte compartilhado, o táxi, o Uber, a bicicleta, a moto. Isso tudo vem fazer parte de um contexto. Você não pode desenvolver um projeto de ciclovia sem olhar o contexto geral da cidade. Se a ciclovia não tiver rota, não tiver segurança, não tiver proteção, não tiver sinalização, não vai funcionar. Ninguém vai andar nela. O projeto tem que ser concebido dentro de um projeto participativo. A sociedade tem que estar junto. As ciclovias que estão sendo feitas em Goiânia têm essa característica. São ciclovias pensadas para o fim de semana. Você vê as plaquinhas lá: “sábado, domingo”. Então não é uma ciclovia de trabalho, para estudante. É uma ciclovia de lazer. Tem que pensar nisso. Estamos dispostos a gastar uma fortuna para dar lazer a meia dúzia de pessoas, 20 pessoas, cem pessoas, ou estamos dispostos a fazer um sistema complementar de mobilidade e permitir que as pessoas se desloquem nesse sistema? A base da questão é a participação das pessoas e a discussão dos projetos públicos, da prioridade, da importância dos projetos desenvolvidos pelo poder público.